Em entrevista ao jornal O Globo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirma que o presidente da República, Lula da Silva (PT), irá participar da escolha do sucessor no comando da Casa legislativa, mas “não indicará nem deve vetar” um nome. O parlamentar também alfineta o processo sucessório no Senado, diz que emendas Pix precisam ser aprimoradas e elege a segurança pública como prioridade do segundo semestre.
O senhor disse que anunciará o nome do seu sucessor em agosto. A percepção dos seus aliados é que o seu candidato preferido é o deputado Elmar Nascimento (União Brasil). Ele é o mais bem posicionado na disputa?
Eu não posso falar por aliados. O que digo é: não tenho a ousadia de dizer que vou apresentar um candidato. O que preciso deixar bem claro é que os três (Elmar, Marcos Pereira e Antônio Brito) são muito ligados a mim. A imprensa confunde. Eu ando com o Elmar desde 2015. O problema é: eu elejo o Elmar sozinho? As coisas não são assim. Temos um time que as famílias se relacionam. Se o Elmar conseguir se encaixar no perfil, ele vai ser o escolhido. Se não se encaixar, pode ser outro. E ainda pode ser qualquer um. Sei lá o que pode acontecer daqui para lá. O que está claro é que esse assunto será tratado atrás de um perfil, não de um nome. É um processo de construção, diferente do Senado, onde houve um “eu te elejo, tu me elege, a gente está tudo certo, a gente está tudo bem”. Aqui (na Câmara) não. Aqui é uma Casa mais pulsante.
Integrantes do governo demonstram nos bastidores rejeição ao Elmar. Isso pesa?
Eu não posso falar de hipótese. Ninguém do governo me disse que tem rejeição nem que aprova o outro. O que sempre ouvi do presidente Lula é que não quer se meter. Nas conversas com ele, eu disse: “Presidente, não é que o senhor não vá se meter, mas o senhor tem que participar”. Não vai indicar e também não deve vetar, porque o veto amanhã fica. Eu não seria idiota de impor ao presidente um veto a alguém. As conversas vão acontecer. Em agosto, espero que tenhamos solução pacificada por maioria.
E se o presidente indicar que prefere Marcos Pereira ou Antônio Brito?
Se não for da vontade da maioria dos partidos, vai ter disputa. E a disputa tem perdedor e ganhador. Geralmente, nunca é bom. Portanto, o que estou construindo é tranquilidade para a Câmara, tranquilidade administrativa para o governo, um nome que identifique isso tudo. E infelizmente nós não temos três presidências. Vamos ter que arrumar um nome que resolva isso.
Terceira via está descartada?
Eu não digo nunca nem nada. Mas eu não posso falar do que não existe. Os nomes que existem são os três.
Alguns líderes estão desconfortáveis com a ideia de o União assumir tanto a Câmara, com Elmar, como o Senado, com Davi Alcolumbre, apontado como favorito. Haveria uma solução para esse impasse?
Nessa hipótese, acho que o Davi sairia (do União Brasil), se o problema fosse esse e se estivesse certo. Estou respondendo de hipótese. Se o nome fosse Elmar e se o nome fosse Davi e se isso não fosse deglutido, o senador pode mudar de partido a qualquer momento.
Como o senhor imagina o seu futuro após deixar a presidência da Câmara?
Tenho um defeito grande que a minha mulher reclama sempre: eu não me programo. Eu não cheguei a Brasília para ser presidente da Câmara. Eu cheguei para fazer um bom mandato. Tudo é consequência do trabalho. Eu não tenho planejamento, não. Vou ser ex-presidente como tantos outros.
Pretende se candidatar ao Senado em 2026?
São frutos de resultados, de conjecturas, de posicionamento, porque a eleição majoritária não é a eleição própria. É a eleição de um grupo, de um contexto. Há uma especulação forte em Alagoas. Por quê? Porque, para deputado federal, tenho 52 prefeitos. Fui o federal mais votado da história de Alagoas, presidente da Câmara, ajudo muito meu estado, meus municípios. Então, é lógico que o nome é lembrado.
Mas há espaço para fazer uma composição política com os Calheiros, adversários políticos?
É muito difícil. Na política, é possível, mas penso que é muito difícil. Partiu sempre dele (a briga). De um dia para a noite, o senador Renan, num comício no sertão, agrediu o meu pai. Aí, ao invés de o meu pai reagir, quem reagiu fui eu, e tudo começou.
Outro adversário político do senhor é o ministro Alexandre Padilha (R. Institucionais). Vocês se cumprimentaram recentemente. Voltaram a se falar?
Acho que o presidente da Câmara não tem nenhum tipo de adversário político no nível de ministro. Aquilo se tratou de um cumprimento de pessoas que são civilizadas. Nunca mais falamos. Mas isso não muda a relação do presidente da Câmara com o governo.
