Numerosa e barulhenta no Congresso, a oposição ao governo de Lula da Silva (PT), liderada pelo PL, de Jair Bolsonaro, revê estratégias conforme revela Gabriel Sabóia, do O Globo, para evitar repetir erros do ano passado, quando amargou derrotas importantes e acabou isolada. Segundo líderes do grupo, a ideia é reforçar as diferenças em relação à esquerda, como a posição contrária a temas como direito ao aborto e descriminalização das drogas, e se preparar para ter um candidato competitivo para a sucessão na presidência da Câmara, no início de 2025.
Com 99 deputados no PL, três no Novo e nomes espalhados por partidos como União Brasil, Republicanos, PP e MDB, a oposição da Câmara viu a CPI do MST, tida como principal flanco de desgaste para os governistas no ano passado, fracassar. Já no Senado, onde reúne em torno de 30 nomes, só passou a sair vitoriosa quando o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), encampou pautas do grupo, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limitou decisões individuais de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em importantes votações, como a Reforma Tributária, a oposição conviveu com divisões — o PL, por exemplo, liberou a bancada. Além disso, Republicanos e o PP, do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), passaram a ocupar ministérios, dividindo as suas respectivas bancadas e compondo a base do governo em pautas relevantes.
Com o desafio de retomar o protagonismo, os oposicionistas ainda convivem com incertezas para 2024, como em relação à presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Apesar de um acordo para que o PL comandasse o principal colegiado da Casa neste ano, Lira já externou a intenção de quebrar o pacto, dando a comissão a um nome que poderia sucedê-lo na presidência da Casa.
No horizonte, o grupo também dá mostras de que voltará a se dividir: não há consenso em relação a uma candidatura própria do PL à presidência da Casa em 2025, defendida pelo líder nacional da legenda, Valdemar Costa Neto, mas que enfrenta resistências na bancada.
— O PL terá candidato à presidência da Câmara. Desta forma, manteremos a relevância da maior bancada do Congresso — disse Valdemar ao jornal O Globo. — E levantaremos as pautas da segurança pública e da saúde no Congresso, além de defendermos os nossos valores e sermos contrários às votações de pautas ideológicas.
Olho em prefeitura
Valdemar aposta que a crise na segurança pode representar uma oportunidade para a direita predominar nas eleições municipais. Com o objetivo de eleger prefeitos, o PL deve conduzir debates que critiquem o atual modelo que limita a atuação das guardas municipais pelo Brasil, por exemplo. O partido trabalha para triplicar a quantidade de municípios governados, saltando dos atuais 343 para 1.200. Para impulsionar as candidaturas, o ex-presidente Jair Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro vão percorrer o país.
Foi justamente ao encampar pautas de grupos específicos, como ruralistas, que a oposição conseguiu algumas vitórias sobre o governo. Na mais significativa delas, o Congresso aprovou o marco temporal para demarcação das terras indígenas e, na sequência, derrubou os vetos de Lula ao projeto.
— A direita já deixou claro que tem força. Com autocrítica e estratégia para novos projetos, fica absolutamente competitiva — avaliou o senador Eduardo Gomes (PL-TO), que foi líder do governo Bolsonaro.
Líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ) avalia que a maior vitória da oposição no ano passado foi o governo não aprovar pautas de costume. De acordo com ele, o foco em 2024 será eleger prefeitos pelo Brasil. E, para isso, a Câmara terá papel fundamental.
— A nossa maior vitória de 2023 foi a defesa das pautas conservadoras, sem deixar que as pautas de comportamento, como o direito ao aborto e a liberação das drogas, prosperassem. Para 2024, temos o foco nas eleições municipais — disse Côrtes.