A notícia de que a Rússia teria desenvolvido uma arma antissatélite deixou os Estados Unidos em alerta. O que isso significa? A Casa Branca confirmou nesta última quinta-feira (15) que a Rússia obteve uma “perturbadora” e inovadora arma antissatélite, mas garantiu que a tecnologia ainda não está operacional e não pode provocar diretamente “destruição física” na Terra.
O EUA disseram que estão analisando as características desta tecnologia emergente e mantiveram contato com aliados e parceiros sobre o tema.
A confirmação da Casa Branca veio após um alerta emitido na quarta-feira pelo republicano Mike Turner, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados, que definiu a nova tecnologia como uma séria ameaça à segurança nacional.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rejeitou as alegações americanas como um “ardil” para pressionar o Congresso a aprovar mais financiamento de defesa para a Ucrânia.
Uma arma antissatélite é classificada como uma arma espacial. Mas o que isso significa? A DW reuniu as principais informações.
O que são armas espaciais
Trata-se de armas estacionadas na Terra e direcionadas contra alvos no espaço. Ou o contrário: armas estacionadas em estações espaciais ou mísseis no espaço que podem atacar alvos na Terra ou no próprio espaço.
Os mais conhecidos são os chamados “satélites assassinos”, colocados em órbita com o objetivo destruir especificamente outros mísseis.
Para que podem ser usadas as armas espaciais?
Vários usos são possíveis. No entanto, muitas dessas armas ainda não estão tecnicamente “maduras” o suficiente.
A discussão atual sobre a Rússia trata, especificamente, de armas antissatélite – ASAT, abreviação em inglês para anti satellite activity.
Estas armas, que muitas vezes tem a forma de um satélite, destinam-se a destruir outros satélites no espaço, como satélites espiões, ou satélites que apoiam operações militares em Terra (que não são chamados de armas espaciais).
Guerras modernas, como a da Ucrânia, hoje em dia já não são concebíveis sem o apoio de satélites: eles fornecem fotos aos militares em segundos. Além disso, a comunicação dentro do exército ou a navegação em sistemas de armas complexos dificilmente seria possível sem eles.
Por isso, qualquer um que ataque satélites inimigos pode conseguir uma boa vantagem.
A discussão é nova?
Não, no final da década de 1950, quando a era das viagens espaciaisestava apenas começando, os Estados Unidos experimentaram armas disparadas em grandes altitudes por bombardeiros B-47 com o objetivo de interceptar satélites. No entanto, elas ainda eram bastante imprecisas.
O mesmo ocorreu na extinta União Soviética: desde o início ficou claro que satélites estrangeiros poderiam representar potencialmente uma ameaça. No entanto, também na URSS os testes com sistemas de defesa na década de 1960 não foram além de meras experiências.
Na década de 1980, no auge da guerra fria, ambas as superpotências retomaram pesquisas com armas espaciais e desenvolveram protótipos – que acabaram se revelando muito caros.
Desde aquela época se discute os riscos das armas espaciais. Por exemplo: os destroços dos satélites destruídos podem ser perigosos se seguirem voando pela órbita da Terra.
Em novembro de 2021, a Estação Espacial Internacional (ISS) esteve temporariamente em perigo porque os destroços de um antigo satélite soviético que a Rússia havia derrubado deliberadamente entraram em seu caminho. Na época, Moscou negou ter colocado a estação em risco.
O que diz o direito internacional
Outra razão pela qual o espaço próximo da Terra ainda não está cheio de armas espaciais é o chamado Tratado do Espaço Exterior. Após uma série de resoluções da ONU, o tratado foi aprovado em 1967 e ratificado pelas então superpotências EUA e União Soviética, entre outros países, incluindo o Brasil.
Aparentemente, tornou-se rapidamente claro para todas as nações envolvidas que a utilização militar do espaço oferecia pelo menos tantos riscos quanto benefícios.
O Tratado do Espaço Exterior proíbe, entre outras coisas, o estacionamento de armas nucleares no espaço. Também não é permitida a construção de bases militares em corpos celestes. Tudo isto restringe severamente o uso de armas espaciais – como muitos dizem, com razão.