Em meio à insatisfação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os rumos da Petrobras, voltou a circular nos bastidores o nome do ministro da Casa Civil, Rui Costa, para assumir a presidência da empresa em 2024.
A eventual indicação anima segundo Andrea Jubé, Fabio Murakawa e Renan Truffi, do jornal Valor, alas do PT e do próprio governo que criticam o estilo árido do ministro por considerá-lo incompatível com uma das pastas de maior interação com a classe política. Foi o perfil assertivo de “gestor”, encomendado por Lula, contudo, que o consolidou no cargo, de onde ele vem ampliando espaços de poder como “homem forte” do presidente.
Quanto ao estilo de atuação, um aliado do ministro, ouvido pelo Valor ponderou que “nem sempre um político regional se torna um grande político nacional”. Rui Costa deixou o governo da Bahia em 2022 acumulando vitórias: reelegeu-se governador em 2018 no primeiro turno, com mais de 75% dos votos válidos, e, no ano passado, fez o sucessor, Jerônimo Rodrigues (PT), em uma disputa acirrada.
Este mesmo aliado, ligado aos partidos de centro, demonstrou a diferença entre Rui Costa e outro líder baiano que foi hábil para projetar sua liderança para o plano nacional: o ex-governador e ex-presidente do Senado Antônio Carlos Magalhães (ACM). Tal proeza, segundo esta fonte, exige jogo de cintura, faro e visão ampla da política – atributos que Rui ainda não desenvolveu.
Uma liderança do PT disse ao jornal que a pouca disposição de Rui Costa ao diálogo e a postura muitas vezes inflexível na tomada de decisões ofuscam suas qualidades, como obsessão pelo trabalho, e dificultam sua relação com a classe política. Segundo este petista, Rui é capaz de entrar em reuniões sem cumprimentar os demais participantes. Há momentos, ainda, em que sua obstinação por alguns temas dificultaria até mesmo a harmonia das relações no Palácio do Planalto.
No entanto, um ministro próximo de Costa rebateu essas críticas. Em sua avaliação, as reclamações à atuação do ex-governador da Bahia devem ser interpretadas dentro de um contexto em que Lula reuniu vários ex-governadores – todos “camisas 10” em seus Estados – para formar o ministério.
Dessa forma, todos esses ministros deveriam aprender a jogar no mesmo time, onde passou a existir um único “camisa 10”, para o qual todos devem passar a bola: o presidente da República.
Com essa metáfora, este ministro alegou que tanto Rui Costa quanto outros ex-governadores que se tornaram ministros foram obrigados a abandonar hábitos de quando chefiavam os Executivos locais, passando a imagem até mesmo de “autoritários” em algumas situações. Ele afirma, contudo, que todos já estão se adaptando à nova realidade em que o único “craque” do time é Lula.
Na semana passada, Rui alinhou-se ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, no embate com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, pela redução do preço dos combustíveis diante da queda no valor internacional do barril de petróleo e da desvalorização do dólar. Atribuíram-se a Costa movimentos para indicar o secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Marcus Cavalcanti, para a sucessão de Prates, que estaria oscilando no cargo.
Costa foi a público negar a articulação. O Valor ouviu de um auxiliar de Lula, entretanto, que o presidente confidenciou a poucos interlocutores que enxerga em Costa um potencial sucessor de Prates se decidir mudar o comando da companhia.
Economista de formação, Rui Costa tem conhecimento do setor de óleo e gás porque começou a carreira no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, nos anos 80, quando se aproximou do hoje líder do governo no Senado, Jaques Wagner – seu principal padrinho na política, ao lado de quem ajudou a fundar o PT.
Interlocutores de Costa reconhecem a instabilidade de Prates no cargo, mas negam que o ministro possa vir a substitui-lo. Atribuem os rumores a fogo amigo de quem tenta afastá-lo da Casa Civil.
