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domingo 2 de junho de 2024 às 14:40h

Silvio Santos tentou ser candidato a prefeito mas reunião do partido terminou em pancadaria

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No início da década de 1990, Silvio Santos estava no auge de sua popularidade e qualquer partido do País gostaria de tê-lo como candidato – qualquer um, menos o seu próprio. Em 1992, São Paulo elegeria um novo prefeito e o apresentador mais famoso de TV do Brasil pretendia disputar segundo reportagem de Juliano Galisi, do Estadão, o cargo. Era favorito para a eleição, mas teve a pré-candidatura sabotada por uma ala da própria sigla, o Partido da Frente Liberal (PFL). Seu companheiro de chapa seria Julio Casares, hoje presidente do São Paulo Futebol Clube, mas a convenção que escolheu Silvio Santos como candidato terminou em briga generalizada e foi anulada pela Justiça Eleitoral.

Não fazia três anos desde a campanha relâmpago de Silvio à Presidência da República, em 1989, quando o empresário se apresentou à disputa com a corrida ao Planalto já em andamento e pediu voto no ’26’. O arranjo, por mais estranho que pareça hoje, era possível, segundo a lei eleitoral vigente na época. Os problemas jurídicos foram outros e a candidatura foi barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A trama durou menos de dez dias, suficientes para que a história se consagrasse no folclore político do País. São menos conhecidas as vezes em que o apresentador postulou não a Presidência, mas a Prefeitura paulistana: em 1988 e no pleito municipal seguinte, em 1992. Nos dois casos, esbarrou no desinteresse dos próprios correligionários em lançá-lo como candidato.

Silvio Santos, presidente?

A eleição de 1989 foi a primeira em mais de três décadas a eleger um presidente da República pelo voto direto. O candidato do PFL era Aureliano Chaves, vice-presidente do País durante o mandato de João Figueiredo (1979-85), mas seu nome não engrenou nas pesquisas de intenção de voto. De forma reservada, Aureliano admitiu a interlocutores do partido que renunciaria à campanha se assim fosse melhor para a sigla. Nesse momento entrou em cena o trio do PFL formado pelos senadores Edison Lobão (MA), Hugo Napoleão (PI) e Marcondes Gadelha (PB). O grupo foi apelidado com o título de “Três Porquinhos”.

“Àquela altura, faltando um mês para a eleição, não podíamos trocar seis por meia dúzia. Teríamos que ter um candidato com uma popularidade fora do comum, uma bomba de napalm no arrozal da rapaziada”, disse Marcondes Gadelha ao Estadão. Numa consulta à base de filiados do PFL, depararam-se com o nome de Silvio Santos e, contatado pelo trio, o apresentador demonstrou interesse na disputa.

No final de 2024 Silvio Santos completará 94 anos – Foto: Reprodução/SBT

A bomba caiu e, tal como uma carga de napalm, teve um efeito devastador. A candidatura de Aureliano ia mal, mas isso não significava que os integrantes do PFL não estivessem se mobilizando por uma campanha presidencial. Muitos caciques haviam abandonado o barco do partido e, de forma extraoficial, vinham apoiando o nome de Fernando Collor de Mello, do PRN, que liderou com sobra os levantamentos de intenção de voto no primeiro turno. Se o nome mais incômodo a Collor na segunda etapa da eleição era motivo de debate, não havia dúvidas de que Silvio Santos poderia destronar Collor até mesmo no primeiro turno.

Essa possibilidade despertou uma reação no PFL ao fim da qual o próprio Aureliano Chaves recuou, desmentindo que pudesse renunciar à condição de candidato. Por outro lado, ao manifestar interesse na eleição, Silvio Santos adentrou de vez no jogo político. Iniciou-se, então, uma caça dos “Três Porquinhos” por um candidato a presidente que aceitasse renunciar para dar lugar a Silvio. Dado o contexto daquela eleição, não faltavam opções.

O pleito de 1989 é, até hoje, recordista em número de candidatos à chefia do Executivo. Durante a ditadura militar, vigorou no Brasil o bipartidarismo e, a partir do início da década de 1980, o funcionamento de múltiplas siglas foi gradualmente retomado. Para tanto, foram estabelecidas regras mais amenas para a fundação de partidos, incluindo a possibilidade dos registros provisórios. A nova legislação resultou em dezenas de legendas nanicas, com baixa representatividade política. Era o caso do Partido Municipalista Brasileiro (PMB), fundado em 1985 por Armando Corrêa, pastor evangélico, advogado e, em 1989, candidato a presidente.

