Membros da direção nacional do PSDB afirmam a coluna Painel, da Folha, que têm a expectativa de que o ex-chanceler Aloysio Nunes tome a iniciativa de se licenciar do partido a partir do momento em que comece a chefiar a divisão de assuntos estratégicos do escritório da Apex em Bruxelas, cargo para o qual foi escolhido pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo um dos dirigentes ouvidos pela coluna, Nunes é muito querido e respeitado na legenda, mas o gesto seria bem recebido para não gerar precedentes de tucanos em cargos na gestão petista.
Desde o final de 2023, quando Marconi Perillo assumiu a presidência do PSDB no lugar de Eduardo Leite, o partido tem tentado demarcar mais abertamente sua oposição ao governo Lula.
Em 2024, por exemplo, a direção da legenda tem investido na estratégia de lançar candidaturas próprias para as eleições municipais das maiores cidades, com ênfase no discurso de construir uma alternativa ao petismo e ao bolsonarismo.
Procurado pelo Painel, Nunes afirma que não pretende se licenciar do PSDB e que, se quiserem, podem tentar expulsá-lo.
O ex-chanceler afirma que o argumento subjacente ao pedido para que se licencie é o de que o bolsonarismo e o lulismo seriam dois radicalismos que devem ser igualmente combatidos. Segundo Nunes, trata-se de “um estratagema de um oportunismo de direita que esta muito presente no PSDB”.
“Um partido que tem democracia no nome deve combater o radicalismo da extrema direita: esse é a negação da democracia e dos seus valores fundamentais, da ciência e dos direitos humanos”, completa.
Nunes diz que Lula não é um radical. “É um reformista pragmático que cresceu, e seu partido também, ao longo de anos de lutas democráticas. Esse negócio de ‘dois radicalismos’ é conversa mole para boi dormir”, afirma o tucano.
“É um governo de inspiração social-democrata, como nós [do PSDB] fomos, um pouco mais à esquerda. A ideia de que existem dois radicalismos me afasta definitivamente desse grupo [do PSDB]. O PSDB tem que se alinhar com campos democráticos, contra a extrema direita, que está aí atuante, ameaçadora, e não só no Brasil. Essa é a posição correta de um partido democrático”, acrescenta.
O ex-senador emenda uma provocação aos que defendem que se licencie do PSDB: “será que pediram que o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas, se licenciasse após visitar os bolsonaristas presos do 8 de Janeiro na Papuda?”.