A Guarda Revolucionária Islâmica do Irã solidificou a sua posição como potência regional proeminente nos últimos anos.
A organização afirma abertamente que as bases dos EUA no Oriente Médio, bem como as bases israelenses em Tel Aviv e Haifa, estão ao alcance dos seus mísseis balísticos.
Na noite de segunda-feira (15/1), Teerã deu uma demonstração clara de sua intenção, quando a Guarda Revolucionária lançou 11 mísseis balísticos contra Erbil, a capital da região semiautônoma do Curdistão do Iraque.
Pelo menos quatro civis foram mortos e seis ficaram feridos, segundo o governo regional. O primeiro-ministro Masrour Barzani classificou o ataque como um “crime contra o povo curdo”.
A Fars News, uma agência próxima da Guarda Revolucionária, afirmou que três bases da Mossad, afiliadas ao serviço de inteligência de Israel, foram destruídas no ataque.
O governo do Curdistão iraquiano negou a presença de agentes estrangeiros no seu território, enquanto Israel não se pronunciou.
No dia seguinte, o Irã também lançou mísseis contra uma região no oeste do Paquistão.
No entanto, a Guarda Revolucionária demonstrou que pode realizar ataques precisos ao bombardear a residência do proeminente empresário e multimilionário curdo, Peshraw Dizayee. Ele foi morto no ataque.
Dizayee era proprietário e fundador de duas empresas – Falcon Group e Empire World – nos anos que se seguiram à invasão do Iraque pelos EUA em 2003. A Reuters diz que ele era próximo da família do premiê Barzani.
Sua casa foi atingida por quatro mísseis e há relatos de que sua filha de 11 meses também foi morta no ataque.
O Grupo Falcon opera em vários setores, incluindo segurança, construção e petróleo e gás. A sua divisão de segurança tem prestado assistência a representantes e empresas americanas e a vários representantes ocidentais no Iraque.
A precisão do ataque sublinha a mensagem de que a Guarda Revolucionária não só pode atingir estruturas civis, como também pode atacar instalações militares perto do aeroporto internacional de Erbil, a poucos quilômetros de distância da base da coligação liderada pelos EUA.
Os EUA têm 2.500 soldados no Iraque, incluindo em Erbil, que fazem parte da coligação liderada pelos EUA contra o grupo Estado Islâmico (EI).
Washington diz que os homens estão lá para apoiar as forças locais e evitar o ressurgimento do EI, que no passado controlav vastas áreas do Iraque e da Síria.
Em 25 de dezembro, um alto comandante da Guarda Revolucionária foi morto no que teria sido um ataque aéreo israelense nos arredores de Damasco.
No ataque de 15 de janeiro, a Guarda Revolucionária também lançou mísseis balísticos na província de Idlib, no noroeste da Síria. A organização disse que tinha como alvo o EI e outros “grupos terroristas” na região.
Idlib é o último reduto da oposição remanescente, lar de 2,9 milhões de sírios deslocados, que apoiaram a revolta de 2011 contra o presidente Bashar al-Assad.
Al-Assad conseguiu permanecer no poder com o apoio militar da Rússia e do Irã.
O grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sharm (HTS) é o principal que controla Idlib, embora o EI e a Al-Qaeda também estejam presentes.
A Guarda Revolucionária afirmou que o ataque foi uma retaliação aos atentados suicidas do EI em Kerman, no sul do Irã, em 3 de janeiro.
Multidões se reuniam perto do túmulo do comandante da Guarda Revolucionária Qasem Soleimani para celebrar o aniversário da sua morte quando dois homens-bomba atacaram.
A Guarda Revolucionária afirma ter usado um míssil Kheibar Shekan para atingir Idlib, que pode viajar até 1.450 km.
O organização disse também que lançou o ataque a partir da província do Khuzistão, no sul.
No entanto, a Guarda Revolucionária poderia ter lançado os mísseis em Idlib a partir da província ocidental do Azerbaijão, que está muito mais próxima.
A escolha da localização e do sistema de mísseis Kheibar Shekan sugerem que o Irã quer mostrar ao mundo que tem capacidade de atingir vários locais em Israel, que faz fronteira com a Síria.
Ataque no Paquistão
Além dos ataques na Síria e no Iraque, o Irã também lançou mísseis contra uma região no oeste do Paquistão na terça-feira (16).
O ataque atingiu uma aldeia na vasta província fronteiriça do sudoeste do Baluchistão.
Teerã disse que tinha como alvo o Jaish al-Adl, um grupo muçulmano sunita balúchi que realizou ataques dentro do Irã, bem como contra as forças do governo paquistanês.
Já autoridades paquistanesas disseram que duas crianças foram mortas e outras três ficaram feridas no bombardeio. Islamabad disse que o ataque aéreo foi um “ato ilegal” e alertou que poderia levar a “sérias consequências”.
A China pediu nesta quarta-feira (17) ao Paquistão e ao Irã que “evitem ações que possam levar a uma escalada de tensão”. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, acrescentou que Pequim vê os países como “vizinhos próximos”.