terça-feira 26 de novembro de 2024
O satélite europeu de sensoriamento remoto da Terra pesava cerca de 2,5 toneladas na época do lançamento - Foto: ESA
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quarta-feira 21 de fevereiro de 2024 às 13:18h

O satélite pioneiro de 2 toneladas prestes a cair sobre a Terra; assista vídeo da queda

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Um satélite europeu pioneiro deverá cair na Terra nas próximas horas.

O ERS-2 era uma plataforma de observação com tecnologia de ponta quando foi lançado em 1995 — e ajudou a forjar tecnologias que agora são usadas rotineiramente para monitorar o planeta.

A atividade do aparelho diminuiu gradualmente desde o encerramento das operações dele, em 2011.

Agora, o aparato sofrerá um “mergulho” descontrolado e violento na atmosfera durante a quarta-feira (21/2).

A Agência Espacial Europeia (ESA) afirma que a maior parte do satélite de duas toneladas irá queimar e se desfazer durante a descida.

É possível que algumas peças maiores e robustas possam suportar o intenso aquecimento gerado durante a queda em alta velocidade, mas as chances desses fragmentos atingirem áreas povoadas e causarem danos são mínimas, garantem os especialistas.

Esses pedaços de satélite poderiam pousar em quase qualquer lugar do mundo — mas, com a maior parte da superfície terrestre coberta pelo oceano, quaisquer detritos que sobrevivam ao atrito provavelmente serão perdidos no mar.

“E vale a pena destacar que nenhum dos elementos que podem entrar na atmosfera (e atingir a superfície) é radioativo ou tóxico”, afirmou o cientista Mirko Albani, do Departamento de Observação da Terra da ESA.

Temperatura da superfície do mar

CRÉDITO,ESA

Legenda da foto,A temperatura da superfície do mar: a monitorização climática atual tem uma ‘dívida’ com o programa que lançou os satélites ERS

A ESA lançou dois satélites de sensoriamento remoto da Terra — conhecidos pela sigla ERS — quase idênticos na década de 1990.

Ambos faziam as observações planetárias mais sofisticadas da época e carregavam um conjunto de instrumentos para acompanhar as mudanças que ocorriam na terra, nos oceanos e no ar.

Os aparelhos monitoraram inundações, mediram as temperaturas continentais e da superfície oceânica, rastrearam o movimento dos campos de gelo e observaram a deformação do solo durante os terremotos.

O ERS-2, especificamente, introduziu uma nova possibilidade de avaliar a camada de ozônio que protege a Terra.

A dupla de satélites foi descrita como os “avôs da observação da Terra na Europa”.

“Em termos de tecnologia, é possível traçar uma linha direta desde o ERS até aos satélites europeus Copernicus/Sentinel que monitoram o planeta hoje”, diz Ralph Cordey, gestor de Desenvolvimento do Setor de Observação da Terra da Airbus.

“O ERS foi onde tudo começou”, complementou ele.

O ERS-2 é o primeiro da dupla a voltar para casa. Ele ficava originalmente a 780 km acima da Terra, e os engenheiros usaram as reservas finais de combustível em 2011 para reduzir a altitude dele para 570 km.

A expectativa era que a camada superior da atmosfera arrastasse a espaçonave até a destruição em cerca de 15 anos.

Segundo os cientistas, é exatamente isso que deve acontecer nesta quarta, 13 anos após a redução da altitude.

ERS-2

CRÉDITO,AIRBUS

Legenda da foto,A empresa alemã Dornier (agora parte da Airbus) liderou a montagem dos satélites ERS

O satélite deve colapsar entre o fim da manhã e o período da tarde, no horário de Brasília, desta quarta-feira (21/2).

É difícil de determinar precisamente quando e onde ele vai cair. Isso varia conforme a densidade da alta atmosfera, que por sua vez é influenciada pela atividade solar.

O que se pode afirmar com certeza é que a reentrada ocorrerá entre 82 graus Norte e Sul, pois esta era a extensão da órbita do satélite ao redor da Terra.

Os especialistas em detritos espaciais da ESA calculam que pouco material do ERS-2 resistirá ao atrito e chegará à superfície da Terra.

ERS-2 pictured about 250km above the Earth

CRÉDITO,HEO

Legenda da foto,A HEO, uma empresa australiana de rastreamento, está acompanhando a descida do ERS-2

Os fragmentos que podem chegar à superfície incluem painéis internos e algumas peças metálicas, como tanques de combustível.

O elemento com a maior probabilidade de atravessar a atmosfera de alguma forma é a antena do sistema de radar, que foi construído no Reino Unido.

A antena possui uma construção em fibra de carbono capaz de tolerar altas temperaturas.

Quando o ERS-2 foi lançado, as diretrizes de mitigação sobre detritos espaciais eram muito mais flexíveis. Trazer para casa uma espaçonave 25 anos após o fim das operações era considerado algo aceitável.

A nova Carta Zero Detritos da ESA recomenda que o período de carência para eliminação desses objetos não exceda cinco anos. E os futuros satélites serão lançados com o combustível necessário e a capacidade de saírem de órbita por meio da propulsão num curto espaço de tempo.

A razão é óbvia: com tantos satélites em órbita, o potencial de colisões aumentou consideravelmente.

O ERS-1, por exemplo, falhou repentinamente antes que os engenheiros pudessem diminuir a altitude dele.

Esse aparelho ainda está a mais de 700 km acima da Terra. Nessa altura, pode levar 100 anos até que ele caia de forma natural.

Interferograma de radar

CRÉDITO,ESA

Legenda da foto,A falha de Hayward na Califórnia: o ERS foi pioneiro no mapeamento do movimento das rochas

A empresa americana SpaceX, que opera a maior parte dos satélites funcionais atualmente em órbita — são mais de 5,4 mil — anunciou recentemente que iria derrubar 100 deles após descobrir uma falha que “poderia aumentar a probabilidade de falhas no futuro”.

A companhia quer remover os objetos antes que qualquer problema torne a tarefa mais difícil.

Na semana passada, a Secure World Foundation, um grupo de defesa do uso sustentável do espaço, e a LeoLabs, uma empresa norte-americana que rastreia detritos espaciais, emitiram uma declaração urgente sobre a necessidade de remover aparelhos na órbita que não funcionam mais.

“O acúmulo de objetos abandonados na órbita baixa da Terra continua igual; 28% dos atuais objetos massivos de longa vida abandonados foram deixados em órbita desde a virada do século”, diz o texto.

“Esses aglomerados representam o maior potencial de geração de detritos para os milhares de satélites recentemente implantados que alimentam a economia espacial global”, conclui a declaração.

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