quinta-feira 26 de dezembro de 2024
À frente do Grupo Tauá, Lizete Ribeiro pretende transformar seus parques, com personagens criados pela empresa, em algo como uma Disney brasileira (Crédito: Claudio Gatti)
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sexta-feira 23 de agosto de 2024 às 19:05h

Conheça os projetos bilionários de resorts temáticos no Brasil

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Quem passa pela Rodovia Dom Pedro I, na altura do km 86, no interior paulista, enxerga de longe uma imensa estrutura metálica cercada por tobogãs e palmeiras. É ali que funciona o primeiro e único parque aquático indoor da América Latina, o Aquapark do Tauá Resort & Convention Atibaia. Faça chuva ou faça sol, o local, que custou R$ 20 milhões, fica lotado quase o ano todo – mesmo no frio, a água aquecida garante a diversão. Mas não é da rodovia que se pode ver a maior e mais recente atração do resort. As informações são do jornal, IstoÉ Dinheiro.

Em uma área anexa de 3,6 mil m², o Grupo Tauá acaba de inaugurar um espaço com 14 novas atrações, desde uma piscina com ondas e cinco toboáguas até uma inédita montanha-russa aquática. Tudo isso com um investimento de R$ 140 milhões e pouco mais de um ano de obra. “Conseguimos aumentar nossa taxa média de ocupação para 81%, enquanto antes ficava por volta de 75%”, afirmou à DINHEIRO Lizete Ribeiro, CEO do Tauá, grupo mineiro fundado por seu pai, João Pinto Ribeiro. “Com a mudança de perfil dos consumidores nos últimos anos, em que a experiência vale mais do que a posse de um bem, concorremos com qualquer setor de lazer e entretenimento, até mesmo com um cinema”, acrescentou Lizete.

O Tauá não está sozinho nessa, digamos, brincadeira de gente grande. Há uma onda sem precedentes de megainvestimentos no setor de resorts e parques temáticos. Seja no Hot Beach, em Olímpia (SP), no Beach Park, em Aquiraz (CE), nos empreendimentos do goiano WAM Group ou nas diversas unidades brasileiras do Vila Galé, os temas expansão e investimento são assuntos recorrentes na piscina. E isso vale para todas as partes do País. O mesmo Tauá que investiu no interior de São Paulo está construindo um imenso resort em João Pessoa, na Paraíba, que terá outro parque indoor (sim, dizem que existe demanda por piscina coberta no Nordeste!), um complexo hoteleiro com 500 quartos e um parque aquático de 7,5 mil m².

“Vamos criar uma estrutura capaz de convencer o turista a ficar no Brasil, disputando com os parques da Flórida, com Cancún ou qualquer outro destino turístico do mundo. Queremos ser a Disney brasileira”, acrescentou a CEO do Tauá, que prevê um investimento de R$ 400 milhões no litoral paraibano e de algo próximo a R$ 1 bilhão até 2027, somando os projetos de suas unidades em Alexânia (GO) e Araxá (MG). “Não tenho dúvidas de que, com todos os investimentos no setor, o turismo será como o agronegócio para o País nos próximos dez anos.”

A comparação com a Disney ou com o agro pode parecer ousada demais, mas a enxurrada de investimentos em curso é, de fato, de brilhar os olhos. A companhia portuguesa Vila Galé, hoje a maior rede de resorts do Brasil, com dez empreendimentos em operação, tem um orçamento de R$ 580 milhões até 2026 para turbinar sua presença no País. Sob o comando do bilionário português Jorge Rebelo de Almeida, o plano é ter mais cinco novos empreendimentos: o Vila Galé Collection Sunset Cumbuco (CE), que será inaugurado em novembro deste ano; o Vila Galé Collection Ouro Preto (MG), com previsão de inauguração para abril de 2025; e o Vila Galé Collection Amazônia – Belém, o primeiro empreendimento no Pará, com abertura prevista para novembro de 2025. Sem contar o recém-inaugurado resort de Alagoas, que também terá o Vila Galé Collection Coruripe e o Vila Galé Nep Kids, dedicado às crianças. “Lá os adultos só entram acompanhados dos pequenos”, brincou Dr. Jorge, como é conhecido o carismático dono do Vila Galé.

BRASIL COMO DESTINO Além desses projetos, o Grupo Vila Galé planeja outros empreendimentos, que serão anunciados em breve, segundo ele. Todos os novos projetos estão sendo financiados com recursos próprios da empresa. Os dez hotéis existentes ultrapassam o investimento de R$ 1 bilhão, tornando o Brasil o principal destino dos novos planos internacionais da companhia. “Nossa decisão de investir no Brasil é motivada pela riqueza cultural, diversidade e beleza natural. A Vila Galé valoriza a integração do turismo com a cultura local em seus empreendimentos, e o acolhimento do povo brasileiro é um fator importante nessa escolha”, afirmou o dono da companhia. Atualmente, a rede possui 32 hotéis em Portugal, um em Cuba e um na Espanha.

No caso do Brasil, é muito dinheiro. Pelos cálculos da Noctua Advisory, empresa especializada em hospitalidade e entretenimento, há nada menos do que R$ 10 bilhões em investimentos anunciados para os próximos três anos. “Além dos 21 grandes complexos em operação atualmente, que recebem 11,5 milhões de visitantes por ano, há 24 novos complexos em desenvolvimento”, afirmou Pedro Cypriano, sócio-fundador da Noctua. “Há muito espaço para crescer e acreditamos no aumento de dois dígitos no Brasil nos próximos anos.”

