A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, única candidata à sua própria sucessão, destacou, nesta quinta-feira (11), a “resiliência da economia global”, impulsionada em particular pelo bom desempenho dos Estados Unidos.
Em seu tradicional discurso de abertura das reuniões de primavera (hemisfério norte) do FMI e do Banco Mundial (BM), que têm início na próxima terça-feira (16), em Washington, Georgieva demonstrou satisfação ao ver uma economia mundial “relativamente mais forte” do que o esperado.
“O crescimento mundial é ligeiramente mais forte devido à atividade robusta nos Estados Unidos e em muitas economias de mercado emergentes”, disse a diretora-gerente do FMI.
A economia americana cresceu 2,5% no ano passado, segundo dados oficiais, superando com folga outras economias avançadas.
“O consumo robusto das famílias e o investimento empresarial, bem como a redução dos problemas das cadeias de abastecimento ajudaram”, acrescentou, afirmando que a inflação está caindo “mais rápido do que o esperado”.
O FMI publicará uma atualização do seu relatório de perspectivas da economia mundial (WEO) na terça-feira, com previsões de crescimento de cada país.
As declarações de Georgieva sugerem que a instituição financeira espera que a economia mundial cresça mais do que havia previsto em janeiro, quando estimou um crescimento de 3,1% para 2024 e de 3,2% para 2025.
“É tentador soltar um suspiro de alívio. Evitamos uma recessão global e um período de ‘estagflação’ que alguns previram”, disse ela, fazendo referência à combinação entre inflação elevada e estagnação. “Mas ainda há muitas coisas com que se preocupar”, completou.
O discurso aborda uma relativa solidez econômica, inserida em uma década “decepcionante”, com um crescimento de médio prazo ligeiramente superior a 3%.
Para melhorar no futuro, é necessário desenvolver “boas políticas”, sobretudo no combate à “inflação” e à “dívida”, além do estímulo à “transformação da economia para aumentar a produtividade, a inclusão e o crescimento duradouro”, expressou.
O mundo continua se recuperando dos efeitos da pandemia de covid-19, que custou 3,3 bilhões de dólares (R$ 16,7 bilhões na cotação atual), lembrou Georgieva.
Taxa de juros e a dívida
A delicada questão da taxa de juros também foi abordada, devido às suas elevações em quase todo o mundo e principalmente nos EUA, como um mecanismo para conter a inflação.
Taxas elevadas tornam o crédito mais caro e, portanto, desestimulam o consumo e o investimento, o que exerce pressão crescente sobre os preços.
Georgieva, cujo mandato termina em setembro e é a única candidata ao cargo, elogiou o progresso neste quesito devido às “boas decisões” da política monetária, mas insistiu que ainda há um caminho a percorrer.
Segundo ela, os bancos centrais devem “resistir aos apelos para reduzir as taxas de juros muito cedo”, para evitar que um corte traga surpresas acompanhadas de um maior aperto monetário, mas também alertou que esperar muito tempo “poderia arrefecer a atividade econômica”.
Os mercados americanos esperavam um primeiro corte nas taxas em junho, perspectiva que está recuando devido ao aumento de preços maior do que o esperado nos últimos meses.
As taxas elevadas impactam o custo da dívida do Estado, “que representará cerca de 5% das receitas públicas este ano” no caso das economias desenvolvidas, excluindo os Estados Unidos, e “quase 14% das receitas” em relação aos países pobres.
Segundo a diretora, muitas nações pobres enfrentam uma crise de dívida, por isso uma “reestruturação” dos pagamentos “é necessária”.
A dirigente incentivou ainda a “transformação econômica” através de uma “transição ecológica e digital”, uma mudança que “oferece imensas oportunidades em termos de investimentos, emprego e crescimento”, concluiu.