Corrêa aceitou a renúncia e forneceu o registro do PMB à campanha de Silvio. O vice do apresentador seria Marcondes Gadelha, mas a chapa foi desfeita ao serem constatadas irregularidades no registro do PMB na Justiça Eleitoral. Segundo o TSE, o partido não havia realizado o número mínimo de convenções regionais exigidas pela lei. Com a decisão, a campanha presidencial de Silvio saiu de cena tão repentinamente quanto surgiu. A eleição seguiu seu rumo e, no segundo turno, Collor derrotou o líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

‘Um ato de contrição’

Eleito por uma sigla pequena, Fernando Collor precisou se escorar em legendas de maior expressão no Congresso para governar. A principal delas foi, justamente, o PFL, que dispunha de ministérios e forte influência sobre o Planalto durante a gestão do alagoano.

Mas a popularidade do presidente foi derretendo ao longo do mandato e, na medida em que corroía o apoio popular, mais alas do PFL debandavam da gestão Collor. De 1989 a 1992, mudou também a postura do PFL em relação a Silvio Santos. “Me parece que o PFL fez um ato de contrição, uma revisão da bobagem que tinha sido o apoio a Fernando Collor de Mello”, disse Gadelha.

Nesse contexto, em 18 de março, Silvio Santos retornou ao PFL e anunciou que concorreria ao comando da maior cidade do País. “Caiu como um petardo no meio político de São Paulo. Todo mundo em polvorosa”, afirmou o ex-senador. A campanha a prefeito prometia ser diferente da eleição a presidente na medida em que, dessa vez, Silvio teria tempo para se planejar e, com o apoio da executiva nacional, não seria mais rifado pela própria sigla.

Mesmo assim, o apresentador dependia, na prática, de um aval dos integrantes locais da legenda, o que não era mero detalhe. O PFL era um dos grandes partidos do País, mas não contava com expressão política no Estado e na cidade de São Paulo. A sigla orbitava em torno de partidos mais influentes, como o PMDB do governador Luiz Antônio Fleury e o PDS de Paulo Maluf, pré-candidato a prefeito da capital. Para não desagradar nem um nem outro, o PFL paulistano pretendia lançar como candidato o deputado federal Arnaldo Faria de Sá – quadro influente no partido, mas sem estofo para disputar um cargo no Executivo.

As pesquisas de intenção de voto atestavam: enquanto Silvio Santos estava em franca ascensão – em levantamentos do instituto Gallup, cresceu, em dois meses, 20 pontos porcentuais na pesquisa espontânea, encostando em Maluf, primeiro colocado –, Faria de Sá não chegava a 0,5% de menções. Mas o diretório municipal do PFL era comandado a mão de ferro por Arthur Alves Pinto, vice-prefeito da cidade durante a gestão Jânio Quadros, que resistiu à candidatura de Silvio Santos desde o anúncio da filiação.

O apresentador, por sua vez, não era mais um neófito em matéria de política e agia, segundo Gadelha, como se já tivesse experiência na área. À imprensa, Silvio reiterava a pré-candidatura e garantia a indicação – se não pelo PFL, dizia o empresário, pelo PTB ou pelo PDT, com os quais havia iniciado conversas com esse objetivo. Nos bastidores, Silvio Santos buscou contato com os opositores de Alves Pinto e topou com um jovem advogado da zona leste da cidade.

‘”Onde você estava? O Silvio Santos te ligou e quer falar com você”, disse a mãe a um incrédulo Julio Casares. À luz do tempo, o telefonema não parece estranho, pois Silvio e Casares trabalharam juntos por mais de uma década na televisão. Mas era abril de 1992 e, àquela altura, eles ainda não se conheciam. Conversaram por meia hora sobre a pré-campanha a prefeito e combinaram de aprofundar o tema em um encontro pessoal. No dia seguinte, lá estava Silvio Santos em Guaianazes, casualmente adentrando uma padaria do bairro e pedindo informações para chegar à casa do “Julinho”.

