A inclusão de uma crítica ao centrão em documento oficial do PT virou foco de tensão durante uma reunião virtual da cúpula do PT. O tema gerou um embate entre a presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), e líderes petistas no Congresso Nacional.
O choque em torno do centrão expôs segundo Catia Seabra, da Folhapress, uma divergência entre os membros da CNB (Construindo um Novo Brasil), corrente majoritária do PT e integrada pelo presidente Lula.
O Diretório Nacional do PT finalizou, durante reunião na segunda-feira (11), a redação de uma resolução partidária cujo texto-base havia sido aprovado na sexta-feira (8).
O texto afirma que “as forças conservadoras e fisiológicas do chamado centrão, fortalecido pela absurda norma do orçamento impositivo num regime presidencialista, exercem influência desmedida sobre o Legislativo e o Executivo, atrasando, constrangendo e até tentando deformar a agenda política vitoriosa na eleição presidencial”.
Durante a reunião virtual de segunda, por volta das 19h40, o líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), consultou os participantes sobre regras para apresentação de emendas.
O objetivo de Zeca era propor uma emenda justamente para suprimir as queixas contra o centrão, sob o argumento de que a menção prejudicava a agenda no Congresso.
O líder petista tinha o apoio do deputado federal Washington Quaquá (RJ). Gleisi foi contra e informou que o prazo havia expirado no sábado (9).
Segundo participantes, Gleisi alegou que o teor do texto-base já era de conhecimento público desde sexta, por causa de vazamento à imprensa, e que seu impacto já estava precificado. A presidente do PT disse ainda que não seria por causa de um documento de avaliação política do partido que seriam geradas dificuldades no Congresso junto ao centrão.
Ainda de acordo com relatos, Zeca rebateu Gleisi e alegou que a resolução já estava criando problemas. Segundo ele, a retirada da crítica ao centrão amenizaria um clima péssimo que teria sido criado no Legislativo. O líder do PT na Câmara argumentou que um preciosismo regimental poderia custar caro ao governo.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), também interveio para defender a exclusão da referência ao centrão. Ele justificou que se tratava de uma “questão meramente tática”, em função dos interesses da semana.
Guimarães chegou a afirmar que tinha “total concordância com o texto”, mas ressaltou que estão na pauta do Congresso matérias decisivas para o governo. Pessoas que acompanharam o debate disseram à Folha que Guimarães sugeriu que a menção ao centrão fosse inserida posteriormente.
Gleisi então minimizou novamente o efeito de um documento petista sobre os humores no Congresso. Ela afirmou que, se existe descontentamento no centrão, os motivos seriam outros.
Segundo os relatos, ela afirmou ainda que o governo deveria rever cargos e ministérios concedidos ao centrão caso o grupo político use um documento interno do PT como pretexto para impor dificuldades no Congresso.
Ela também recomendou que os integrantes do diretório nacional prestassem mais atenção aos procedimentos internos. Além de Zeca, Quaquá e Guimarães, outros petistas —como os deputados Carlos Zarattini (SP) e Benedita da Silva (RJ) e o senador Humberto Costa (PE)— defenderam a retirada da crítica ao centrão.
Após cerca de duas horas de discussão, o texto com a crítica ao centrão foi aprovado por 46 votos a favor e 4 contra. Quaquá se absteve.
Além da menção crítica ao centrão, também foi sugerida a retirada da expressão “austericídio”, em alusão à política fiscal e vista como uma estocada no ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). A referência também foi mantida.