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O deputado federal Aécio Neves (MG) em evento do PSDB em agosto - PSDB no X
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sexta-feira 1 de dezembro de 2023 às 06:54h

PSDB encolhe e volta para Aécio

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Tucano dá sinais de que está voltado para o próprio Estado

Ainda está por se ver o rumo que o apequenado PSDB irá tomar, mas a convenção nacional da sigla nessa quinta-feira não deixou dúvidas sobre quem está com o controle: o deputado federal Aécio Neves (MG). Foi ele o autor da costura que colocou o ex-governador de Goiás Marconi Perillo na presidência nacional da sigla, no lugar do presidenciável Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. Leite resistia a Marconi, que apoiou o ex-governador paulista João Doria na disputa interna pela candidatura presidencial no ano passado, mas não conseguiu viabilizar um nome próprio. A alternativa do gaúcho, o ex-governador cearense Tasso Jereissati, não era aceita pelo grupo do parlamentar mineiro.

Leite foi reverenciado como candidato a presidente por praticamente todos os oradores do evento em que Aécio nem sequer discursou, mas o fato é que fracassou como dirigente nacional do PSDB. Ele assumiu a presidência da sigla em janeiro, mas a falta de uma reestruturação do diretório paulista inviabilizou sua gestão, segundo apoiadores do próprio governador gaúcho. Somente a 72 horas do fim de sua presidência Leite destituiu a direção estadual do PSDB em São Paulo, removendo o ex-deputado estadual Marco Vinholi, ligado a Doria, e colocando provisoriamente à frente da seção paulista o prefeito de Santo André, Paulo Serra.

Os apoiadores de Doria no PSDB paulista nunca aceitaram Leite como presidente e foram à Justiça para forçar o seu afastamento. Antes de uma decisão judicial final, o gaúcho concordou em sair. Doria se diz afastado da política e do PSDB. O ex-governador goiano deve fomentar a retomada do diálogo dentro da sigla, mas em bases diferentes das que havia antes da ruptura entre o núcleo paulista e o de Leite e Aécio.

A interlocutores, Aécio diz que a subordinação da direção nacional da sigla aos interesses do grupo político de São Paulo está na raiz da péssima eleição que o partido fez em 2022. Houve, na visão que compartilhou com aliados, uma perda de controle do processo.

Na visão do entorno do mineiro, o partido passou a priorizar a reeleição de Rodrigo Garcia em São Paulo. Garcia era vice de Doria e assumiu o cargo quando o titular se desincompatibilizou para ser candidato a presidente, mas tinha como estratégia de campanha não se vincular a nenhuma candidatura ao Planalto no primeiro turno. Doria desistiu de ser candidato, mas a posição de seu substituto tornou impraticável o lançamento de outro nome pelo PSDB. Derrotado, Garcia bandeou-se para o lado do ex-presidente Jair Bolsonaro, sem esperar uma posição nacional da legenda.

Depois da eleição o PSDB paulista passou a viver um processo de desmanche, com centenas de prefeitos abandonando a sigla e migrando para a base de partidos do novo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ainda assim, o grupo de Leite nunca chegou nem perto de controlar o diretório estadual.

A questão paulista não foi a única a afastar Leite da direção nacional. Segundo dirigentes do partido, pesaram também as circunstâncias de governar um Estado em dependência crescente de colaboração com o governo federal, até mesmo em função das catástrofes climáticas desse ano. E para o PSDB se autoafirmar, segundo comenta Aécio, é preciso estar inequivocamente na oposição. Com Marconi no comando, é previsível que o partido se torne mais agressivo em relação ao Palácio do Planalto.

É dentro dessas premissas que Aécio deve começar a construir um novo projeto de poder em Minas Gerais, remontando os cacos da sua biografia. Depois da derrota ao tentar a Presidência em 2014, Aécio teve a sua imagem pública destruída ao ser envolvido nos escândalos da JBS e da Lava-Jato. Foi absolvido dos processos que respondia em julho, mas ainda evita exposição na cena nacional.

A crise da dívida mineira dificulta ao governador Romeu Zema fazer seu sucessor em 2026, abrindo uma janela para Aécio tentar se recolocar. O tucano aproveitou a brecha na semana passada, ao apresentar uma proposta própria para garantir a solvência do Estado sem privatização dos ativos ou transferência deles para a União.

A iniciativa tem pouca chance de prevalecer sobre a alternativa negociada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) diretamente com Zema e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas sinalizou que o tucano se volta para o próprio Estado. Perguntado se pretende disputar novamente o governo de Minas Gerais, sinalizou que está trabalhando para isso, usando os despistes clássicos dos manuais da política, que já não despistam ninguém.

Dino no STF

De todos os presidentes do Brasil do período da redemocratização, apenas Dilma Rousseff não indicou como ministro do Supremo Tribunal Federal um auxiliar direto. Ao formalizar Flávio Dino para a vaga que era de Rosa Weber, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz portanto um movimento que está longe de ser inédito.

O que não é comum é a indicação de alguém com mandato eletivo. Dino se elegeu senador no ano passado. De 1985 para cá, isso só tinha acontecido uma única vez: em 1993, quando Itamar Franco indicou Maurício Correia, ministro da Justiça e senador pelo Distrito Federal.

Conforme observou o professor Alvaro Palma de Jorge, da FGV do Rio, por mais que Dino desperte animosidade da oposição pelos enfrentamentos que teve com o bolsonarismo como ministro da Justiça, o fato de pertencer ao Legislativo pode torná-lo um elemento apaziguador no Supremo.

Por César Felício, o profissional do jornal Valor passou pelas redações da “Gazeta Mercantil”, “Jornal do Brasil” e “O Estado de S.Paulo. Cobriu a presidência da República e o Senado. Está no Valor desde 2000.

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