Julio Casares e Silvio Santos se reuniram para debater pré-campanha à Prefeitura de São Paulo em 27 de abril de 1992. Casares era cotado como vice do apresentador
Julio Casares e Silvio Santos se reuniram para debater pré-campanha à Prefeitura de São Paulo em 27 de abril de 1992. Casares era cotado como vice do apresentador Foto: @juliocasares_sp via Instagram

Julio Casares era advogado do extinto banco Bamerindus. Também era líder de um diretório local do PFL, mas se sentia enfastiado com a sigla, à qual havia se filiado anos antes, durante a campanha das Diretas Já. “Eu já estava cansado, porque o PFL era um partido, naquele momento, que fazia uma ‘garagem’ para os grandes”, contou ao Estadão.

Casares conquistou a confiança de Silvio, que o indicou, verbalmente, como vice na chapa. A aliança poderia ajudar o apresentador, ao passo em que o advogado detinha influência sobre um em cada quatro comitês do PFL da capital paulista. O quórum, por si só, não era suficiente para sustentar uma candidatura, mas poderia congregar, mediante um trabalho com as bases, mais delegados para o projeto do dono do SBT. Os delegados são os filiados com poder de voto na convenção partidária, a reunião em que é decidido o candidato de uma sigla para uma determinada eleição.

“O Silvio Santos, a essa altura, já estava com boa desenvoltura. Ele saiu procurando os diretórios, conseguiu amealhar um bom apoio”, disse Gadelha. Porém, na mesma medida, crescia a resistência liderada por Alves Pinto, que se entrincheirou e cercou as alas pró-Silvio. Para agravar o quadro, em 11 de maio, Sarita, irmã de Silvio Santos, foi sequestrada ao sair de sua casa no bairro carioca da Tijuca. As 15 horas de tensão no Rio foram suficientes para paralisar, por alguns dias, a campanha a prefeito em São Paulo.

Se a filiação antecipada era um trunfo ao apresentador, o impasse perdurou até que o tempo deixasse de correr a seu favor. Cogitou-se a realização de uma prévia, um tipo de votação em que todos os filiados, não só os delegados, obtêm o direito de escolher o candidato da sigla para uma eleição. “Mas não dava mais tempo. Só faltava um mês”, afirmou Gadelha.

À beira do prazo legal para o registro da candidatura, restou a medida mais drástica: a intervenção no diretório local. Na lei eleitoral, a intervenção é um dispositivo com o qual um diretório partidário perde seus poderes, que passam a ser ditados por um comitê interventor. Em 26 de maio, Julio Casares foi nomeado como presidente da comissão interventora no PFL paulistano. “Para minha surpresa, virei interventor. Você imagine, intervir em qualquer coisa. E, em um partido político, intervir é a coisa mais desastrosa que se tem”, disse o presidente do São Paulo, diante de um entrave partidário enquanto era, à época, mais novato em política que o próprio Silvio Santos.

PFL sob intervenção

No comando da intervenção, Casares solicitou a prestação de contas a todos os diretórios da cidade, mas nenhum delegado fora da sua esfera de influência entregou o livro caixa. O interventor alegou o não cumprimento da prestação, destituiu os delegados adversários e nomeou novos membros para os diretórios. Dessa forma, passava a viabilizar o nome de Silvio Santos em uma convenção partidária.

Os dirigentes do PFL, porém, ignoraram os decretos de Casares, permaneceram em seus postos e, à revelia da comissão interventora, marcaram uma convenção própria. O objetivo era realizá-la às pressas e escolher outro nome que não o de Silvio para ser o candidato a prefeito.

A comissão interventora pediu à Justiça para que a reunião não obtivesse validade jurídica. Foi atendida, mas os antigos dirigentes, em réplica, conquistaram uma liminar no TSE. No domingo, 31 de maio, a convenção foi realizada e elegeu Arnaldo Faria de Sá como candidato do PFL à Prefeitura. O encontro também oficializou 165 candidaturas a vereador pela sigla.

Os integrantes do PFL estavam fragmentados em dois grupos e cada uma das alas não reconhecia a legitimidade da outra. De um lado, os delegados antigos, ligados a Alves Pinto, não viam validade jurídica na intervenção; de outro, os novos delegados, ligados a Julio Casares, alegavam que eram nulas quaisquer normas baixadas pelo grupo antigo. Enquanto a Justiça não decidia quem estava certo, os prazos exigidos pela lei eleitoral se aproximavam e o partido permanecia com o destino nebuloso. O impasse foi se intensificando e a guerra nos tribunais transmutou em batalha campal.

