O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), desembarcou em Brasília na noite de segunda-feira com a difícil missão de convencer os três candidatos do seu grupo político a chegarem num nome de consenso para a sua sucessão em 2025. O deputado quer fazer esse acordo já em agosto para selar o apoio do presidente Lula da Silva (PT), mas Elmar Nascimento (União Brasil), Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Antonio Brito (PSD) não pretendem, pelo menos por enquanto, abrir mão de suas candidaturas.
Em conversas com interlocutores, reuniões fechadas e em discursos públicos, os três mantêm as campanhas ativas e listam motivos para não desistirem, como apoio de partidos, do governo ou da oposição, além de “pontos fracos” dos seus adversários. Aliados deles também acreditam que não haverá acordo antes das eleições municipais. “Nenhum deles tem nada a ganhar por retirar a candidatura agora, há cinco meses da eleição, sem que esteja claro o favoritismo de alguém”, disse o presidente de um partido.
O PT, que conta com 68 deputados, também não planeja decidir tão cedo quem apoiará. O partido, segundo o líder na Câmara, Odair Cunha (MG), criará um comitê de negociação para conversar com Lira e com os candidatos. “Aprendi na política que prazo é para ser usado”, disse. A sigla também quer evitar que a disputa interfira na votação de projetos prioritários para o governo no segundo semestre. Os três candidatos são influentes em partidos da base governista.
Lira trabalha para que os partidos da sua base de sustentação lancem um único candidato em 1º de fevereiro, o que manteria sua influência após o fim do mandato e auxiliaria na eleição dele para o Senado em 2026. A estratégia é a mesma usada ao se reeleger: tentar desestimular divergências dentro do Centrão para juntar numa única chapa o governo (PT) e a oposição (PL).
Em entrevista a Raphael Di Cunto, do Valor há três semanas, Lira afirmou que agosto é o mês adequado para firmar o acordo. “O que eu tenho a vontade de fazer é agora, em agosto, a gente arrumar essa situação na Câmara para que não fiquem três ou quatro candidatos do mesmo bloco, do mesmo grupo, disputando entre si uma coisa que pode ser insana para qualquer um ou para a Casa”, declarou.
Aliados afirmam que a antecipação visa aproveitar que ele ainda está forte no cargo, com controle da distribuição das emendas de comissão e da pauta de votações até dezembro, o que poderia evitar “surpresas” do governo Lula. Lira já tem a promessa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de que apoiará o candidato que escolher. O apontado como seu favorito é Elmar Nascimento, que viajou sábado para Barra de São Miguel (AL) para estar ao lado do presidente da Câmara no aniversário da cidade comandada pelo pai de Lira.
Tenho a vontade de agora, em agosto, arrumar essa situação”
— Arthur Lira
Nascimento é quem se movimentou mais ostensivamente para articular apoios a sua candidatura. Já recebeu adesão do PDT e de parte do PSB e tem viajado de jatinho pelo país para se reunir com governadores e líderes políticos. Nas eleições municipais, fez alianças com o PT da Bahia e se aproximou do ministro da Casa Civil, Rui Costa, para tentar desfazer o que seria sua principal desvantagem: ser mal-visto dentro do governo Lula (PT).
Brito, por outro lado, é considerado o favorito do Palácio do Planalto para fazer uma gestão com menos conflitos com o governo. Diante da fama de “petista”, que poderia lhe custar votos na oposição e no Centrão, o baiano reuniu-se com Bolsonaro em julho e lembrou que liderou o PSD como base de apoio da direita por dois anos, quando acompanhou o governo bolsonarista em 87% das votações. O ex-presidente entregou-lhe a “medalha de imbrochável”, dada a aliados, e com a qual Brito pretende rebater a acusação de que faria do Legislativo “linha auxiliar” do PT.
Lira, contudo, tem defendido um perfil mais “independente” para presidir a Câmara. Marcos Pereira procura atuar nesse campo, com acenos ao governo Lula e a Bolsonaro, mas garante que não desistirá se não for escolhido pelo presidente da Câmara. Em nota ao jornal “O Globo”, ele negou existir um acordo com Nascimento para retirar a candidatura. “Vou até o dia 1º de fevereiro como candidato e acho que vou ganhar. Se eu perder, tenho um partido para sentar nas mesas de negociações”, afirmou.
Diante do impasse e da resistência ao acordo proposto por ele para unir o grupo, aliados de Lira se dividem e não sabem qual será o caminho que ele seguirá. Alguns defendem que evite se indispor com os três, não opte por um nome e deixe que se enfrentem. Outros sugerem retomar a busca por alguém de fora desse trio, como Hugo Motta (Republicanos-PB) ou doutor Luizinho Teixeira (PP-RJ). E outro grupo acredita que, se não houver consenso, ele trabalhará para unir a maior rede de apoio em torno de Nascimento e vencer a eleição. Alternativas que, obviamente, têm seus próprios empecilhos.