O governo Lula passou 2023 fazendo concessões e promovendo mudanças para tentar formar uma base no Congresso. Apesar de o Palácio do Planalto ter obtido algumas vitórias importantes, a luta está longe de terminar. Uma das principais frentes de batalha junto ao Poder Legislativo envolve a complexa relação com o União Brasil.
Segundo Adriana Ferraz, da Veja, há algum tempo a insatisfação com o partido já era visível, pois ele é “dono” de três ministérios e, aos olhos do Executivo, nunca se mostrou capaz de entregar apoio político na mesma medida. Pelo contrário. Entre as legendas consideradas da base, é a que mais atrapalha o governo. Na aprovação da reforma tributária no apagar das luzes do ano passado, um terço da bancada se comportou como se fosse de oposição. Foram dezessete os parlamentares contrários (30,5%), percentual muito superior ao registrado por outras legendas aliadas, como MDB (7%), PSD (5%), Republicanos (10%) e PP (19,5%). Isso aumentou de vez os rumores de que a sigla será alvo inevitável de uma nova reforma ministerial.
Embora estejam na composição do governo (admitem ser “donos” de apenas dois ministérios, pois consideram o da Integração e do Desenvolvimento Regional, ocupado por Waldez Góes, uma escolha da cota pessoal do senador Davi Alcolumbre), os caciques do União Brasil batem no peito dizendo que são “independentes”. Uma das explicações para a isso estaria no fato de a legenda tentar mostrar força a fim de angariar mais espaço. “Nós estamos colaborando, queremos que o governo dê certo”, diz o presidente nacional, o deputado federal Luciano Bivar (União Brasil-PE). “Mas, claro, todo o partido quer ser ouvido. Estamos aqui para isso.” O comportamento errático tem a ver ainda com o fato de que parte da bancada é bolsonarista e, além de marcar pontos contra Lula, alimenta o sonho de ter uma candidatura de oposição em 2026 (o governador goiano Ronaldo Caiado, integrante da sigla, tem se apresentado como “presidenciável”).
Oficialmente, a gestão petista nega qualquer pretensão de mexer na composição das pastas, mas não esconde a insatisfação com a legenda, mesmo depois de fazer vários acenos a ela. Em julho, por exemplo, a fim de atender aos apelos da sigla, que defendia uma mudança no comando do Ministério do Turismo para garantir mais votos, tirou do cargo a deputada Daniela Carneiro e a substituiu pelo colega Celso Sabino. Após o resultado da recente votação da reforma tributária, Daniela ironizou o “apoio” entregue pelo partido: “Agora, a culpa é de quem?”. A conta de carregar no governo o União também é vista como desvantajosa em termos de imagem devido a episódios como as polêmicas envolvendo Juscelino Filho, ministro das Comunicações, alvo de investigações por desvios de recursos. Por essas e outras, sai ano, entra ano, e o União Brasil continua rendendo dores de cabeça ao Planalto.
Publicado na revista Veja de 5 de janeiro de 2024, edição nº 2874