O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, na manhã deste sábado (9), telefonema do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de acordo com o Palácio do Planalto. A conversa foi sobre a disputa com a Guiana pela região de Essequibo, rica em petróleo. De acordo com o governo, Lula defendeu o diálogo entre os dois países sul-americanos .
Segundo o governo, o presidente Lula “transmitiu a crescente preocupação dos países da América do Sul sobre a questão do Essequibo”. Lula ressaltou que é importante evitar medidas unilaterais que levem a uma escalada da situação, de acordo com o Palácio do Planalto.
Desde a realização do referendo na Venezuela que tratou da anexação de Essequibo, no dia 3 de dezembro, a diplomacia brasileira entende que a situação se agravou. Isso porque Maduro chegou a nomear um general para ser a “única autoridade” sobre o território pertencente à Guiana e ainda ordenou que a PDVSA, petroleira venezuelana, emitisse licenças de exploração na costa do país vizinho.
Nos últimos dois dias, dois fatos contribuíram para a escalada das tensões. Os Estados Unidos realizaram um exercício conjunto com a Força Aérea da Guiana, e a Rússia anunciou que Vladimir Putin deve ter encontro bilateral com Maduro em Moscou, no domingo.
Na conversa neste sábado, Lula expôs os termos da declaração sobre o assunto aprovada na Cúpula do Mercosul e assinada por Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Colômbia, Peru, Equador e Chile.
“(O presidente) Recordou a longa tradição de diálogo na América Latina e que somos uma região de paz”, segundo o governo. “Fez um chamado ao diálogo e sugeriu que o presidente de turno da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), Ralph Gonsalves, trate do tema com as duas partes. O presidente Lula reiterou que o Brasil está a disposição para apoiar e acompanhar essas iniciativa”, afirma o texto
Entenda o caso
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tem repetido há dias que seu governo recuperará o Essequibo, uma região em disputa que representa mais de 70% do território da vizinha Guiana, após a aprovação de um referendo, no último domingo, que reivindicou dois terços do território do país vizinho. Para invadi-lo por terra, no entanto, Caracas teria de necessariamente passar pelo território brasileiro, o que embora seja possível, não parece provável no contexto atual, disseram especialistas ao jornal O Globo.
Na terça-feira, a situação foi agravada pelo conjunto de medidas anunciadas por Maduro, que determinou a criação de uma zona de defesa integral da “Guiana Essequiba”, como o regime chama o território. Em discurso à nação, o presidente venezuelano também apresentou um novo mapa do país, que inclui a região, e disse que a nova versão passaria a vigorar nas escolas e universidades. O major Alexis Rodríguez Cabello foi nomeado “autoridade única” do território.
Maduro ainda ordenou à estatal petrolífera PDVSA a concessão de licenças para a exploração de recursos na região, onde empresas petrolíferas locais e estrangeiras, em especial a americana ExxonMobil e a francesa TotalEnergies, operam sob autorização do governo da Guiana.
Desde 2019, a Guiana vive um boom econômico por causa do petróleo, quando a gigante ExxonMobil começou a explorar na região reivindicada pela Venezuela depois da descoberta de enormes reservas nas águas costeiras do país em 2015. No ano passado, a pequena nação sul-americana já havia registrado um crescimento recorde de 62,3% graças ao petróleo e deve bater 37% neste ano — maiores índices do mundo.