Ticket só de ida e compra no balcão: as ‘fugas’ dos ex-cabeças da Americanas

Miguel Gutierrez e Anna Saicalli, ex-executivos da Americanas que agora são procurados pela PF e pela Interpol, deixaram o Brasil às pressas segundo o Lauro Jardim, do O Globo, ao saber que eram visados na investigação sobre fraudes contábeis na varejista. Foi com essa hipótese que policiais federais e procuradores trabalharam ao pedir a prisão preventiva deles à 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.

Foram vários os indícios, diz o colunista da “fuga antecipada” listados pela PF, mais evidentes no caso de Saicalli.

A ex-diretora da B2W partiu de São Paulo, acompanhada do filho, num voo para Lisboa no último dia 16. Voou de madrugada e, antes disso, comprou tickets somente de ida. Fez a aquisição no balcão da TAP, no Aeroporto de Guarulhos, no cartão de crédito. Mesmo de última hora, garantiu espaços na classe executiva. O pouso na capital portuguesa foi naquele mesmo dia e, desde então, Saicalli sumiu do radar da PF.

Foi para o filho que Saicalli transferiu cotas de uma empresa que valia R$ 13 milhões, 20 dias antes do fato relevante publicado pela Americanas para informar sobre a crise contábil. A PF desconfia que outro investigado, Márcio Cruz (ex-diretor da Americanas), tenha alertado Saicalli sobre medidas cautelares em curso na corporação. Cruz impretou um mandado de segurança no Judiciário no início de maio e, nele, foram juntadas informações que, para a polícia, chegaram a outros investigados.

Também foragido, Gutierrez, CEO na época das fraudes, embarcou com a mulher do Aeroporto do Galeão, muito antes. Se mandou em 29 de junho de 2023, rumo a Paris.

O casal comprou passagens on-line, no cartão de crédito, no site da Air France. E decolou no dia seguinte para o Charles de Gaulle. Tinham assentos reservados para voltar. O retorno nunca aconteceu — e nunca acontecerá, se depender exclusivamente de Gutierrez.

Esses bilhetes de volta estavam marcados para 8 de julho de 2023, menos de um mês após a ida. O trecho Paris/Rio, porém, foi reagendado por Gutierrez para 20 de junho de 2024 (ou seja, na semana passada).

Ao longo do último ano, o ex-chefão permaneceu na Espanha (ele possui dupla cidadania). Para os investigadores, as sinalizações são de que “o ânimo dele não é de regressar ao país”. Os bilhetes de volta expiram neste sábado (29).