Cerca de 2 mil pessoas foram baleadas em Salvador e Região Metropolitana em 2023 – 1.413 foram mortas e 370 ficaram feridas. Desse número, 639 foram atingidos em ações e operações policiais. Os dados são do Instituto Fogo Cruzado, maior banco de dados abertos da violência armada da América Latina. As informações são de Millena Marques e com orientação da chefe de reportagem Monique Lôbo, do jornal Correio.
O mesmo levantamento apontou que 1.804 tiroteios foram registrados na capital e na Região Metropolitana. De acordo com a diretora executiva do instituto, Cecília Olliveira, a letalidade policial é um dos principais fatores responsáveis por esse número: 37% dos tiroteios mapeados ao longo de 2023 aconteceram durante ações e operações policiais.
“Esse ano houve várias operações contra grupos de extermínio liderados por policiais civis e militares, investigados também por forjar provas contra suas vítimas. O debate sobre letalidade policial é urgente na Bahia, que não por acaso tomou do Rio o posto de estado com mais mortos pela polícia”, pontua.
O estado passou a liderar o ranking dos estados que mais matam pela ação policial em 2022, ultrapassando o Rio de Janeiro, que ocupava o primeiro lugar desde 2016. Ainda, segundo a Rede de Observatórios da Segurança – que acompanha indicadores de segurança em oito estados brasileiros, a polícia baiana mata quatro pessoas a cada 24h.
Dos 1.804 tiroteios/disparos de arma de fogo mapeados ao longo de 2023, foram 847 aconteceram em razão de homicídio ou tentativas de homicídio; 659 foram em ações ou operações policiais; 200 em razão de roubos e tentativas de roubo; 165 foram em disputas entre grupos armados. As brigas respondem por 1% dos tiros mapeados. Vale ressaltar que o Fogo Cruzado não conseguiu mapear a motivação de 7% dos tiroteios.
“Facções agem em múltiplos estados – e internacionalmente – e pouco ou nada é feito de forma articulada para de fato enfrentar o problema. Não há como ter resultados diferentes apostando nas mesmas soluções”, pontua Cecília Olliveira.
Perfil das vítimas
Das 1.783 vítimas, 1666 eram adultos, 58 adolescentes, 21 idosos e 17 crianças. Ao menos 37 agentes de segurança foram baleados nesse período – 15 morreram e 22 ficaram feridos. 70% dos agentes eram policiais militares. O levantamento não apresentou recorte de gênero e raça.
Entre o baleados em 2023, 56 pessoas foram atingidas dentro de residências, 54 dentro de automóveis e 30 em barbearias. Oito foram atingidas dentro de transporte público e cinco dentro de postos de combustível. Além disso, quatro pessoas foram baleadas dentro de shoppings, três em lava-jato, duas dentro de presídios e uma dentro de unidade de ensino.
Briga com vizinhos
No início de dezembro, mais precisamente no dia 3, Agnaldo Antunes da Silva, 47 anos, foi morto a tiros no Alto de Ondina, em Salvador, depois de uma briga com um vizinho. O suspeito pelos disparos é um policial militar lotado na 12ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Rio Vermelho), que fugiu depois de atirar, segundo as testemunhas.
Agnaldo estava bebendo e ouvindo música na frente de casa, acompanhado da filha criança, quando o vizinho, que é PM, chegou ao local e não foi cumprimentado, o que o desagradou, segundo as primeiras informações – inicialmente chegou a ser informado que a discussão foi por conta de som alto, o que a Polícia Civil não confirmou.
Segundo a Polícia Civil, o vizinho foi então até a porta da casa de Agnaldo, sacou a arma e atirou várias vezes. Fora de serviço, ele não estava fardado.
Uma equipe da própria 12ª CIPM foi chamada após o relato de que havia um homem baleado na Travessa Pinto Machado. No local, os PMs encontraram Agnaldo ferido e o socorreram para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde ele acabou tendo a morte confirmada.
O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Câmeras de segurança serão usadas na investigação, diz a polícia. Agnaldo deixa esposa e uma filha de 7 anos.
Outra vítima de briga com vizinho foi Carolina Santos Barbosa, 26, baleada no dia 3 setembro. De acordo com a Polícia Civil, informações preliminares apontam que um vizinho da vítima é o suspeito do crime. A motivação do crime não foi divulgada. Policiais da 81ª CIPM chegaram a fazer rondas na região, mas nenhum suspeito foi localizado.
Carolina chegou a ser socorrida para uma unidade hospitalar de Itinga, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na segunda-feira (4). A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil, solicitando atualizações do caso, mas não havia respostas até o fechamento desta matéria.