Durante a Operação Escudo no litoral paulista em meados de agosto, uma pesquisa Genial/Quaest apontou que 43% dos eleitores avaliaram como “excessiva” a atuação da Polícia Militar, enquanto 35% consideraram a atuação “adequada”.
Foram 28 mortos, 976 presos e 1 tonelada de drogas apreendida em 40 dias segundo a Secretaria de Segurança Pública. A ação foi deflagrada após o assassinato de um soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) na Baixada Santista. Monitoramento das redes sociais logo nos primeiros dias da operação, entre o final de julho e o início de agosto, apontou que 81% das menções sobre o tema foram críticas à ação da PM.
Com o fim da operação, de acordo com Pedro Augusto Figueiredo, do Estadão, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) recebeu uma nova avaliação que indicou aprovação majoritária da população.
PariPassu o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, anunciou a volta da Operação Impacto na Baixada tendo a Escudo como modelo.
Apesar de nomes diferentes, as operações têm objetivos similares: reforçar o policiamento para combater o crime organizado e o tráfico de drogas na região. A Impacto tem caráter mais rotineiro, enquanto a Escudo é deflagrada quando há morte de policiais.
Pesquisas têm pautado cada vez mais decisões de governantes, políticas públicas e posicionamentos políticos. Mas o método leva ao questionamento: nem sempre as medidas defendidas ou aprovadas pela sociedade são as mais apropriadas para lidar com determinado problema.
No caso de Tarcísio, o governo paulista argumenta que suas ações e programas “são baseados, fundamentalmente, no atendimento a demandas da população, na capacidade de execução orçamentária, na conjuntura socioeconômica local e o respeito às leis”.
A nota do governo diz ainda que a Operação Escudo, deflagrada após a morte de um solado da PM no Guarujá, teve como objetivo a prisão dos autores do atentado e o enfrentamento ao crime organizado na Baixada Santista, “que já vinha sendo intensificado desde início do ano e segue em andamento”.
Sem abordar um caso específico, o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, avalia que as pesquisas são úteis para mostrar o que a população deseja e, por outro lado, ajudar os governantes na tomada de decisões, inclusive na melhor forma de comunicar medidas que podem ser impopulares em um primeiro momento.
“É importante encontrar o equilíbrio de entender o que as pessoas demandam e querem, mas também saber que em alguns momentos você vai desagradá-las inicialmente para fazer o que é certo”, disse ele.
Além de pesquisas de avaliação de governo e de políticas públicas, já tradicionais, Nunes aponta que houve crescimento na demanda por monitoramento do que é falado nas redes sociais e também no que ele chama de laboratórios para testar a efetividade das mensagens transmitidas por políticos.
Como funcionam as pesquisas políticas
Em uma lógica parecida à da pesquisa de vacinas, as pessoas são separadas em dois grupos, mas apenas um deles é exposto ao discurso de um governante ou uma peça de propaganda política. Em seguida, é medido se o conteúdo é capaz de mudar a opinião das pessoas sobre o assunto abordado. A ferramenta, segundo Nunes, é comum nos Estados Unidos, mas se popularizou no Brasil em 2022.
O mais comum é que as pesquisas sejam feitas por meio das agências de publicidade que já têm contrato com os governos, seja ele federal ou estadual. Devido ao alto custo, tradicionalmente apenas prefeituras de capitais ou de municípios de maior porte têm orçamento para realizar os levantamentos. Há dois tipos: a quantitativa, que como o próprio nome indica, mede a avaliação ou a aprovação de determinado governo ou política, e a qualitativa, cujo objetivo é entender os motivos e argumentos que embasam a opinião da população.
“É importante encontrar o equilíbrio de entender o que as pessoas demandam e querem, mas também saber que em alguns momentos você vai desagradá-las inicialmente para fazer o que é certo”, disse ele.
Felipe Nunes, CEO da Quaest
Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o cientista político Rodrigo Prando considera que há risco concreto de governos adotarem conduta populista caso os políticos se deixem seduzir pela opinião pública a partir das pesquisas, enquanto ações impopulares, mas necessárias, ficam em segundo plano. Ele ressalta, porém, que esse fenômeno não é algo imediato ou automático.
Prando cita o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, por um lado, desconsiderava as pesquisas e atacava os institutos que as realizavam e, por outro, valorizava mais o apoio de eleitores e a audiência de suas lives semanais. “Nesse sentido, o Tarcísio representa um avanço no bolsonarismo se ele levar em consideração pesquisas científicas”, afirmou o professor.
Na visão do cientista político José Álvaro Moisés, Professor Senior do Instituto de Estudos Avançados da USP, a pesquisa é apenas um dos fatores considerados pelos chefes do Executivo na tomada de decisões. Ele cita que outros pontos também influenciam nas definições, como a probabilidade do Legislativo apoiar as propostas, por exemplo. “As pesquisas podem servir tanto para justificar medidas de um governo autoritário, como para aumentar a qualidade das ações de um governo democrático. Tudo depende do uso que será feito a partir delas”, resumiu.
Em ano pré-eleitoral, os prefeitos também usam as pesquisas de avaliação sobre suas gestões como ativo político para convencerem governadores, deputados e partidos a os apoiarem na tentativa de reeleição. O objetivo é formar a maior coalizão possível e evitar que adversários conquistem aliados.