O senador Jaques Wagner (PT) causou mal-estar na base do governador Jerônimo Rodrigues (PT), seu correligionário, ao anunciar o deputado estadual Robinson Almeida, do mesmo partido, como o seu candidato a prefeito de Salvador nas eleições do ano que vem. Até a fala de Wagner, a expectativa era que o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) fosse o indicado. Siglas aliadas do governador têm trabalhado para montar uma chapa única.
A declaração de Jaques Wagner ocorreu no último sábado (28), em uma plenária municipal do PT que, embora esteja em sua quinta gestão estadual, nunca comandou a capital baiana:
— Estou aqui para que todo mundo saiba que o meu primeiro candidato é Robinson, é o candidato do meu partido, é o meu candidato.
O PT avalia outros três nomes: o deputado federal Valmir Assunção, a socióloga Vilma Reis e a secretária estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, Fabya Reis.
Nas redes sociais, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB) demonstrou desconforto com a fala do petista, ao publicar uma mensagem em defesa de Geraldo Júnior.
“Como imaginar que líderes importantes tomem decisões que digam respeito também a um relevante partido aliado, sem que haja convite, comunicação a nenhuma liderança institucional desse partido, no caso o MDB? Isso seria no mínimo deselegante”, postou ele.
Em seguida, afirmou que o MDB não repetirá erros, em referência às eleições de 2020, quando cada sigla lançou candidato e Bruno Reis (União Brasil) terminou eleito. Reis é do partido que tem como cacique ACM Neto, ex-prefeito que duelou com o PT no estado nas últimas décadas.
Geddel ainda afirmou que “irá aguardar o THE END (do inglês, fim) desse longuíssimo longa metragem”, em alusão à demora do governador para definir um nome para a disputa. Mais contido, o ex-deputado Lúcio Vieira Lima, seu irmão, minimizou as críticas e disse ser “natural” a fala de Jaques Wagner.
— Estranho seria se Wagner não tivesse ido na plenária e reafirmar a candidatura de Robinson. Todos estão reafirmando: o MDB reafirmou a de Geraldinho, o PSB a de Lídice da Mata e por aí vai. O que ficou colocado desde o início é que o governador conduziria o processo. Até Jerônimo sinalizar, seguimos candidatos.
A base do governador é formada por MDB, PCdoB, PSB, PSD e Avante. O ex-deputado reiterou segundo Luísa Marzullo, do O Globo, o apoio irrestrito do MDB ao candidato escolhido por Jerônimo. Apesar de evitar críticas a Wagner, Lúcio cobrou maior agilidade do PT neste processo de escolha:
— Quando será decidido (o nome) cabe ao governador. Minha opinião é que está a demorar e, quanto mais demorar, pior, independente de quem seja o candidato.
Sem poder concorrer a cargos eletivos após terem sido condenados por lavagem de dinheiro e associação criminosa, Geddel e Lúcio veem a disputa como uma possibilidade de ampliar o espaço do MDB no estado. O partido, além da vice-governadoria, tem duas pastas no primeiro escalão — Infraestrutura Hídrica e Saneamento, e Administração Penitenciária.
Apesar de a escolha do candidato ser avalizada por Jerônimo, Jaques Wagner e o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), têm sido consultados pelo governador.
Além dos irmãos Vieira Lima, outros políticos da base cobram uma definição, argumentando que é preciso tempo para construir uma candidatura única. Entre eles está a deputada federal Lídice da Mata (PSB). Para ela, a demora pode fazer com que cada sigla lance pré-candidatos, diminuindo a chance de composição:
— Nós temos duas estratégias: uma aliança única ou lançar cada um o seu. É preciso pensar em qual é melhor para chegar no segundo turno. Temos que ver quem pode furar as bolhas e considerar os interesses de cada partido. Se houver uma apreciação mais rápida da construção da unidade e definição do perfil, teremos menos interferências de fora.