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sexta-feira 27 de outubro de 2023 às 21:09h

Israel intensifica bombardeio a Gaza e anuncia ‘expansão’ das operações

NOTÍCIAS


O porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari, disse nesta sexta-feira (27/10) que o país vai “expandir” suas operações contra Gaza nas próximas horas, inclusive com o uso de forças terrestres.

Enquanto isso, equipes da BBC que estão em Ashkelon, no sul de Israel, relatam que os bombardeios israelenses contra o território se intensificaram. A cidade fica a 10 quilômetros de Gaza.

Segundo a reportagem, é possível ouvir “bombardeio pesado, principalmente pelo ar” nesta sexta.

O Hamas, grupo palestino que administra a Faixa de Gaza, afirmou ter entrado em confronto com as forças israelenses no norte do enclave palestino.

O braço militar do grupo, chamado de Brigadas Al-Qassam, afirmou em um comunicado que “ações violentas” estão acontecendo perto de Beit Hanoun, no norte de Gaza, e de Bureij, no centro.

As informações passadas pelo Hamas não puderam ser verificadas pela BBC.

O grupo, que realizou um ataque surpresa em Israel no dia 7 de outubro, também afirmou ter voltado a lançar foguetes contra o território israelense.

Segundo as Brigadas Al-Qassam, as cidades de Sderot e Ashdod, no sul de Israel, são alvo de “intensos ataques de mísseis”. Foguetes também foram disparados contra a cidade de Ashkelon, de acordo com a organização.

Diante dos últimos acontecimentos, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou uma resolução pedindo uma trégua humanitária imediata em Gaza.

‘Forças estão expandindo atividade terrestre’

Em seu pronunciamento, o porta-voz Daniel Hagari disse que as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) devem expandir suas atividades em terra na noite dessa sexta-feira.

“Nas últimas horas, aumentamos os ataques em Gaza. A Força Aérea ataca amplamente alvos subterrâneos e infraestruturas terroristas, de forma muito significativa.”

“Na continuação da atividade ofensiva que realizamos nos últimos dias, as forças terrestres estão expandindo a atividade esta noite”, disse.

Hagari também pediu mais uma vez que a população da Cidade de Gaza deixe a região em direção ao sul do território.

Mapa de Gaza

Daniel Hagari pediu aos moradores da Cidade de Gaza que busquem “condições mais seguras”, já que as IDF “persistiriam” com ataques à cidade e seus arredores.

Ele fez referência específica ao hospital Al Shifa, que disse estar sendo usado para “atividades terroristas”.

Anteriormente, em um outro pronunciamento, Hagari alegou que o Hamas estava utilizando o hospital como escudo para túneis subterrâneos e centros de comando. O Hamas negou esta acusação.

Al Shifa é o maior hospital da Faixa de Gaza.

Milhares de pessoas desalojadas estão abrigadas em hospitais de Gaza, incluindo no Al Shifa.

Destruição na Cidade de Gaza

CRÉDITO,EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Legenda da foto,Destruição na Cidade de Gaza na manhã desta sexta-feira, 27

Ao que parece, este pode ser o início da maior ofensiva por ar, terra e mar anunciada por Israel, segundo o veterano editor internacional da BBC Jeremy Bowen.

No entanto, o jornalista, que está baseado em Israel no momento, lembra que, ao mesmo tempo em que recebemos informações sobre a escalada dos ataques, surgem informações sobre progressos nas negociações conduzidas pelo Catar entre Israel e o Hamas.

“Mais cedo, surgiram em Doha, capital do Catar, conversas de que eles talvez estivessem chegando perto de um acordo para a libertação de reféns e talvez para algum tipo de cessar-fogo ou trégua humanitária”, diz.

Segundo Bowen, há um histórico de Israel intensificar seus ataques contra territórios inimigos antes da concretização de um cessar-fogo. No entanto, ainda não é possível saber se as negociações atuais foram, de fato, bem-sucedidas.

Resolução da ONU

Também na tarde desta sexta, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução pedindo por uma trégua humanitária imediata em Gaza.

A resolução – apresentada pela Jordânia em nome do grupo de países árabes – também condena todos os atos de violência contra civis palestinos e israelenses, incluindo todos os “ataques terroristas e indiscriminados”.

O texto também pede a imediata libertação dos reféns mantidos pelo Hamas em Gaza, mas não faz menção específica aos ataques de 7 de outubro contra Israel

Foram 120 votos a favor, 14 contra e 45 abstenções.

As resoluções da Assembleia Geral não têm comprimento obrigatório, mas têm peso moral devido à universalidade dos seus membros.

O secretário-geral da ONU, António Gueterres, também fez um apelo por um cessar-fogo no X (antigo Twitter), dizendo que “este é o momento da verdade”.

“Repito meu apelo por um cessar-fogo humanitário no Médio Oriente, pela libertação incondicional de todos os reféns e pela entrega de suprimentos vitais na escala necessária. Todos devem assumir suas responsabilidades. Este é o momento da verdade. A história julgará todos nós”, escreveu.

Assembleia Geral da ONU

CRÉDITO,EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Legenda da foto,A reunião da Assembleia Geral da ONU foi convocada de forma emergencial

O Brasil foi um dos países que aprovou a resolução da ONU nesta sexta-feira.