Lula mandou Rui Costa se movimentar para mudar a percepção de ser de difícil trato
Devido ao perfil de “tocador de obras”, Lula avaliou nomear Costa para a Petrobras, ainda na transição, ou para uma pasta de infraestrutura, como Desenvolvimento Regional. Lula queria Costa em algum posto de expressão tanto pelas vitórias na Bahia, quanto pelos gestos. Ele abriu mão de uma cadeira garantida de senador para ceder a vaga para Otto Alencar (que se reelegeu), e manter a aliança com o PSD.
Se Costa enfrenta fogo amigo internamente, ele atravessa uma das fases de maior projeção no governo. Em outubro, emplacou o secretário especial adjunto de Análise Governamental, Rodrigo Alves Teixeira, em uma diretoria do Banco Central. Nos últimos dias, viu o nome do Subsecretário de Assuntos Jurídicos (SAJ) da Casa Civil, Wellington César Lima, despontar como cotado para vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Lula tem lhe conferido missões relevantes. Costa passou a maior parte do primeiro semestre em reuniões com ministros da área de infraestrutura e governadores dedicado à formulação do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que foi lançado em agosto.
Agora tem o desafio de atrair até US$ 10 bilhões dos fundos árabes para investimentos em obras de infraestrutura no Brasil. Costa embarcou neste domingo (26) para Arábia Saudita e Catar, onde fará reuniões preparatórias com autoridades para apresentar a carteira de investimentos no país. Depois Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reunirão com tais lideranças.
Mas Rui Costa está longe de vencer todas as batalhas. Recentemente ele perdeu a queda de braço com Haddad sobre a definição da meta fiscal para 2024. Desde o início, o chefe da Casa Civil contrapôs-se ao déficit zero, sustentando uma margem mínima de 0,5% do PIB para garantir o andamento das obras do PAC e o fluxo de recursos em ano eleitoral. O ministro da Fazenda venceu o embate, temporariamente, ao adiar a decisão, enquanto trabalha pela aprovação dos projetos de aumento da arrecadação no Congresso.
Quando começaram as críticas de que Costa era de difícil trato, Lula ordenou que ele se movimentasse para mudar essa percepção. O titular da Casa Civil reuniu-se, então, com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com deputados e senadores. Num gesto relevante, encontrou-se com o adversário na Bahia, deputado Elmar Nascimento, líder do União Brasil. Também foi a jantares com grupos de deputados do PT.
Para um aliado, Costa começou a destravar as relações políticas com as viagens para lançamento do PAC nos Estados, quando se desloca em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) na companhia de outros ministros e de parlamentares. Ele já divulgou o novo programa em 12 Estados. Nas viagens, aproximou-se dos ministros dos Transportes, Renan Filho (MDB), e de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), e de lideranças como Isnaldo Bulhões (AL), do MDB.
Costa também mantém boa convivência, principalmente, com senadores do Nordeste, e várias lideranças da Câmara, como Antônio Brito, do PSD – que já era seu aliado na Bahia -, e Hugo Motta (PB), do Republicanos.
Outras críticas são de que Costa não tirou a cabeça da Bahia. Apesar da fama de trabalhador, não estaria totalmente focado no governo. Um exemplo, segundo um colega de ministério, foi a tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul em setembro.
Na função de “coordenador do governo”, esperava-se que ele liderasse as ações para mitigar os danos causados pelas enchentes. Com Lula em agendas na reunião do G-20, na Índia, coube ao presidente em exercício, Geraldo Alckmin, convocar reuniões com ministros, tomar decisões, e visitar os locais afetados pelas chuvas, enquanto Costa permaneceu na Bahia. Ele só voltou a Brasília com o retorno de Lula ao país.
Um aliado afirma que Costa era uma pessoa mais afável na Bahia, e reconhece que o ministro sente falta do Estado, onde ficou sua família. A esposa Aline está prestes a dar à luz ao terceiro filho do casal.
Um outro aliado já recomendou que ele “troque o chip de governador pelo de ministro da Casa Civil”. O conselho foi de que para chefiar a pasta não bastam atributos como disposição para trabalhar 12 horas por dia, foco e determinação. Isso porque o principal ministério também exige disposição para se relacionar com o mundo político e habilidade no trato pessoal. Alguns aliados afirmam que Rui Costa também está trabalhando para isso.