Parlamentares de esquerda usaram as redes sociais para criticar a manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que ocorreu na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo. O ato foi convocado depois que o ex-chefe do Executivo foi alvo de operação da Polícia Federal (PF) por supostas investidas golpistas.
Em postagem na rede social X (antigo Twitter), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, definiu a manifestação como um “ato ilegítimo” e disse que “representantes do verdadeiro risco para a democracia brasileira não podem ser normalizados”.
“Bolsonaro quer levar seus seguidores para a cadeia também, essa é a única explicação para convocar um ato ilegítimo em “defesa do Estado democrático de Direito” quando ele está sendo investigado justamente por articular um golpe de Estado. Nunca é demais lembrar que esse grupo, marcado por perseguir ministros do STF, pedir intervenção militar e o fechamento do Congresso, atacaram a Constituição no quebra-quebra do 8 de janeiro de 2023. Representantes do verdadeiro risco para a democracia brasileira não podem ser normalizados!”, escreveu neste domingo.
Gleisi também afirmou que o Brasil e o mundo “conhecem o prontuário antidemocrático, ditatorial e fascista” do ex-presidente.
“Não adianta amaciar discurso nem posar de vítima, o Brasil e o mundo conhecem o prontuário antidemocrático, ditatorial e fascista de Jair Bolsonaro. Continua sendo e sempre será uma ameaça à democracia, ao estado de direito e à paz. O que Bolsonaro fez foi terceirizar para Malafaia os ataques que sempre fez à Justiça, às instituições e à verdade
O discurso de Bolsonaro foi típico de um farsante, do começo ao fim. Devia ter apresentado à Polícia Federal sua versão fabulosa sobre o decreto de golpe. Seria confrontado com as provas da conspiração, que previa tropas na rua e prisão de ministros e adversários
Quando fala em anistia para os condenados pelos atentados de 8 de janeiro, Bolsonaro está mirando sua própria impunidade. É incapaz de defender interesses que não sejam os dele. Com golpista não tem que ter complacência, a começar pelo chefe de todos eles”, disse a presidente do PT.
O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, afirmou que, ao convocar o ato, Bolsonaro empurra seus aliados mais fiéis para uma “manifestação de desespero” que pode virar prova judicial de atos antidemocráticos.
“Sabendo que vai ser preso, Bolsonaro empurra seus aliados mais fiéis para uma manifestação de desespero que tem tudo pra virar mais uma prova judicial de atos antidemocráticos. Quem vai sabe o risco que corre. A Polícia Federal estará assistindo”, disse Freixo.
Pré-candidato à prefeitura da capital de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) criticou a presença do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do prefeito Ricardo Nunes (MDB) no ato, definido por ele como um palanque “em defesa da milícia golpista”.
“Tarcísio e Ricardo Nunes não representam o povo de São Paulo no palanque em defesa da milícia golpista. Sem Anistia!”, escreveu Boulos.
“Já falaram de democracia, Bolsonaro já ‘chorou’ em cima do trio com a camisa amarela e colete à prova de balas e Michele já discursou com trilha emotiva.Mas nada que faça o Brasil esquecer um golpe de Estado frustrado”, completou.
O deputado federal André Janones (Avante-MG) disse que fala do ex-presidente durante ato pareceu um “discurso de despedida de quem sabe que está prestes a ser preso”.
“Resumo da fala de Bolsonaro na Paulista: Bolsonaro assumiu que tinha conhecimento da minuta de golpe e tentou justifica-la. (Uma das coisas mais burras que eu já vi alguém fazer na vida) e pediu anistia, parece um discurso de despedida de quem sabe que está prestes a ser preso”, afirmou.
Já o senador Randolfe Rodrigues (sem partido) ironizou a manifestação ao publicar uma imagem que destaca o resultado da eleição presidencial de 2022.
“A imagem que nocauteia qualquer manifestação golpista em 36 segundos”, disse.
Mais cedo, a deputada federal Erika Hilton escreveu que “há golpistas na Paulista, inclusive um ladrão de joias e de rolex”, em referência a uma das investigações das quais Bolsonaro é alvo.
“Cuidado ao passarem por São Paulo, hoje. Há golpistas na Paulista, inclusive um ladrão de joias e de rolex!”, afirmou.
Mobilização em SP
O ato começou, oficialmente, às 14h, mas desde o início da manhã a avenida, um dos cartões postais da capital paulista, já registrava movimentação intensa, com a presença de apoiadores do ex-presidente vestindo camisas verde e amarelo, além de bandeiras do Brasil, de Israel e de Bolsonaro estendidas nas calçadas. O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) ficou fechado neste domingo por conta da manifestação.
Bolsonaro chegou à Avenida Paulista às 14h40 e subiu ao trio elétrico por volta das 15h, ao lado de sua esposa Michelle Bolsonaro, e estendeu uma bandeira de Israel e depois cantou o hino nacional. Junto a ele no trio, estavam os senadores Magno Malta (PL-ES) e Marcos Pontes (PL-SP), o pastor Silas Malafaia, os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de Minas Gerais, Romeu Zema (PL), de Goiás, Ronaldo Caiado (União) e de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), além do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e vários deputados federais, como Marcos Feliciano (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG) e Gustavo Gayer (PL-GO).