O senhor é apontado como o principal responsável por definir o destino das emendas de deputados. Parte expressiva dessa verba foi direcionada para Alagoas, o seu reduto eleitoral. Isso não gera desigualdade na distribuição desses recursos?
Os cargos e os momentos são desiguais. Alagoas tem uma bancada considerável. Só na Mesa Diretora tem dois líderes. É lógico que temos que aprimorar, direcionar emendas para uma sequência. Não adianta criar uma escola sem que o aluno tenha merenda, transporte, internet. Quando for realizar um programa, tem que fazer um roteiro de destinação. Talvez aqui os meus amigos não gostem, mas sou muito crítico e eu defendo emendas, mas eu não uso o Pix, porque acho que o Pix vai ter que ser aprimorado agora para ter o objeto. De onde nasceu a emenda Pix? Da burocracia do governo. A turma fez uma emenda de transferência direta (para a prefeitura). Podemos avançar? Podemos. Vamos fazer a emenda Pix com um objeto determinado. Então, ela vai para a construção de uma ponte, para a construção de uma escola, de um sistema de água…
Outra crítica que o senhor recebe é pelo fato de a sua gestão ter aprovado um volume recorde de requerimentos de urgência. Isso afeta discussões de temas?
Quando cheguei aqui, sabe quantas matérias um parlamentar votava no mandato dele? Nenhuma. Meu pai passou três mandatos aqui e conseguiu votar um projeto no plenário. Sabe por quê? Porque a pauta do plenário vivia obstruída com Medidas Provisórias. O que fiz? Dei visibilidade para que todos conseguissem pautar as suas matérias. Temos a urgências que são solicitadas pelos partidos, pelos líderes, ouvindo as demandas dos seus membros.
A votação do projeto que equipara aborto a homicídio, por exemplo, teve votação célere, sem passar pelas comissões…
Nós nunca tratamos de aborto nem de estuprador. Tenho três filhas mulheres, sou pai e sofri com fake news de internet. Coloquei para todos os líderes que eu tinha uma demanda com a bancada evangélica de colocar em votação só a urgência (do projeto), sem o compromisso do mérito. Os líderes disseram que não, que esse assunto não dava, causaria polêmica. Se o Conselho Federal de Medicina pode discutir e se o Supremo pode julgar, o Congresso não pode debater a assistolia? Vocês acham que passaria uma votação sobre aborto no plenário? Não. Então, por que vocês acham que passou a urgência? Porque não era aborto. Virou esse tsunami de versões, de agressões, como no Brasil tudo é.
Outra votação relâmpago foi a a proposta que perdoa R$ 23 bilhões em multas dos partidos.
A princípio, a proposta, quando nasceu, era para corrigir: em vez de uma resolução, botarmos cota de raça na Constituição, como é o correto e como tem a cota feminina. Eu só votei quando todos concordaram e quando o presidente do Senado (Rodrigo Pacheco) se comprometeu com os presidentes de partido que votariam lá, porque eu não vou ficar apanhando numa coisa que, na essência, foi correta. Não houve mudança com relação à cota que já existe em lei.
Qual o compromisso recebeu de que o Senado votará?
Estou com a garantia de que o Senado vai votar.
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, afirmou que preferia que o Congresso tratasse do tema da regulação das big techs para não ter que pautar em breve o tema na Corte. A Câmara deve avançar nessa discussão?
Tenho preocupação com isso. Nessa quarta-feira, viralizaram tantos memes com o ministro de Economia e me chocou que um deles tinha a voz do Haddad. Imagine um efeito danoso de uma maldade dessa em uma darkweb em um período de eleição? O Supremo, se tiver provocação jurídica, e ele por certo vai ter, vai julgar. Aí, depois, o Congresso pode legislar ou não. Em determinados assuntos, o Congresso não legislar é legislar. Neste assunto, o Marco da Internet, não. Foi falta de construção. Está aí uma coisa que realmente não consegui fazer: o Marco da Internet. Não foi por falta de tentativa e diálogos. Mas, hoje no Brasil, com a internet, é difícil definir o que é fake news, dar um conceito. É algo fluido. A inteligência artificial é ainda dez vezes mais preocupante.
O que o senhor gostaria — e pretende — aprovar antes de deixar o comando da Câmara?
O Brasil precisa olhar para o combate às facções, ao tráfico de armas, de drogas, monitoramento mais específico das forças policiais. A segurança pública deve estar presente no segundo semestre. Além disso, temos que encontrar formas de tornar o Brasil mais acessível ao turismo. Meio ambiente vai estar presente. Por que acontece a exploração de minério ilegal em reservas indígenas, em reservas de mata amazônica e em outros biomas? Estou trabalhando para que o governo consiga enxergar. Temos que permitir uma complementação, com responsabilidade, dentro dos moldes do Código Florestal.