Principal nome da direita no país, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o seu partido, o PL, estarão em lados opostos ao de candidatos apoiados por ex-ministros de seu governo ou por governadores aliados em seis capitas do país nas eleições deste ano. A falta de alinhamento tem provocado insatisfação de acordo com Lauriberto Pompeu, do O Globo, entre os chefes dos executivos estaduais e parlamentares, que veem a divisão como um enfraquecimento do campo político.
A maioria dos aliados de Bolsonaro evita expor mal-estar com o ex-presidente, mas não esconde queixas sobre o caminho tomado nas eleições municipais. Eles também reclamam dos bolsonaristas que participaram dos acordos nas cidades.
— Como o ex-presidente Bolsonaro tem uma capacidade e um carisma capaz de mobilizar milhares de pessoas, os seus representantes estaduais acham que são herdeiros deste espólio e constroem candidaturas excluindo aliados — afirma o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).
Seu candidato em Goiânia, capital do estado, é Sandro Mabel (União Brasil), que terá Fred Rodrigues (PL) como adversário nas urnas.
Em algumas das capitais, o próprio Bolsonaro se envolveu para colocar o PL contra o nome apoiado por aliados. Em Campo Grande (MS), por exemplo, o ex-presidente levou seu partido a apoiar o deputado federal Beto Pereira (PSDB), que concorre contra a atual prefeita Adriane Lopes (PP), candidata da senadora e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP).
‘Nome da direita’
A senadora critica a aliança com Beto Pereira e diz que ele “não é encarado como um deputado de direita”:
— Vamos ver como o eleitorado vai se posicionar.
Bolsonaro também estará em posição oposta a um ex-ministro na capital do Piauí, Teresina (PI). O senador Ciro Nogueira (PI), que chefiou a Casa Civil no governo passado, não conseguiu fechar o apoio do PL ao seu candidato, o ex-prefeito Silvio Mendes (União). O partido do ex-presidente apoia a reeleição de Doutor Pessoa (PRD).
Na mesma linha, Bolsonaro será adversário de um antigo aliado em Belo Horizonte, capital de Minas. O PL vai concorrer com Bruno Engler, e o Novo, do governador Romeu Zema, estará na vice de Mauro Tramonte (Republicanos).
A falta de sintonia em Belo Horizonte já provocou críticas do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), que reclamou por Zema não apoiar Engler.
Em Boa Vista (RR), a aliança política costurada pelo PL colocou o campo bolsarista ao lado do ex-senador Romero Jucá (MDB), que foi ministro de Luiz Inácio Lula da Silva e de Michel Temer. O partido de Bolsonaro se aliou ao prefeito Arthur Henrique (MDB) contra o nome do governador bolsonarista Antonio Denarium (PP). O chefe do executivo local apoia a candidatura de Catarina Guerra (União).
Aliados do governador dizem que, diferentemente de Campo Grande, Bolsonaro não se envolveu na disputa em Boa Vista e deixou as negociações a cargo de Deilson Bolsonaro, presidente do PL em Roraima e aliado do ex-presidente que usa seu sobrenome, mesmo sem parentesco.
O senador Hiran Gonçalves (PP-RR) não esconde as dificuldades em eleger Catarina neste cenário de divisão.
— Nós continuamos parceiros do (ex-)presidente (Bolsonaro), temos uma relação de amizade e não temos nenhum tipo de restrição. Apenas a presidência local do partido (PL) decidiu isso e nós respeitamos — disse Gonçalves.
O cenário em Boa Vista é parecido com Manaus, onde Capitão Alberto Neto (PL) disputará contra Roberto Cidade (União Brasil), candidato do governador Wilson Lima (União Brasil).
O governador do Amazonas é outro que minimiza a falta de alinhamento com o ex-presidente e cita o exemplo de São Luís, onde Bolsonaro não conseguiu fazer o PL desembarcar da candidatura de Duarte Júnior (PSB), apadrinhado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino e cuja chapa tem um vice do PT.
— Essa é uma conjuntura local. Em São Luís, por exemplo, o PL está apoiando o candidato do Lula. Nada muda aqui sobre meu apoio ao Bolsonaro.
Valdemar X Bolsonaro
Como publicou o jornal O Globo, as convenções do PL para as eleições municipais deste ano também expuseram outro cenário turbulento, no qual Bolsonaro e o presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto, estão em lados opostos.
Essas divergências se concentram em São Paulo, estado do dirigente partidário.
Nas redes sociais, os militantes de Bolsonaro têm exercido pressão para priorizar a “guerra cultural” e manter distanciamento da esquerda ou do centro.