Uma ala da família Odebrecht foi à Justiça segundo Julio Wiziack, da Folhapress, para evitar que a ilha Kieppe, pertencente a Emílio Odebrecht, seja vendida para cobrir dívidas do grupo, que entrou em recuperação judicial há cerca de quatro anos.
A ação foi movida pela Cape Patrimonial, empresa de Eduardo Odebrecht e seus filhos, que detém 15% da Kieppe –holding que reúne ao menos cinco alas dos Odebrecht e controla as demais empresas do grupo.
Eduardo é irmão de Emílio Odebrecht, que é pai de Marcelo e Maurício Odebrecht, atual presidente da construtora, hoje chamada Novonor.
Na petição inicial, a Cape pleiteou ainda o bloqueio do Condomínio Casa do Bosque e das demais companhias por considerar ter havido gestão temerária no grupo, culminando com o envolvimento na Operação Lava Jato.
A Cape afirma que sequer foi consultada sobre o pedido de recuperação judicial.
Com cerca de 78,6 mil m², a ilha Kieppe está localizada na região de Barra Grande, entre a ponta do Mutá e Boipeba, na península de Maraú (BA).
Sua localização consta no Google Maps, mas é impossível visualizá-la por imagens de satélite. Em seu registro junto à Secretaria de Patrimônio da União, não há qualquer tipo de informação sobre benfeitorias ou número de habitantes.
Os pescadores da região, no entanto, conhecem o local como a “ilha da Odebrecht” e afirmam que há uma grande marina e uma mansão, que recebe, com frequência, Emílio e a família.
R$ 25 milhões
A ilha, contudo, não pode ser vendida. Por pertencer à União, somente seu direito de uso é “vendido”. Funciona como uma espécie de arrendamento feito pelo governo federal.
É diferente de ilhas fluviais, que pertencem a municípios e, por isso, podem ser vendidas como qualquer outro imóvel.
Ilhas similares na região estão avaliadas em R$ 25 milhões, segundo corretores internacionais que negociam os locais para estrangeiros.
A ofensiva da Cape Patrimonial é uma tentativa dos primos de Marcelo e Maurício Odebrecht de evitar o que chamam de “dilapidação patrimonial” após a recuperação judicial.
No processo, que tramita em segredo de Justiça, a Cape também pediu a entrega de documentos da Kieppe para demonstrar gestão temerária desde a Operação Lava Jato.
Eles consideram estar havendo uma venda desenfreada de bens sem que saibam, exatamente, o motivo.
Em um primeiro momento, a Justiça da Bahia concedeu a alienação do Condomínio Casa do Bosque e da ilha Kieppe, mas pediu que uma nova ação fosse aberta diante da fragilidade das acusações sobre gestão temerária.
Houve recurso e, em maio de 2023, o mesmo juiz decidiu que não caberia o bloqueio dos demais ativos do grupo, pedido que devia ter sido feito diretamente ao juiz responsável pelo processo de recuperação judicial.
Consultada, a Kieppe não quis comentar. A reportagem não conseguiu resposta da Cape Patrimonial.