Era 24 de junho de 1992, o último dia para os partidos apresentarem à Justiça Eleitoral seus candidatos a prefeito e vereador. Restou à comissão interventora convocar os delegados ligados ao grupo e marcar uma nova convenção. O local escolhido foi a sede social do Corinthians, no Tatuapé, em homenagem a uma das paixões de Silvio Santos. O espaço foi cedido por Marlene Matheus, esposa do lendário dirigente corintiano Vicente Matheus. A convenção prometia ser um evento completo. “O Julio Casares preparou uma festa ‘de arromba’ para o lançamento da candidatura de Silvio. Uma multidão, um povo que ele ia botar lá dentro, cantores, músicos, celebridades, tudo”, contou Marcondes Gadelha.

Mas os problemas começaram na véspera da votação, quando Marlene, de repente, avisou aos interventores que o ginásio não estaria mais disponível. “Foi uma retaliação, sem dúvida alguma”, disse Gadelha. Sem o ginásio, a “festa de arromba” estava comprometida, mas ainda poderia haver reunião em um espaço menor, como o restaurante do clube. No tumulto da mudança do local da votação, notou-se o comparecimento inusitado de todo o contingente de delegados ligados a Arnaldo Faria de Sá. “Começou um clima bélico”, recordou Casares. A presença dos arnaldistas era estranha pois, na prática, não surtiria efeito. A votação era mera formalidade e a cédula a ser utilizada nem contava com algum nome que não o de Silvio Santos. Quem estava ali nem sequer pretendia votar.

Iniciados os trabalhos, o grupo pró-Faria de Sá avançou sobre a mesa em que estavam sendo recolhidos os votos e, da reação dos delegados pró-Silvio, eclodiu uma briga generalizada.

“A gente tinha uma meia dúzia de seguranças, não davam conta do recado”, disse Gadelha. “O pau cantou. Foi pancadaria, quebra-quebra, cadeirada, tudo o que você puder imaginar. Eu nunca vi isso na minha vida, nem na cidade mais perdida aqui do interior da Paraíba.”

O ex-senador disse que, por relance, desviou do centro do furdúncio. “Me afastei da cena, não cheguei a entrar na pancadaria. Já o Julio, presidindo a reunião, estava mais suscetível.” “O Arnaldo me deu um soco que nunca vi o assoalho tão de perto”, relembrou Casares. “Sofri algumas agressões, mas também briguei.”

Golpe de mestre

O objetivo dos arnaldistas era apreender o chamado “livro ata”, que servia, aos olhos da lei, como autos dos trabalhos da convenção – essencial, portanto, para o registro da candidatura. “Podia voar cadeira, mas era o livro que eles queriam”, explicou. Casares. As cadeiras voaram e o livro ata, de fato, foi apreendido. Não só um livro, como dois, três e até quatro exemplares.

O truque foi elaborado pelo advogado Ernani Gurgel, que se antecipou à confusão e mandou confeccionar cópias dos livros, dispondo os volumes falsos sobre a mesa da convenção. O livro verdadeiro, com validade jurídica, ficou com Gurgel, que se entrincheirou em um dos banheiros até o fim da briga. “Ele (Ernani Gurgel) sentiu a ameaça no ar, correu para dentro do banheiro com os livros e se trancou”, afirmou Marcondes Gadelha.

Passava das 23h quando a comissão interventora do PFL constatou que o livro verdadeiro estava a salvo e que a convenção, por vias tortas, havia elegido Silvio como candidato a prefeito. O prazo para o registro no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), sediado no centro da cidade, se encerrava à meia-noite. A mil entre o Tatuapé e a Sé, chegou-se a tempo na sede do TRE-SP. O desafio parecia superado mas, vencida a batalha campal, a guerra retornaria aos tribunais.

Levou, mas não ganhou

Coube à Justiça Eleitoral decidir qual das convenções tinha validade jurídica: a de 31 de maio, que escolheu Arnaldo Faria de Sá como candidato, ou a de 24 de junho, que, em meio à pancadaria, elegeu Silvio Santos. O processo tramitou até agosto, ao fim do qual ambos os encontros foram anulados.

