A federação entre PSB e PDT para as eleições de 2026 estava praticamente acertada ano passado, mas os dois partidos se desentenderam recentemente nas disputas municipais, o PSB filiou o senador Cid Gomes (CE) após este entrar em guerra com a cúpula do PDT e líderes de ambos os lados já dão como certo que a aliança está inviabilizada. Pior: o rompimento foi tão drástico que, agora, eles trabalham conforme Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro, do jornal Valor, para derrotar o quase aliado em seus principais colégios eleitorais.
O PSB decidiu apoiar a candidatura do grupo do PT em Fortaleza contra o prefeito José Sarto (PDT), que deve tentar a reeleição. O Ceará é o principal reduto eleitoral do PDT, Estado do ex-presidenciável Ciro Gomes e do presidente nacional em exercício do partido, o deputado federal André Figueiredo, que assumiu o cargo enquanto o presidente Carlos Lupi está licenciado como ministro da Previdência.
A insatisfação foi tão grande que pode levar até a uma inusitada aliança: o ex-deputado capitão Wagner Gomes (União Brasil), até então o principal adversário dos Ferreira Gomes no Ceará e que há anos é próximo do bolsonarismo, negocia acordo de apoio mútuo com Sarto no segundo turno contra o candidato do governador Elmano de Freitas (PT).
Além disso, o PSB filiou em fevereiro o senador Cid Gomes (CE) e dezenas de prefeitos que estavam no PDT após ele se desentender com o irmão Ciro e com a cúpula do partido. Outros cinco deputados federais do PDT no Ceará aguardam 2026 para poder deixar a sigla sem risco de perderem o mandato, o que pode reduzir a bancada na Câmara de 18 para 13 deputados.
Houve retaliação no principal reduto do PSB. O PDT nacional tirou o apoio à reeleição do prefeito João Campos (PSB) em Recife e fez aliança com a governadora Raquel Lyra (PSDB) em Pernambuco. No meio político, é dado como certo que Campos deixará a prefeitura em 2026 se for reeleito para concorrer contra Raquel.
A decisão passou inclusive por cima do diretório local do PDT. O nome indicado como secretário estadual em Pernambuco é de um pedetista do Ceará. Presidente do partido no Estado, o ex-deputado e atual secretário-executivo do Ministério da Previdência, Wolney Queiroz (PDT-PE), teria ficado incomodado com o “atropelo” e reclamou em reunião do diretório nacional do partido na segunda-feira passada. Relatou que há 35 anos é aliado dos Campos e adversário dos Lyra, que rivalizaram contra seu grupo em Caruaru, segunda maior cidade de Pernambuco.
De acordo com integrantes do PSB, ele inclusive cogitou trocar o pai de partido para a eleição em Caruaru este ano, quando Zé Queiroz (PDT) enfrentará o antigo vice de Raquel e atual prefeito, Rodrigo Pinheiro (PSDB). Procurado, Wolney negou que pretenda se desfiliar. “Nem a pau! Somos do PDT há 35 anos”, disse.
Na capital, o PDT nacional anunciou adesão a candidatura do deputado federal Túlio Gadêlha (Rede) para prefeito, num gesto que tende a desgastar João Campos por ambos disputarem votos no eleitorado de esquerda. Há expectativa também de que, se ele não for eleito, volte ao PDT para concorrer a reeleição como deputado e ajude a sigla a superar a cláusula de desempenho. Wolney, contudo, já avisou que continuará a fazer campanha pela reeleição do atual prefeito.
Outra aposta do PSB é a candidatura da deputada Tabata Amaral para a Prefeitura de São Paulo, mas os pedetistas apoiarão um adversário dela, o também deputado Guilherme Boulos (Psol).
Briga no Ceará refletiu-se em Pernambuco, principal reduto do PSB
O Recife é a única capital comandada pelo PSB e Fortaleza, a única do PDT. Semana passada eles também se desentenderam em Brasília: o PSB pretendia presidir a Comissão de Indústria, Comércio e Serviços, áreas cujos ministérios a sigla comanda no Executivo.
O PDT, porém, tinha preferência e escolheu esse colegiado, em detrimento da Comissão de Previdência – setor pilotado por Lupi no governo. Os pedetistas argumentam que queriam uma área de mais visibilidade, mas podem acabar tendo problemas já que a Comissão de Previdência ficou com a oposição.
Os embates fazem com que líderes de ambas as siglas acreditem que a federação não ocorrerá mais. “O PSB escolheu o caminho dele e nós vamos seguir o nosso”, disse Figueiredo, do PDT. Além dos desentendimentos atuais, ele lembra que o PSB esteve próximo de apoiar as campanhas presidenciais de Ciro nas duas últimas eleições “e pulou de última hora para apoiar o PT”, mesmo com a ajuda dele para que João Campos superasse Marília Arraes (então no PT).
Líder do PDT na Câmara, o deputado Afonso Motta (RS) destacou que a federação era importante para os dois. “Quem está fora da polarização, como nós, tem que se aproximar de iguais para poder isolar os radicais”, argumentou. “Mas diferenças de estratégia na eleição municipal tornam isso muito improvável.”
A federação era uma tentativa de ambos superarem a cláusula de desempenho na eleição e evitar que ficassem sem direito ao fundo partidário e propaganda na TV e rádio após um tombo na eleição de 2022, quando perderam quase metade de seus deputados federais.
A cláusula exige que façam mais de 2,5% dos votos para a Câmara no país em 2026. Com a federação, PSB e PDT teriam que atuar juntos por quatro anos no Congresso e nas eleições em todas as cidades e Estados.
O PSB chegou a reunir sua Executiva nacional ano passado e aprovar a composição, mas os pedetistas preferiram esperar a eleição de 2024 e firmar o compromisso só para a eleição nacional. Agora, essa possibilidade é quase nula. Como alternativa, eles projetam possíveis aliança com o Solidariedade, Avante ou até PSDB.
Apesar dos desentendimentos, há ainda quem acredite numa recomposição mais à frente, quando a eleição nacional ficar mais próxima. “Esse estremecimento aconteceu, posições de um que o outro não gostou. Mas acho que isso não atrapalha planos futuros que são importantes para o fortalecimento dos dois”, disse uma das vice-presidentes nacionais do PSB, a deputada federal Lídice da Mata (BA).