Integrantes do PL reclamam segundo Camila Turtelli, do O Globo, que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deixou o partido “acéfalo” ao impedir o contato entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, e o general Walter Braga Netto, também ocupante de um cargo na sigla. Eles são hoje os responsáveis por definir a estratégia eleitoral da legenda e arbirtar disputas internas para definir candidaturas nos municípios.
Os três são investigados pela Polícia Federal por participar de uma investida golpista e apontados como entusiastas de questionamentos feitos ao sistema eleitoral após as eleições presidenciais. Em sua decisão sobre as investigações, Moraes determinou que os alvos não mantenham contato entre si. Além disso, Valdemar foi preso em flagrante na quinta-feira por posse ilegal de arma de fogo e usurpação de bem público por investigadores terem encontrado uma pepita de ouro de origem suspeita.
A oito meses das eleições municipais, é neste período do ano que partidos negociam alianças, desenham chapas com candidatos a vereador e resolvem nós sobre as alianças políticas locais. Essas decisões, no PL, passam pelo crivo do grupo.
Para os correlegionários, o diálogo entre os investigados pela Polícia Federal é crucial para que o PL possa avançar nos seus planos para fazer o partido crescer em número de prefeituras. Desde o meio do ano passado, Bolsonaro, Valdemar e Braga Netto fazem reuniões semanais com outros eventuais participantes, como presidentes de diretórios estaduais da sigla, advogados e demais correligionários para definir as estratégias. O grupo trabalhava para lançar 3 mil candidatos às prefeituras do país, com metas como conseguir pelo menos 150 prefeituras em São Paulo.
No início do mês que vem, eles deveriam ir à Bahia, juntamente com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, para definir candidaturas locais. Uma pendência no estado, por exemplo, é a disputa em Feira de Santana, onde há dois nomes da direita –Capitão Alden (PL) e Zé Ronaldo (União)— interessados em concorrer. A expectativa é que Bolsonaro fosse um interlocutor no diálogo para definir a estratégia na cidade baiana. A viagem agora é incerta.
—Isso é um atentado grave às funções legítimas, democráticas e constitucionais de um partido político— afirmou o presidente do PL baiano João Roma (PL-BA).
PL terá o maior cofre de dinheiro público
O PL terá esse ano o maior cofre de dinheiro público para turbinar suas candidaturas, com cerca de R$ 880 milhões, valor 500% maior do que os R$ 146,5 milhões de quatro anos atrás, quando elegeu 345 prefeitos, nenhum deles nas capitais.
A intenção neste ano é triplicar o número de prefeituras e ultrapassar a barreira de mil cidades. O investimento busca também minimizar a presença nas chapas de nomes com um passado de alinhamento à esquerda. O partido integrou a base nos primeiros mandatos de Lula e em parte da gestão de Dilma Rousseff, mas, quase uma década depois, apostará na polarização para alavancar o próprio espaço.
—Vocês têm que entender que nós estamos em um ano eleitoral. O PL tem uma previsão de fazer muitos prefeitos e muitos vereadores em todo o Brasil. É claríssima a espetacularização e o uso da Justiça. Esse consórcio do Executivo com o Judiciário para enfraquecer a direita, já estão pedindo o fechamento do Partido Liberal— disse o senador Jorge Seif (PL-SC).
Uma das preocupações entre os integrantes do PL sobre a acefalia causada pelas operações é sobre o período da janela partidária, que acontece entre 7 de março e 5 de abril, em que vereadoras e vereadores poderão trocar de partido para concorrer às eleições sem perder o mandato.
Por outro lado, há no PL quem avalie reservadamente que a operação da Polícia Federal e a prisão de Valdemar possa funcionar como uma espécie de nova “facada” para direita, uma alusão ao atentado sofrido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, durante a campanha eleitoral de 2018, que elevou sua popularidade.