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quinta-feira 4 de janeiro de 2024 às 08:50h

O que se sabe sobre o ataque que matou dezenas no Irã

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Mais de 80 morreram após duas explosões em cerimônia em homenagem a general iraniano assassinado pelos EUA. Irã promete vingança. Analistas não creem em envolvimento de Israel ou dos americanos.No quarto aniversário da morte do general iraniano Qassim Soleimani, pelo menos 84 pessoas morreram e 284 ficaram feridas em duas explosões em Kerman, cidade localizada 820 quilômetros a sudeste de Teerã. Nesta quinta-feira (4), os serviços de emergência iranianos corrigiram mais uma vez a cifra de óbitos para baixo, depois de terem anunciado inicialmente a morte de 103 e depois baixado a cifra para 95.

O chefe da Organização Nacional de Emergência Médica do Irã, Jafar Miadfar, atribuiu a confusão sobre os números à condição dos corpos.

Este foi o ataque mais letal nos 45 anos de história da República Islâmica do Irã. O incidente tem potencial para agravar ainda mais as tensões no Oriente Médio, já exacerbadas pela guerra entre Israel e o grupo radical palestino Hamas.

Até esta quarta-feira, o ataque mais letal em solo iraniano desde a Revolução Islâmica havia sido o atentado com um caminhão-bomba à sede do Partido Islâmico Republicano em Teerã, que matou 72 pessoas, incluindo quatro ministros de Estado, oito 8 vice-ministros e 23 parlamentares.

Nenhum grupo assumiu a autoria do atentado desta quarta-feira, ocorrido durante um evento em memória de Soleimani, ex-líder da poderosa Força Quds da Guarda Revolucionária iraniana, unidade de elite responsável pelo serviço de inteligência e por conduzir operações militares secretas no exterior.

O governo chama o ocorrido de ataque terrorista e ordenou luto nacional para esta quinta-feira.

O chefe de Estado do país, o aiatolá Ali Khamenei, anunciou uma reação forte. “Vocês devem saber que este ato catastrófico resultará numa resposta dura”, enfatizou o líder religioso na quarta-feira, em comunicado publicado pela mídia estatal. O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, também condenou veementemente o ataque terrorista e cobrou uma resposta dura. Teerã acusa os EUA e Israel de estarem envolvidos nas explosões.

Condenação internacional

O governo alemão condenou o ataque como um ato de terrorismo, assim como o gabinete do chefe da política externa da UE, Josep Borrell.

O governo brasileiro divulgou nota oficial nesta quarta-feira também condenando o atentado. “Ao expressar suas condolências aos familiares das vítimas e sua solidariedade ao povo e ao governo da República Islâmica do Irã, o Brasil reitera seu mais firme repúdio a todo e qualquer ato de terrorismo”, diz comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

Os EUA negam qualquer responsabilidade. “Os Estados Unidos não estiveram de forma alguma envolvidos, e qualquer insinuação em contrário é ridícula”, disse o porta-voz do Departamento de Estado americano Matthew Miller, nesta quarta-feira em Washington. Ele acrescentou que seu governo também “não tem motivos para acreditar” que Israel esteja envolvido no incidente.

“Também não creio que Israel esteja por trás destes ataques”, afirma o especialista em Oriente Médio Arash Azizi, da Universidade Clemson, no estado americano da Carolina do Sul, em entrevista à DW.

“Existem várias razões pelas quais Israel já não seria o principal suspeito. Em primeiro lugar, Israel não está atualmente procurando um confronto militar com o Irã. Em segundo, Israel não realizou até agora nenhum ataque contra civis inocentes no Irã. É verdade que há suspeitas de que Israel tenha realizado ataques direcionados contra cientistas do programa atômico iraniano e membros da Guarda Revolucionária dentro e fora do Irã. Mas esses atentados evitaram vítimas civis. Segundo autoridades iranianas, os atentados de quarta-feira não mataram nenhum comandante da Guarda Revolucionária ou outros altos funcionários”, afirmou.

Ramificações do EI ou Estados inimigos?

Há sinais de que o chamado “Estado Islâmico – Província de Khorasan” (EI-K) possa estar por trás das explosões, avalia Arash Azizi. Este grupo é uma ramificação regional do “Estado Islâmico” que atua principalmente no Afeganistão. Azizi acredita que as duas bombas detonadas, uma após a outra, tinham como objetivo matar o maior número possível de civis: após a primeira explosão, muitas pessoas reuniram-se no local, assim como algumas equipes de resgate, muitas das quais foram mortas pela segunda bomba.

“Um ponto decisivo é que a primeira bomba foi colocada perto de um museu cujo edifício costumava ser um templo do fogo zoroastrista”, disse Azizi. “O EI-K considera não apenas a religião do zoroastrismo, mas também o Irã, a cultura iraniana e, por último, mas não menos importante, o xiismo como a maior ameaça ao Islã.” Segundo Azizi, alguns dos seus colegas também suspeitam que o “Estado Islâmico” seja o mentor. No entanto, é surpreendente que o EI-K não tenha assumido responsabilidade pelo crime – o que é altamente incomum.

“O regime iraniano parece ser forte visto de fora, mas se olharmos mais de perto, é muito vulnerável”, diz Ali Fathollah-Nejad, fundador e diretor do Centro para o Oriente Médio e a Ordem Global (CMEG) em Berlim. Ele também não acredita que Israel esteja por trás do atentado. No que diz respeito ao conflito em Gaza, ele ressalta: “É improvável que Israel leve a cabo uma operação deste tipo neste momento, que visou principalmente civis”.

Herói nacional assassinado pelos EUA

O general Qassim Soleimani, que foi uma espécie de arquiteto das atividades militares iranianas no Oriente Médio, é tido como um herói nacional pelo regime teocrático iraniano.

Entre suas atuações na região, ele ajudou a preservar o governo do presidente da Síria, Bashar al-Assad, durante as revoltas de 2011 na Primavera Árabe que resultaram na guerra civil no país, que continua até os dias atuais.

Sua popularidade no Irã aumentou durante a invasão americana no Iraque em 2003, quando ele se tornou alvo dos EUA por ajudar grupos radicais a colocarem bombas em estradas que mataram e mutilaram soldados americanos.

Uma década mais tarde, Soleimani se tornaria o principal e mais conhecido líder militar iraniano. Ele rejeitou o clamor popular para que entrasse para a política, embora fosse tão ou mais poderoso do que as lideranças civis do país.O assassinato do general, ocorrido durante o governo do presidente Donald Trump, agravou as tensões entre Washington e Teerã e resultou na saída iraniana do acordo nuclear entre o regime islâmico e o Ocidente.

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