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quarta-feira 13 de março de 2024 às 13:24h

Índice de Desenvolvimento Humano revela aumento de desigualdade e polarização

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Relatório de 2023/24 traz classificação atualizada de 191 nações com base em dados de renda, educação e saúde; todos os países de língua portuguesa tiveram queda em relação ao período anterior, com exceção de Moçambique; secretário-geral da ONU alerta para “impacto arrasador” da polarização no desenvolvimento.

O desenvolvimento humano a nível global está em recuperação, mas esse desempenho tem sido parcial, incompleto e desigual. A situação piora a distância entre países ricos e pobres e alimenta a polarização política, segundo o relatório do Índice do Desenvolvimento Humano de 2023/24.

Os 10 melhores e os 10 piores países segundo o ranking de IDH da ONU

Em 2022

Melhores

Suíça (1º) – 0,967

Noruega (2º) – 0,966

Islândia (3º) – 0,959

Hong Kong (4º) – 0,956

Dinamarca (5º) – 0,952

Suécia (6º) – 0,952

Alemanha (7º) – 0,950

Irlanda (8º) – 0,950

Singapura (9º) – 0,949

Austrália (10º) – 0,946

Piores

Serra Leoa (184º) – 0,458

Burquina Faso (185º) – 0,438

Iêmen (186º) – 0,424

Burundi (187º) – 0,420

Mali (188º) – 0,410

Chade (189º) – 0,394

Níger (190º) – 0,394

República Centro-Africana (191º) – 0,387

Sudão do Sul (192º) – 0,381

Somália (193º) – 0,380

O estudo “Rompendo o Impasse: Reimaginando a cooperação em um mundo polarizado”, traz a classificação atualizada de 191 países com base no Rendimento Nacional Bruto per capita, educação e expectativa de vida. O lançamento foi feito nesta quarta-feira pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento, Pnud.

Posicionamento dos países de língua portuguesa

Os três países no topo do Índice de Desenvolvimento Humano são Suíça, Noruega e Islândia. Dentre os países lusófonos, Portugal é o único no grupo com desenvolvimento humano considerado muito alto, na posição 42.

O Brasil ocupa a posição 89, na faixa dos países com desenvolvimento alto. No grupo de nações com resultado médio, estão Cabo Verde, na posição 131, São Tomé e Príncipe, em 141, Angola em 150 e Timor-Leste no lugar 155.

Guiné-Bissau ocupa a posição 179 e Moçambique a 183, ambos no grupo de economias com desenvolvimento humano considerado baixo. Todos os países de língua portuguesa caíram no ranking em comparação com 2021/22, com exceção de Moçambique, que subiu de 185 para 183.

Impacto da polarização no desenvolvimento

O Pnud destaca que os países ricos registram níveis recorde de desenvolvimento humano, no entanto, metade dos países mais pobres do mundo retrocederam, permanecendo abaixo do nível de progresso anterior à crise da Covid-19.

Conforme mencionado no relatório, quase 40% do comércio mundial de bens está concentrado em três ou menos países. Além disso, em 2021 a capitalização de mercado de cada uma das três maiores empresas de tecnologia do mundo ultrapassou o valor do Produto Interno Bruto, PIB, de mais de 90% dos países naquele ano.

O secretário-geral da ONU afirmou que o mundo vive uma “era de polarização” que está afastando a possibilidade de cooperação em temas urgentes como resolução de conflitos e crise climática e tem um “impacto devastador no desenvolvimento sustentável”.

António Guterres disse que o relatório revela que a “melhor esperança para o futuro é combater a retórica divisionista e destacar objetivos comuns que unem a grande maioria das pessoas em todo o mundo”.

“Paradoxo da democracia”

De acordo com o administrador do Pnud, Achim Steiner, o “fracasso da ação coletiva” para fazer avançar o combate à pobreza e às desigualdades “não só prejudica o desenvolvimento humano, mas também agrava a polarização e corrói ainda mais confiança nas pessoas e instituições em todo o mundo.”

O relatório argumenta que o avanço da ação coletiva internacional é dificultado por um emergente “paradoxo da democracia”. Embora nove em cada 10 pessoas em todo o mundo apoiem a democracia, mais da metade dos entrevistados expressaram apoio a líderes que poderiam prejudicar a ordem democrática.

Os autores citam ainda pesquisas que indicam que os países com governos populistas têm taxas de crescimento do Produto Interno Bruto, PIB, mais baixas. Quinze anos após a posse de um governo populista, o PIB per capita é considerado 10% menor do que seria em um cenário de governo não populista.

O documento revela um “sentimento de impotência”, pois 68% das pessoas relatam que consideram ter pouca influência nas decisões do seu governo. Os autores argumentam que essa tendência, somada à polarização alimenta abordagens políticas “voltadas para dentro”.

Riscos para a cooperação internacional

Esse movimento é considerado preocupante, por estar em desacordo com a cooperação global necessária para abordar questões urgentes como a descarbonização das economias, uso indevido de tecnologias digitais e conflitos.

“Apanhada no turbilhão antiglobalização, a cooperação internacional está sendo politizada”, afirma o levantamento.

O relatório sublinha que a “desglobalização” não é viável nem realista no mundo de hoje. O Pnud ressalta que nenhuma região está perto da autossuficiência, uma vez que todos dependem de importações de outras regiões de 25% ou mais de pelo menos um tipo importante de bens e serviços.

Segundo Steiner, “em um mundo marcado pela crescente polarização e divisão, negligenciar o investimento mútuo representa um grave ameaça ao nosso bem-estar e segurança. As abordagens protecionistas não podem resolver o problema complexo, desafios interligados que enfrentamos, incluindo a prevenção de pandemias, as alterações climáticas e a regulamentação”.

O Pnud apela por uma “nova geração dos bens públicos globais”, composta por quatro eixos: o planetário, para estabilidade climática, o digital, para a equidade no acesso a novas tecnologias, o financeiro, para fortalecer a assistência humanitária e o desenvolvimento, bem como a redução da polarização e desinformação.

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