O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto deu o pontapé inicial segundo a colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, para o retorno à vida pública na última quarta-feira (22), em um evento sindical em São Paulo. O petista, que se tornou réu em 2017 por fraudes na Fundação dos Economiários Federais (Funcef), o fundo de pensão dos funcionários da Caixa, abriu um seminário da Central Única dos Trabalhadores (CUT) sobre fundos de previdência complementar e aproveitou a oportunidade para tentar limpar seu nome na praça.
Segundo participantes do evento relataram à equipe do blog, Vaccari concentrou-se em defender-se a própria biografia e os investimentos que foram alvo da Operação Greenfield e levaram à denúncia de 29 ex-gestores de fundos de pensão, inclusive da Funcef.
O processo contra o petista por crimes contra o sistema financeiro, gestão fraudulenta e temerária, lavagem de dinheiro e tráfico de influência – que calculou em R$ 402 milhões os prejuízos na Funcef –, ainda não terminou.
Até hoje os aposentados da Caixa têm um desconto de 30% no benefício para ajudar a cobrir o rombo deixado pelos desvios investigados na Greenfield. Mesmo assim, Vaccari afirmou no seminário que não houve corrupção.
De acordo com um participante do evento, o ex-tesoureiro chegou a responsabilizar a Petrobras pelo prejuízo bilionário destes fundos com a Sete Brasil, estimado em R$ 5,5 bilhões pela Greenfield.
A empresa foi criada em 2010 com o objetivo de fornecer 28 navios à petroleira no bojo do chamado Projeto Sondas. A companhia saiu do papel através de um fundo de investimentos e participações que tinha como cotistas fundos como a Petros, Previ e Vali, além da Funcef, e da própria Petrobras e bancos privados.
Mas a Sete entrou em recuperação judicial em 2016, durante a Lava-Jato, depois que executivos investigados no petrolão confessaram ter operado um esquema de recebimento de propinas para fechar os contratos com os estaleiros.
As revelações levaram ao cancelamento de um empréstimo do BNDES crucial para a construção dos navios-sonda – o que, na visão de Vaccari, impediu o sucesso do empreendimento e a recuperação do dinheiro injetado pelos fundos, hoje credores da Sete Brasil.
A narrativa de Vaccari coincide em parte com a defesa da Sete, que cobra da Petrobras uma indenização pelos reflexos da delação do ex-gerente de Serviços da Pedro Barusco, que também era diretor da Sete.
Segundo relatos, nenhuma das declarações do ex-tesoureiro do PT impressionou os participantes do seminário – muitos dos quais velhos conhecidos de Vaccari no movimento sindical. A presença do ex-tesoureiro, que ficou preso por quatro anos no âmbito da Lava-Jato, também não constrangeu os presentes.
Tanto que o diretor de Seguridade da Funcef, Jair Ferreira, aproveitou seu discurso para elogiar a figura de Vaccari e defender a atuação de ex-diretores do fundo que foram denunciados pela Greenfield.
Em função dos prejuízos da Funcef nos casos desvelados pela força-tarefa, os aposentados da Caixa Econômica Federal continuam tendo parte do benefício descontado todo mês – o chamado equacionamento – para cobrir o rombo.
Para integrantes de movimentos de pensionistas ouvidos pela equipe do blog, a presença de Vaccari na abertura do evento “beira o escárnio” e é “aviltante” pelo desgaste do petista nos escândalos dos fundos de pensões.
Chefe das finanças do PT entre 2010 e 2015, período que compreende as duas eleições de Dilma Rousseff, o ex-tesoureiro foi solto em 2019 após receber um indulto natalino da Justiça Federal do Paraná. Mas se manteve relativamente discreto desde então, especialmente durante o governo Jair Bolsonaro.
Com o retorno de Lula à presidência, o petista acena com um “retrofit” da sua imagem pública, sem medo de demonstrar que está de volta ao ramo dos fundos de pensão.
Ainda assim, o material de divulgação da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), filiada à CUT, não cita as credenciais de Vaccari – ao contrário dos demais participantes. O petista foi apresentado apenas pelo nome, sem cargos ou funções. Nem mesmo sua vinculação com o PT, que mantém laços fortes com a central sindical, foi mencionada.
A fala de João Vaccari Neto fez parte de um bloco do seminário intitulado “A Previc e o novo governo”. A Previc é a autarquia que regula e fiscaliza a aplicação de mais de R$ 1 trilhão depositados em fundos de aposentadoria privada de milhões de trabalhadores.
Estiveram presentes no evento o diretor-superintendente e o diretor de normas da Previc. Na sessão seguinte, já na tarde de quarta-feira, presidentes dos maiores fundos de pensão do país – o do Banco do Brasil, a Previ, e da Caixa, a Funcef –, discutiram “problemas e soluções” para o setor.
Pelo prestígio que lhe foi dado com a fala de abertura, não resta dúvida de que Vaccari tenta se vender como parte da solução.