Por Celso Masson
Em 2015, quando comprou a Tapada de Coelheiros, na região do Alentejo, em Portugal, o brasileiro Alberto Weisser não entendia nada sobre como produzir bons vinhos. Egresso do setor de commodities agrícolas (foi presidente da Bunge por duas décadas), ele sabia, contudo, que era preciso mudar muita coisa naqueles vinhedos até chegar aos rótulos de seus sonhos.
“Os antigos donos produziam 400 mil garrafas por ano, com um monte de marcas baratas. Nós eliminamos tudo, reduzimos o volume para 10% inicialmente e fomos aumentando até chegar a 150 mil garrafas este ano”, afirmou Weisser à revista IstoÉ Dinheiro, em sua mais recente visita ao Brasil.
Mais importante que diminuir o volume para ganhar em qualidade e assim agregar mais valor ao vinho, porém, foi a decisão de mudar o propósito da vinícola.
Para isso, não bastaria ter vinhedos exclusivamente orgânicos. Weisser entendeu que era preciso fazer mais, adotando práticas de cultivo biológicas que privilegiem a harmonia da fauna e flora autóctones da região. “Sentimos a responsabilidade de preservar o patrimônio natural garantindo a sua sustentabilidade”, afirmou o produtor. “Começamos com coisas tipo carbono zero, energia solar. Agora quero chegar ao momento em que a gente não use mais água de poços.” Para isso, usará plantas para frear a água da chuva de modo que reabasteçam naturalmente o aquífero.
O cuidado com a água integra uma visão de Weisser que não se limita à Tapada de Coelheiros. Vale para o planeta. Dos 800 hectares da propriedade, 650 são de floresta, boa parte com sobreiros, de onde se extrai a cortiça. “Temos 50 hectares de vinhas e 25 hectares de nozes onde praticamos agricultura regenerativa. Nosso rebanho de 1,3 mil ovelhas se alimenta do mato que cresce entre as fileiras do parreiral”, afirmou, acrescentando exemplos práticos da vantagem dessa interação.
“Ao pastar, as ovelhas deitam o capim e a vegetação acumula o orvalho da noite. Neste ano, que choveu pouco na região, nossos vizinhos que usam agricultura química tiveram muito mais problemas do que nós, com as práticas orgânicas”, disse.
“Muitos franceses têm vindo nos visitar para saber como conseguimos fazer nosso rosé.”
Alberto Weisser, dono da coelheiros
Solo nutrido
Desde 2016, a equipe de viticultura e enologia da Tapada de Coelheiros é liderada por Luís Patrão. Há três anos, ele passou a alimentar o solo com microrganismos misturados a melaço. Uma prática que, somada às outras adotadas no manejo sustentável, melhora não apenas a estrutura das plantas como o meio ambiente de todo o entorno. E o resultado desse cuidado aparece na taça.
“Obviamente o vinho melhorou. Temos recebido visitas de produtores franceses que querem entender como estamos conseguindo fazer nosso rosé, que lembra os da Provence”, disse Weisser. Elaborado com 100% de uvas da variedade Syrah, o elegante Coelheiros Rosé chega ao Brasil pela importadora Mistral, assim como os demais rótulos da vinícola. Os preços variam de pouco mais de R$ 200 (Tinto DOC 2019) a R$ 1.049, caso da garrafa double magnum, de três litros.
Assim como os franceses têm notado a evolução do que Weisser produz, cada vez mais os especialistas dos Estados Unidos valorizam os avanços da vinícola. “No ano passado, a Tapada de Coelheiros saiu na revista do The New York Times como um dos 50 lugares no mundo que é preciso visitar”, afirmou o produtor.
Animado com esse tipo de reconhecimento, ele segue em busca de melhorias constantes. Uma de suas apostas é numa parcela de Touriga Franca, plantada em substituição a variedades brancas em uma encosta que não ia muito bem. “Essa uva é mais resistente, é o Merlot de Portugal”, disse Weisser.