domingo 22 de dezembro de 2024
Lula falou com jornalistas em um hotel em Carovigno, na região da Puglia, na Itália, um dia depois de participar de encontro do G7 com países convidados - Foto: Divulgação
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domingo 16 de junho de 2024 às 05:45h

Lula sobre aborto: Sou contra, mas é insanidade punir mulher mais que o estuprador

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O presidente Lula da Silva (PT) afirmou neste último sábado (15) conforme a BBC News, que é “uma insanidade alguém querer punir uma mulher com pena maior que o criminoso que fez o estupro”, ao ser questionado sobre o projeto de lei que torna homicídio aborto após 22 semanas de gestação.

Nos últimos dias, houve reação, inclusive com protestos em cidades brasileiras, à aprovação do regime de urgência para votação pela Câmara dos Deputados de projeto de lei que prevê a aplicação de pena de homicídio simples em casos de aborto após 22 semanas (leia mais abaixo).

As penas por homicídio simples no Brasil podem ir até 20 anos de reclusão, enquanto a pena por estupro é de cerca de 10 anos.

“Eu, Luiz Inácio Lula da Silva, fui casado, tive 5 filhos, 8 netos, e uma bisneta. Sou contra o aborto. Entretanto, como o aborto é a realidade, temos que tratar aborto com questão de saúde pública. É uma insanidade alguém querer punir uma mulher com pena maior que o criminoso que fez o estupro. É, no mínimo, uma insanidade”, disse.

Lula, que foi questionado pela BBC News Brasil sobre se concorda com a atual legislação no Brasil, disse:

“Tenho certeza que o que tem na lei já garante que a gente aja de forma civilizada para tratar com rigor o estuprador e para tratar com respeito a vítima.”

O presidente falou com jornalistas em um hotel em Carovigno, na região da Puglia, na Itália, um dia depois de participar de encontro do G7 com países convidados. Em seguida, embarcou para retornar ao Brasil.

Lula reforça avaliação sobre ‘Holocausto’ em Gaza

Na coletiva de imprensa, Lula também disse que há um “genocídio contra mulheres e crianças” acontecendo em Gaza e reforçou a avaliação na qual comparou a guerra em Gaza e o Holocausto durante a cúpula da União Africana, no início deste ano.

“O que eu falei […] na União Africana sobre o que aconteceu em Israel, eu mantenho 150%”, disse o presidente, após ser questionado se teria moderado seu discurso sobre o Oriente Médio na reunião com os países mais ricos.

À época, a fala do presidente brasileiro fez com que ele fosse considerado “persona non grata” pelo governo de Israel.

Na reunião de integrantes do G7 com países convidados e o papa Francisco, na sexta-feira (14/6), Lula usou parte dos seus cinco minutos de fala para criticar o que chamou de uso de “direito de vingança” em Gaza, mas sem mencionar Israel.

“Em Gaza, vemos o legítimo direito de defesa se transformar em direito de vingança. Estamos diante da violação cotidiana do direito humanitário, que tem vitimado milhares de civis inocentes, sobretudo mulheres e crianças”, disse.

‘Haddad jamais ficará enfraquecido enquanto eu for presidente’

Haddad e Lula

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto, Lula defendeu Haddad duas vezes em sua mais recente viagem à Europa

Lula também saiu, mais uma vez, em defesa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sob pressão nesta semana.

“O Haddad jamais ficará enfraquecido enquanto eu for presidente da República”, disse, após ser questionado sobre a avaliação de que o ministro estaria isolado neste momento e sobre corte de despesas do governo.

“Ele é o meu ministro da Fazenda, escolhido por mim e mantido por mim. Se o Haddad tiver uma proposta, ele vai me procurar esta semana e sentar para discutir economia comigo”, afirmou Lula. “E eu quero antecipar: a gente não vai fazer ajuste em cima dos pobres.”

Em Genebra, onde esteve antes de chegar à Itália, Lula já havia defendido o ministro da Fazenda.

“Todo ministro da Fazenda vira centro de debate, quando a coisa dá certo ou não”, disse.

Nesta semana, o Congresso Nacional devolveu uma medida provisória que limitava créditos tributários para empresas, numa tentativa do Ministério da Fazenda de compensar perdas de receitas com a desoneração da folha de pagamento de 17 setores intensivos em mão de obra e dos municípios.

A medida era considerada fundamental dentro do esforço para equilibrar as contas federais e sua devolução expôs a fragilidade do governo no Congresso.

Depois, integrantes do governo reforçaram em discursos a defesa de uma agenda de revisão e corte de gastos.

Aborto: o que está em jogo no Brasil

Um projeto de lei assinado por 32 deputados quer equiparar qualquer aborto realizado no Brasil após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio.

A regra valeria inclusive para os casos em que o procedimento é autorizado pela legislação brasileira, como na gravidez decorrente de estupro.

Na noite de quarta-feira (12), a Câmara aprovou o regime de urgência para tramitação do projeto, depois de o assunto ter sido incluído na pauta pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Isso significa que o projeto pode ser votado diretamente pelo plenário da Câmara, sem a necessidade de debates e pareceres nas comissões. Com isso, o plenário pode votar sobre o projeto nos próximos dias.

Caso aprovado, o projeto ainda precisaria passar pelo Senado e pela sanção presidencial.

Atualmente, a lei brasileira permite o aborto em três situações:

  • Quando a gestação é fruto de um estupro;
  • Se a gravidez representa risco à vida da mulher;
  • Se o feto for anencéfalo, quadro caracterizado pela ausência do encéfalo e da calota craniana.

O projeto tem recebido várias manifestações contrárias, inclusive com protestos em várias cidades brasileiras.

Em artigo publicado no site do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), a médica Ana Costa, diretora executiva da instituição, classifica o projeto como “uma reedição do ‘Estatuto do Estuprador’, que obriga mulheres a gestarem fruto de estupro, sob pena de prisão”.

O Cebes ainda destaca que o acesso tardio ao aborto legal “reflete a desigualdade e a iniquidade na assistência à saúde, impactando sobretudo crianças (10-14 anos), mulheres pobres, pretas e moradoras da zona rural”.

Um grupo de 18 entidades do setor foi formado para criar a campanha “Criança Não é Mãe”, que caracteriza as mudanças propostas como o “PL da Gravidez Infantil”.

Segundo os criadores do movimento, a alteração na legislação prejudicará principalmente as crianças menores de 14 anos, que representam o maior grupo que necessita dos serviços de aborto após o terceiro trimestre.

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