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quarta-feira 3 de julho de 2024 às 16:56h

‘Não tenha medo de usar IA, tenha medo de não usar’, diz especialista

JUSTIÇA, NOTÍCIAS


Falar de inteligência artificial em 2024 é um misto de empolgação e desconfiança. Com o lançamento do ChatGPT 4o e o avanço de outras ferramentas como o Sora e Gemini, o tema continua dividindo opiniões nas questões de propriedade intelectual, direitos de imagem e regulação.

A cautela é pregada até mesmo pelo fundador da OpenAI, Sam Altman, que expressou preocupação com o rápido avanço da inteligência artificial, especialmente com o seu uso no meio político.

“Meu maior medo é que essa indústria cause um dano significativo ao mundo. Se der errado, pode dar muito errado. Queremos ser vocais sobre isso e conversar com o governo”, disse Altman durante depoimento no Congresso americano em 2023.

Errado? Antiético? Nenhum adjetivo muda o fato de que 75% das pessoas que utilizam IA também estão fazendo uso dessas ferramentas no trabalho, segundo uma pesquisa divulgada pela Microsoft.

Enquanto a realidade bate à porta, a pergunta é: existe maneira justa de utilizar a IA?

Uma outra visão

Mesmo com todas as polêmicas, algumas empresas estão provando que é possível ter bons resultados utilizando IA com uma abordagem diferente, uma que não fere o direito de artistas, dubladores e ilustradores.

É o caso da Cappuccino Digital, agência criativa que conta com clientes como Vivo, Ajinomoto e Nintendo.

Fundada em 2000, a Cappuccino já era uma companhia estabelecida no mercado muito antes da implementação de IA no fluxo interno de trabalho, no ano passado.

O time conta com um conjunto de ferramentas próprias para realizar pesquisas aprofundadas sobre os clientes e seus mercados, fazer comparativos e auxiliar no esboço e visualização de ideias que serão colocadas em prática por profissionais reais.

“Nossa ideia não é utilizar conteúdo feito por IA no nosso produto final, mas sim, utilizá-la para ‘gerar conversas’ durante o processo de criação”, explica o CEO Vitor Elman

O CEO da Capuccino Digital, Victor Elman (à esquerda) e o copresidente Rodrigo Martinez (à direita) – Foto: Divulgação/Cappuccino Digital

Segundo Elman, as novas práticas trazem mais assertividade aos clientes, e, apesar da perda da magia do antigo processo criativo, a otimização desse processo permite que o time tenha mais tempo para pesquisar, refinar o material e chegar no melhor resultado possível.

“Antigamente, precisávamos de 5 horas para termos um bom storyboard, hoje, criamos em 5 minutos. Podemos gerar uma locução de IA para exemplificar nossa ideia ao cliente e contratar um locutor real para gravar o material final”, conta

E na opinião do copresidente da Cappuccino, Rodrigo Martinez, otimização boa é otimização que faz sentido.

“Se a gente só otimizar, otimizar e otimizar, não há ganho em termos de qualidade. A ideia é que nosso time de criação tenha mais tempo para pensar, pesquisar e trazer coisas menos superficiais para o produto final”, diz Martinez.

IA como aliada nos processos internos

Não é segredo que a IA também está presente onde o cliente final não vê. Grandes players do mercado estão aderindo à tecnologia para otimização de processos internos.

No fim de junho, o Nubank anunciou a compra de uma empresa de inteligência artificial visando melhorar seus serviços.

Entre as principais aplicações, estão ferramentas de comunicação, marketing, organização e gerenciamento de dados. Há ainda soluções mais ousadas, como um chatbot personalizado para uso interno que conta com todo tipo de informação sobre a empresa.

“Ajudei a criar essa solução para uma gigante do mercado. No chat, você faz perguntas do tipo: “Qual é o market share da nossa empresa na Índia?” e consegue comparar esse market share com o do resto do mundo. Tem todo tipo de informação sobre a empresa. Antes você precisava procurar relatórios, trabalhar com um enorme volume de dados. A IA remove essa barreira”, exemplifica Elman

Precisamos temer?

Nesta semana, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) suspendeu a nova política de privacidade da Meta, dona do Facebook e Instagram. Ao melhor estilo Black Mirror, o novo termo autorizava o uso de dados pessoais para treinamento de IAs.

Segundo a agência, trata-se de uma ação que viola a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) do Brasil.

Do ponto de vista do mercado de trabalho, é inegável que o uso dessas ferramentas já está causando um impacto considerável. Recentemente, dubladores se mobilizaram contra a Globoplay, que usou vozes geradas por IA no documentário “Rio-Paris: a tragédia do voo 447”

O Movimento Dublagem Viva, que reúne profissionais de todo o Brasil, quer que a prática seja regulamentada para evitar prejuízos no setor.

“Nenhum produto produzido, localizado ou adaptado para o povo brasileiro poderá ser realizado substituindo um artista brasileiro por uma inteligência artificial”, diz o manifesto do movimento.

Em tempos de muitas perguntas e poucas respostas, o único fator imutável é que a IA não é o futuro, é o presente. Envoltos em um mar de áreas cinzentas, governos e autoridades adiam os debates e tentam ganhar tempo para absorver e entender os impactos dessa revolução.

Para Elman, que participa ativamente de discussões sobre regulamentação, não há como encontrar soluções viáveis sem primeiro entender e explorar o avanço dessas ferramentas.

“Não tenha medo de usar IA, tenha medo de não usar. É preciso sentar, discutir e falar sobre o assunto, mas não se afastar das ferramentas. Às vezes, é só uma questão de explorar e entender como elas podem te ajudar sem ferir o trabalho ou a propriedade intelectual de ninguém”, finaliza.

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