Ex-auditor de qualidade de um fornecedor da Boeing que levantou preocupações sobre a segurança do jato 737 Max, Josh Dean morreu aos 45 anos. Ele havia sido hospitalizado há pouco mais de duas semanas para tratar problemas respiratórios e lutar contra pneumonia e MRSA, uma infecção bacteriana grave, de acordo com a sua tia, Carol Parsons.
“Nossos pensamentos estão com a família de Josh Dean”, disse em comunicado a Spirit AeroSystems Holdings, que fabrica peças de aeronaves para a Boeing. “Esta perda repentina é uma notícia impressionante aqui e para seus entes queridos”.
Dean prestou depoimento em uma ação judicial dos acionistas da Spirit e também apresentou uma queixa à Administração Federal de Aviação (FAA), alegando “má conduta grave por parte da gestão sênior de qualidade da linha de produção do 737” na Spirit, de acordo com a reportagem do Seattle Times.
O delator ficou em estado crítico por duas semanas. Ele testou positivo para influenza B e para uma infecção por estafilococos antes de desenvolver pneumonia, relatou a mãe dele, Ginger Green, no Facebook. Com a piora do quadro clínico, ele foi submetido a diálise e transferido para um hospital em Oklahoma City para ser conectado a uma máquina de ECMO, que assume funções vitais do coração e dos pulmões. Os médicos constataram, numa tomografia, que Dean havia sofrido um derrame.
Confirmada na manhã de terça-feira, a morte de Dean sucede o falecimento de outro denunciante da Boeing, John Barnett, que morreu devido a um ferimento autoinfligido em março, de acordo com relatos da mídia americana. O advogado de Dean, Brian Knowles, disse ao Seattle Times que não se podia fazer especulações sobre as duas mortes e que há “zero evidência” de conexão entre os casos.
— É um conjunto difícil de circunstâncias. Nossos pensamentos agora estão com a família de John e a família de Josh — disse ele, para quem “é preciso muita coragem” para ser um delator. — Denunciantes são necessários. Eles trazem à luz irregularidades e corrupção no interesse da sociedade.
Numa entrevista ao Wall Street Journal publicada no início deste ano, Dean disse que foi despedido durante a paralisação da pandemia e que, ao regressar em maio de 2021, a Spirit tinha perdido muitos dos seus mecânicos e auditores mais experientes. Ele alegou que, mais tarde, foi demitido após sinalizar buracos mal perfurados nas fuselagens, de acordo com o relatório. Um porta-voz da empresa disse na época que discordava veementemente das afirmações do processo.
Dean apresentou uma queixa ao Departamento do Trabalho alegando que sua demissão foi uma retaliação por levantar questões de segurança, ainda segundo o Seattle Times.
O histórico de segurança e a cultura do local de trabalho da Boeing estão sob escrutínio após uma série de problemas de controle de qualidade, incluindo uma explosão quase catastrófica no ar no início deste ano. O incidente em um voo da Alaska Airlines fez com que a FAA ordenasse o aterramento temporário de 171 aviões para inspeção, enquanto companhias aéreas de todo o mundo retiravam brevemente seus Max 9 de serviço. Ninguém ficou ferido, e o avião pousou em segurança.
O 737 Max tem uma história conturbada. O jato foi suspenso por reguladores em todo o mundo após acidentes mortais na Indonésia e na Etiópia, em 2018 e 2019, que mataram centenas de passageiros a bordo. Seguiu-se um período de 20 meses durante o qual legisladores e outros denunciaram a cultura de segurança da Boeing, levando a milhões de dólares em perdas de vendas e outros custos.
A ordem de proibição de voo do modelo foi suspensa em novembro de 2020 nos EUA, depois que a Boeing fez uma série de atualizações de software e mudanças de treinamento.