Com o fim do recesso legislativo, nesta segunda-feira (5), senadores seguem no mesmo impasse sobre os rumos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Braskem, que inicia o ano sem relator definido. O imbróglio ameaça dividir segundo Julia Lindner e Caetano Tonet, do jornal Valor, a base aliada do governo na Casa e pode adicionar uma dose de tensão à já desgastada relação com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que é contra o colegiado.
Na semana passada, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) cobrou publicamente o funcionamento da comissão. A pressão aumentou após relatório da Agência Nacional de Mineração (ANM), revelado pelo portal “UOL”, concluir que há minas para extração de sal-gema em Maceió, capital de Alagoas, que seguem sem monitoramento adequado e com risco de novos colapsos.
“Gravíssimo o parecer da ANM que revela erros, imprecisões e defasagem de dados sobre as 35 cavernas da Braskem. É assustador o alerta da possibilidade de novos colapsos, como o da mina 18. Ainda há argumentos contra a CPI?”, questionou Renan, em suas redes sociais.
Nos bastidores, o senador alagoano está empenhado em assumir a relatoria da CPI, mas seu nome enfrenta resistência até mesmo entre governistas. Membros de partidos da base aliada, como PT e PSD, defendem Rogério Carvalho (PT-SE) para a função, contra a vontade de Renan.
Alguns integrantes da base reclamam, em caráter reservado, da insistência do alagoano em ocupar o posto, dizendo que isso pode inviabilizar os trabalhos. Já aliados de Renan rebatem as críticas sob o argumento de que ele tem direito por ser um dos autores do colegiado.
Vice-líder do governo no Senado, Jorge Kajuru (PSB-GO) está disposto a ceder a vice-presidência da CPI a Renan. A ideia, no entanto, não empolga o alagoano.
“É muito injusto Renan não ser presidente, vice ou relator. Por isso, vou me colocar à disposição dos colegas para ir para a relatoria e o Renan ficar como vice-presidente”, disse Kajuru. Apesar do impasse, o senador garantiu que os trabalhos na CPI vão começar no dia 20 deste mês. “A CPI vai acontecer, não tenho dúvida”, afirmou.
A decisão final caberá ao presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), que disse ao Valor que a deliberação ficará para depois do feriado de carnaval.
“Esta próxima semana será semipresencial no Congresso, não vai ter ninguém. Não tem condições de fazer uma reunião. A CPI vai acontecer, mas isso (escolha do relator) ficará para depois do carnaval”, declarou Aziz.
O senador negou que exista um movimento entre os colegas para evitar que a relatoria seja dada a Renan. “Nós ainda estamos conversando”, pontuou.
Aziz e Renan aproximaram-se na CPI da covid-19, quando o amazonense foi o presidente e a relatoria ficou com o alagoano. Esse é um dos trunfos do emedebista para ocupar o cargo também no colegiado que investigará a Braskem.
Ligado a Arthur Lira, o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL) é um dos principais adversários de Renan e não esconde a sua contrariedade em vê-lo como relator por um suposto conflito de interesses. No ano passado, o líder do PSD, Otto Alencar, também se opôs a essa ideia e defendeu que o cargo não seja ocupado por um alagoano.
Questionado sobre um possível impasse com Renan, Alencar respondeu que a decisão sobre a relatoria cabe a Omar Aziz.