Diz a decisão judicial que o encontro de 31 de maio não deveria ter ocorrido pois, cinco dias antes, o PFL paulistano passou a estar sob intervenção. Com efeito, não cabia avaliar o mérito dessa intervenção, por se tratar de questão própria a cada partido, cuja governança é autônoma. Por outro lado, a convenção de 24 de junho incorreu em uma série de vícios: foi secreta, em local distinto do convocado e com participação de delegados que não tinham direito a voto.

Gadelha e Casares, até hoje, se revoltam com o parecer. “É uma piada”, disse o ex-senador. “Primeiro, não foi secreta. A convenção foi convocada por edital publicado na imprensa. Segundo, o local era muito apropriado, um estádio desportivo, com acesso democrático. Terceiro, os delegados tinham direito a voto, todos registrados perante um juiz eleitoral que conferiu tudo”, afirmou Gadelha. O presidente do Tricolor rechaça a decisão e comenta que, se os argumentos da Justiça procedessem, Arnaldo Faria de Sá teria homologado a candidatura a prefeito.

Algoz de Silvio, Alves Pinto acabou comendo o prato frio. Se a pré-campanha de Arnaldo pretendia obstruir os planos do apresentador, o preço pago foi muito além da conta. Como a Justiça Eleitoral anulou a convenção de 31 de maio, todos os 165 candidatos a vereador indicados pela sigla naquele dia tiveram seus registros cassados. Para completar, a confusão no registro das campanhas a vereador acabou motivando a debandada de todos os 12 deputados estaduais do PFL.

Foi a terceira vez em quatro anos que Silvio Santos flertou com as chances de virar político. Às campanhas de 1989 e 1992, somou-se um plano frustrado de ser candidato a prefeito de São Paulo em 1988. A tentativa foi efêmera e esbarrou no mesmo Arthur Alves Pinto, ao que se seguiu um problema de saúde nas cordas vocais que enterrou de vez a pré-campanha.

“Silvio era um estranho no ninho”, disse Julio Casares. “O ‘corporativo’ diz o seguinte: ‘Segura esse cara, porque ele vai virar a página da política’”, afirmou o presidente do São Paulo. “Ia oxigenar o mundo político. Eu acho que, nessas horas, pensam na própria sobrevivência.”

Paulo Maluf confirmou o favoritismo e, em novembro, foi eleito prefeito de São Paulo. Quase liquidou a eleição no primeiro turno, quando obteve 2.036.776 votos, 48,85% dos votos válidos. No segundo turno, ele venceu o então senador Eduardo Suplicy, do PT, por 2.805.201 votos a 2.024.957. O pleito foi polarizado entre Maluf e Suplicy, mas teve também as campanhas de Aloysio Nunes, pelo PMDB, e Fabio Feldmann, do PSDB.

Longe da política, Silvio Santos seguiu suas atividades como empresário, animador e apresentador de TV. Se sua campanha a prefeito é um capítulo pouco lembrado na história política paulistana, é também um inusitado prólogo da amizade entre o animador e Julio Casares, parceiros na televisão por mais de uma década.

O caminho na política partidária não vingou, mas Casares, anos depois, tornou-se presidente do São Paulo. Veio a seguir caminho similar ao de Arnaldo Faria de Sá, que em 1992 era, além de deputado federal, presidente da Associação Portuguesa de Desportos. Tornaram-se amigos e a rixa política virou quebra-gelo. Anos depois, ao se apresentarem a um amigo em comum, Faria de Sá disse, casualmente, que conheceu Julio “trocando porrada”. Faleceu em junho de 2022, aos 76 anos.

Já Marcondes Gadelha, companheiro de chapa de Silvio em 1989 e fiador da campanha à Prefeitura paulistana em 1992, seguiu na política até meados de 2010. Aposentou-se da vida pública, não antes de tentar, pela última vez, convencer Silvio de uma nova empreitada na política. “Eu sabia que alguma coisa estava represada nele”, disse o ex-senador. “Fui, conversei com ele longamente, tentei convencê-lo a voltar para a política.” Não adiantou. Silvio Santos lhe respondeu:

“Marcondes, eu estou construindo um hotel lá no Guarujá. É uma joia arquitetônica, assim, à beira-mar. Você pode vir qualquer dia, um domingo desse. Bota uma bermuda, a gente toma um whisky, toma um vinho, e fala sobre tudo. Conversa ‘abobrinha’, fala mal da vida alheia e fala até coisa séria… Mas, política, nunca mais!”

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