Na lista dos megaprojetos de expansão está o Beach Park, em Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza. Entre dunas de areia branca e turbinas eólicas brota um dos mais imponentes oásis de lazer e hotelaria do Nordeste. Uma minicidade com restaurantes, lojas e shows, aberta ao público, se tornou atração mesmo para quem não quer — ou não pode — gastar para entrar no parque. Prestes a completar 40 anos, em 2025, o complexo turístico vive seu melhor momento.

Com investimentos de quase R$ 200 milhões nos últimos dois anos, o local deve passar dos atuais 800 mil visitantes por ano para mais de 1 milhão de pessoas já em 2025. Segundo Murilo Pascoal, CEO do Beach Park, o grupo vive seu maior ciclo de crescimento e investimento da história. “As novas atrações do parque, o projeto do parque ecológico Arvorar, o nosso novo hotel Ohana e os píeres em Fortaleza colocarão o grupo em novos patamares nos próximos anos”, afirmou Pascoal à DINHEIRO.

Muito além dos personagens animados, dos tobogãs radicais e das piscinas aquecidas com ondas, boa parte do crescimento projetado para os próximos anos se apoia no segmento chamado de timeshare ou multipropriedade ­— quando um mesmo apartamento é adquirido, com escritura e tudo, por até 48 famílias. Dos R$ 10 bilhões anunciados pelo setor, aproximadamente R$ 4 bilhões são destinados à construção de unidades para esse nicho. Parece muito, mas não é.

“Atualmente, apenas 27% dos resorts brasileiros aderiram ao timeshare. Nos Estados Unidos, já são quase 1,6 mil resorts, o que representa 89% da oferta”, garante Cypriano. “Estamos no início de um potencial longo ciclo de crescimento no Brasil. E cada vez mais, o entretenimento terá um papel estratégico para a estruturação de projetos inovadores pelo País.”

Entre os propulsionadores dos novos investimentos, o timeshare é disparado o que vem ganhando cada vez mais destaque. Segundo o estudo Timeshare no Brasil: Dimensionamento de Mercado e Performance, recém-concluído pela Noctua em parceria com a RCI, há mais de 150 operações no Brasil hoje, que juntas somam 14,2 mil unidades habitacionais e mais de 154 mil clientes na base ativa. Elas são representadas por empresas como Aviva, Beach Park, Cana Brava, Costão do Santinho, diRoma Hotéis, Enotel Hotéis & Resorts, GR Group, Grupo Tauá, Hotéis Flamboyant, ibiobi Smart Club, Jurema Águas Quentes, Le Canton, Mabu Hotéis & Resorts, Premium Vacations (Transamerica Comandatuba), Royal Palm Hotels & Resorts e Wish Hotels & Resorts.

Em relação à presença geográfica, o estudo mostra que o timeshare se distribui por 14 estados e 25 cidades brasileiras. Considerando a presença dos empreendimentos nas regiões, eles estão localizados em sua maioria na região Centro-Oeste (37,9%), seguida pela região Nordeste (25,9%), Sudeste (19%) e Sul (17,2%). Pela distribuição da amostra por unidades habitacionais, há uma pequena inversão entre os mercados que ocupam o primeiro e segundo lugares, com a região Nordeste ganhando a dianteira (28,3%), seguida pelo Centro-Oeste (27,3%), Sudeste (26%) e Sul (18,4%).

Para Caio Calfat, um dos maiores especialistas do setor, o mercado de hospitalidade tem atraído muitos investimentos graças à possibilidade de atuar a partir do modelo de condo-hotel e na multipropriedade, despertando a atenção de muitos investidores. “Embora estejamos vivendo um cenário muito promissor em termos de investimento, se houver mais financiamento específico, o cenário será ainda melhor, com possibilidade de grupos internacionais aportarem aqui.”

A força do nordeste Murilo Pascoal, CEO do Beach Park, no Ceará, está investindo R$ 200 milhões na véspera do aniversário de 40 anos da empresa (Crédito:Igor de Melo)
A cidade de Olímpia, no interior de São Paulo, é testemunha do Eldorado do turismo nacional e da popularização do timeshare. Um dos maiores e mais bem frequentados complexos turísticos do município, o Hot Beach deve receber neste ano 1,2 milhão de turistas, 40% do público de Olímpia. O concorrente Thermas dos Laranjais, mais voltado à classe C e preferido pelas excursões e pacotes CVC, prevê mais de 2 milhões de visitantes.

Não por acaso, o Hot Beach planeja investir só neste ano mais de R$ 600 milhões em modernização e ampliação de seu parque aquático e estrutura hoteleira, 20% acima dos R$ 500 milhões de 2023. Segundo Diego Ferrato, superintendente do Grupo Ferrasa, controlador do Hot Beach, o plano é aprimorar a qualidade do atendimento e o nível de experiência. “Com a ampliação das áreas kids, expansão do parque, novo restaurante Rooftop em outubro e o complexo de apartamentos Hot Beach You, vamos ultrapassar a marca de R$ 1 bilhão até 2028”, afirmou Ferrato, que estima que a cidade de Olímpia terá mais de 10 milhões de visitantes nos próximos quatro anos.

Seja pelas piscinas aquecidas, pelas piruetas dos tobogãs, pela sofisticação dos quartos ou pela qualidade dos novos restaurantes, são nos resorts brasileiros que os investimentos bilionários pretendem se hospedar.

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