Dois grupos de dissidentes prometem entrar com ações na justiça eleitoral contra o presidente do PRTB, sigla do empresário Pablo Marçal, cuja convenção partidária para lançar sua candidatura a prefeito de São Paulo está marcada para domingo. As ações miram destituir Leonardo Avalanche, comandante da legenda, mas a forma como Marçal foi escolhido para concorrer também deve ser motivo de acordo com Samuel Lima e Guilherme Queiroz, do O Globo, de questionamento de um terceiro grupo de oposição no partido.
Existem ao menos três correntes diferentes dentro da sigla, conhecida na cidade pela liderança de Levy Fidelix (1951-2021), um dos fundadores do partido e candidato por diversas vezes à prefeitura, que tinha como principal bandeira a criação do chamado “aerotrem”.
A primeira é ligada ao grupo do pastor Edinazio Silva, de Pernambuco, que concorreu às eleições pelo controle do PRTB em fevereiro. Ele tenta derrubar Leonardo Avalanche afirmando que a votação que escolheu o atual presidente foi “fraudada”. Silva afirma que deve entrar com uma ação judicial contra Avalanche até sexta-feira.
— Minha proposta é de assumir o comando do partido e derrubar a chapa dele por fraude eleitoral que ele cometeu. Tem várias denúncias de compra de voto — diz Silva, que não deu detalhes sobre a suposta fraude, mas diz que apresentará as devidas provas no curso da ação judicial.
Outro grupo que mira Avalanche é ligado a Júlio Cezar Fidélix, irmão do falecido Levy, e a Marciel Aroldo da Rocha. Eles foram candidatos à liderança do PRTB nas eleições do partido, em fevereiro, e acabaram derrotados. O advogado Paulo Roberto Roseno, que representa o grupo, afirma que eles também devem protocolar nesta semana uma ação contra a administração de Avalanche por supostas dívidas da sigla com a Justiça Eleitoral.
— O que devemos questionar não é a eleição do Avalanche, nem tentar retirar o Marçal da disputa, mas sim discutir os problemas do partido na Justiça Eleitoral. Essa ação é para discutir os problemas que o PRTB vem enfrentando (sob a administração de Avalanche), que tem R$ 12 milhões de dívida com a justiça eleitoral — diz Roseno, que afirma que as multas teriam sido aplicadas por “movimentação de valores ilegais e não informados” nas contas partidárias.
Para questionar como o processo de escolha de candidatos tem sido feito, surge um terceiro grupo, liderado por Aldineia Fidelix, viúva de Levy, e Karina Fidelix, advogada e filha do casal. Eles alegam que Avalanche não cumpriu acordos para ceder espaço no diretório nacional do partido e que estaria bancando candidaturas como a de Marçal sem observar o que manda o estatuto.
— No PRTB, quem decide (as eleições em cidades) com mais de 200 mil habitantes, como São Paulo, não é o diretório municipal, ou o estadual, é a Comissão Executiva Nacional, nos termos do estatuto do partido. O Avalanche tem decidido tudo de forma unilateral. O estatuto não permite decidir nada a nível municipal, se ele decidir a nível municipal, vai ser contestado (juridicamente) — afirma Karina Fidelix.
Dentro da campanha de Pablo Marçal, a avaliação é de que as ações judiciais não devem abalar a candidatura do empresário.
— Ainda que não haja qualquer preocupação com a conduta do presidente nacional, tendo em vista a legitimidade da eleição, a Convenção irá chancelar a candidatura de Marçal é municipal e o presidente (municipal) é o Levy Fidelix Filho — diz o advogado Thiago Boverio, da área jurídica da campanha.
Sobre os questionamentos de Karina Fidelix, a respeito da Comissão Executiva Nacional, Boverio diz que “acabou o prazo para inscrição de chapa de candidatura. Não foi apresentado qualquer outro concorrente que queira discutir a indicação para prefeito”.
Racha na família
Há, ainda, um aparente racha na família Fidelix. Outros dois filhos de Levy — Levy Fidelix Filho e Lívia Fidelix — são aliados de Avalanche. Recentemente, Levy Filho afirmou que a família estava unida em torno da candidatura de Marçal, embora agora surjam os questionamentos por parte da viúva e da outra filha do fundador do partido.
Procurado, Avalanche não se manifestou sobre os pontos questionados até o fechamento da reportagem. Na terça-feira (30), o comando do PRTB defendeu, por meio de nota, que a sigla estava unida em torno da candidatura de Marçal.
Eles divulgaram também uma frase do próprio Marçal, em que o pré-candidato defendeu que não há divisão interna no partido.
— Não existe racha lá dentro (PRTB). O que existe é gente de fora dando pitaco. Aqui estamos todos unidos e focados em promover uma verdadeira transformação em São Paulo, com o apoio de milhões de pessoas — disse o empresário.
— Marçal entrou em um partido em guerra. Ele sabe que existe uma guerra dentro do PRTB, uma guerra de todos os lados — afirma Edinazio Silva.