A Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal decidiu barrar a produção de peças nas redes sociais que ironizem o envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), familiares ou aliados em investigações da Polícia Federal. A orientação foi alterada depois de uma publicação com indireta ao vereador Carlos Bolsonaro, filho do ex-mandatário, ter gerado cobrança do presidente Lula por explicações e reações negativas até entre governistas.
Segundo Jeniffer Gularte e Sérgio Roxo, do O Globo, essa nova diretriz ficou evidente na semana passada, quando nenhuma publicação foi feita após a investida mais ampla da operação que mirou Bolsonaro e aliados.
No fim de janeiro, Carlos Bolsonaro foi alvo de mandados de busca e apreensão por suposta participação em um esquema de monitoramento ilegal praticado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A Secom publicou nas redes socais uma peça com a mensagem “toc, toc, toc”, que orientava a população a receber a visita de agentes comunitários de saúde para o combate à dengue.
A publicação foi criticada por integrantes do governo, que mostraram o post a Lula. Em seguida, o presidente pediu explicações ao ministro da Secom, Paulo Pimenta. O mandatário questionou a origem do meme “toc, toc, toc”. Auxiliares explicaram que a então deputada Joice Hasselmann, em discurso na Câmara, usou a onomatopeia para simular batidas da polícia na porta do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, preso em junho de 2022 durante a operação da PF que investigava suposto tráfico de influência na liberação de recursos.
Também foram levados a Lula vídeos com comentários que condenavam a estratégia do governo usada na publicação. De acordo com relatos, o presidente afirmou a auxiliares que não gostou da abordagem da publicação. No entanto, ao ser consultado se o post deveria ser excluído, o mandatário reduziu a importância das críticas e decidiu manter a publicação nas redes.
Surfando nos assuntos
Pimenta deu entrevistas e usou as redes sociais para justificar o post. O ministro alegou que as publicações, para terem engajamento, precisam se valer de “janelas de oportunidades e fluxos que a comunicação digital precisa considerar”, disse.
Auxiliares do presidente admitem que a postagem foi inadequada e fez galhofa com um tema sério, que é o combate à dengue. Também avaliam que ofereceu margem para acusação de que a operação da PF que tinha Carlos Bolsonaro como alvo era uma ação política. A Secom não vai, no entanto, abandonar a estratégia de “marketing de oportunidade”, com o uso de assuntos que estão em alta nas redes sociais para obter mais audiência. Nos últimos dias, tem feito isso usando, por exemplo, o Oscar e o Big Brother Brasil.
Crivo do ministro
A Secom também não deixará de usar ironia de forma geral em peças. A nova orientação, porém, prevê que peças que possam dar margem a acusações de viés político passem pelo crivo de Paulo Pimenta, o que não ocorreu no caso da publicação do “toc, toc, toc”.
Em março, o ministro, porém, havia dado aval para uma peça sobre a declaração de imposto que dizia “e aí, tudo joia?”. A publicação ocorreu logo após a revelação que o governo Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o Brasil um conjunto de brilhantes recebido pelo ex-ministro Bento Albuquerque na Arábia Saudita, em 2021, e destinado a Michelle Bolsonaro.
Em junho, Paulo Pimenta também autorizou o post que dizia “grande dia”, ao tratar da redução do preço da gasolina. A publicação foi feita na mesma data em que Bolsonaro foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A expressão era usada com frequência por bolsonaristas para ironizar adversários.