Das 1.413 pessoas que morreram em registros de violência armada em Salvador e região metropolitana ao longo de 2023 segundo reportagem de Wendel de Novais, do jornal Correio, 190 perderam a vida em 48 chacinas. O que mais chama a atenção, no entanto, é o motivo mais recorrente desses registros: ações e operações policiais. Entre as chacinas mapeadas, 33 foram durante ações ou operações policiais, o que representa 69% dos casos. Ao todo, estas ações deixaram 136 civis mortos, 72% das vítimas fatais.
As informações são do relatório anual do Instituto Fogo Cruzado, que indica a participação das polícias nos tiroteios e nas chacinas na Bahia superando índices de outros estados, como o Rio de Janeiro, onde o número de tiroteios com participação policial representou 34% dos registros. Horacio Nelson Hastenreiter é professor associado a Escola de Administração da Ufba e coordena uma das turmas do mestrado em Gestão da Segurança Pública,
O professor aponta que a letalidade das ações policiais, bem como a recorrência de chacinas decorrentes delas, são causadas pelo nível de enfrentamento imposto por grupos armados e despreparo de agentes da polícia. “Há um despreparo dos policiais para esse novo modo de violência com a chegada de grupos criminosos munidos de um armamento que impõe um nível de enfrentamento que puxa a letalidade das ações para cima. O uso da força policial, em uma escala mais agressiva, causa isso”, fala.
O professor aponta que as ações que funcionam são baseadas no uso da ciência de dados para colher informações e colocá-las em um processo investigativo. Ele acrescenta ainda problemas no foco de combate e na estruturação das forças de segurança. “Ao invés de se combater o tráfico de drogas, se faz o combate das pessoas que o fazem. Não se combate, de maneira devida, a logística, o modo de escoamento ou a estratégia com que o tráfico opera. Além disso, esse tipo de criminalidade ramificada e estruturada à modo nacional. Porém, a estrutura de combate é estadual”, completa, orientando uma atuação integrada em termos nacionais.
Tailane Muniz, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado na Bahia, aponta que os dados remetem a um momento de crise no setor de segurança estadual. “A população está constantemente na linha de tiro e o governo parece não querer fazer muita coisa para solucionar. Os dados do Fogo Cruzado são fundamentais porque servem de insumo para a população pressionar as autoridades por políticas públicas específicas, que garantam direitos como dignidade e segurança”, afirma Tailane Muniz,
A região metropolitana registrou ainda 120 tiroteios durante perseguições na região metropolitana que resultaram em 111 pessoas baleadas. Deste número, 90% das perseguições (108) ocorreram em ações policiais que deixaram 97 baleados.