Durante café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que é “insanidade” do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, querer acabar com a Faixa de Gaza.

“O ato do Hamas foi terrorista, que não é possível fazer um ataque, matar inocentes, sequestrar gente da forma que eles fizeram, sem medir as consequências do que acontece depois. Porque, agora, o que nós temos é a insanidade do primeiro-ministro de Israel querendo acabar com a Faixa de Gaza, se esquecendo que lá não tem só soldado do Hamas, que lá tem mulheres e crianças, que são as grandes vítimas dessa guerra”, disse Lula.

O presidente explicou que o Brasil não reconhece o Hamas como organização terrorista porque o país segue as avaliações do Conselho de Segurança da ONU.

“A posição nossa é clara. Toda guerra não tem apenas um culpado, ou um mais culpado.”

Sem contato

Há diversos relatos sobre a dificuldade de comunicação com as pessoas na Faixa de Gaza.

O Hamas afirmou que as telecomunicações no território foram quase completamente cortadas.

A Paltel, a Empresa de Telecomunicações da Palestina, divulgou um comunicado nas redes sociais confirmando a “interrupção completa de todos os serviços de comunicação e internet com a Faixa de Gaza”.

Após o anúncio de Israel sobre a intensificação dos ataques, a organização humanitária do Crescente Vermelho Palestino afirmou que “perdeu completamente o contato” com sua operação na Faixa de Gaza.

“Estamos profundamente preocupados com a capacidade das nossas equipes em continuar a prestar os seus serviços médicos de emergência, especialmente porque este conflito afeta o número central de emergência ‘101’ e dificulta a chegada de veículos e ambulâncias aos feridos”, disse a instituição em um comunicado.

A organização afirma estar também preocupada com a segurança das suas equipes que trabalham na Faixa de Gaza e faz um apelo ao mundo para “exercer pressão sobre as autoridades israelenses para fornecerem proteção imediata a civis inocentes, instalações médicas e às nossas equipes”.

Outra organização humanitária, a ActionAid, também disse perdeu contato com os seus funcionários em Gaza.

“O apagão isola a população, tornando quase impossível que procurem ajuda, partilhem as suas histórias ou mantenham contato com os seus entes queridos.”

“Este isolamento aprofunda o sofrimento daqueles que já enfrentam uma grave crise humanitária no meio de um aumento no bombardeamento aéreo de civis”, afirmou a ONG em um comunicado.

Explosão vista do lado israelense

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,Explosão vista do lado israelense

Baseada em Jerusalém, a repórter da BBC Alice Cuddy afirmou que na sexta-feira chegou a conseguir falar com contatos seus em Gaza, mas à noite, suas ligações e mensagens não pareciam chegar ao território palestino.

A maioria das pessoas com quem Cuddy vinha falando estava abrigada em Khan Younis, após terem fugido de suas próprias casas. Mas uma família que vive na parte central de Gaza contou à repórter mais cedo que tinha optado por não deixar sua casa por enquanto.

“Continuaremos morando aqui até encontrarmos uma maneira segura de sair”, disse-nos o pai pelo telefone de sua casa, cujas janelas e portas foram destruídas após ataques a edifícios próximos.

“Estamos em uma situação muito miserável. Principalmente as crianças, elas têm medo.”

A repórter Mehdi Musawi, da BBC Árabe em Londres, também afirma ter tido dificuldades de contactar suas fontes em Gaza durante todo o dia.

“No início da noite, todas as linhas de comunicação estavam fora do ar. E então, imagens ao vivo de Gaza mostraram escuridão total, exceto por flashes e bolas de fogo à distância”, diz Musawi

“Enviei uma enxurrada de mensagens para as pessoas com quem falei antes, mas nenhuma resposta veio, nem mesmo um duplo visto para confirmar o recebimento.”

O conflito

O grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou em 7 de outubro um ataque surpresa a Israel, matando mais de 1.400 e capturando reféns.

Israel reagiu com bombardeios que já mataram cerca de 7.000 pessoas, segundo o Ministério da Saúde em Gaza controlado pelo Hamas.

Em 14 de outubro, as forças israelenses anunciaram que em breve iniciariam uma ofensiva ainda maior por ar, terra e mar contra o território.

Israel também deu um ultimato aos moradores no norte da Faixa de Gaza — cerca de 1,1 milhão de pessoas — para se deslocarem para o sul do território.

Esse prazo, estendido algumas vezes, expirou no dia 15 de outubro.

O norte de Gaza — que inclui a Cidade de Gaza e dois campos de refugiados — é uma das partes mais densamente povoadas do território.

Na ocasião, o Hamas disse aos civis que ignorassem a ordem de evacuação, descrevendo-a como “propaganda falsa”.

No entanto, milhares de palestinos obedeceram à ordem de Israel e abandonaram suas casas.

Apesar disso, Israel bombardeou e continua bombardeando várias localidades no sul do território.

Segundo a agência da ONU para os refugiados palestinos, a situação no sul de Gaza é tão ruim que alguns civis estão voltando para o norte.

O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse que a campanha militar em Gaza “pode levar um mês, dois ou três, mas no final não haverá mais Hamas”.

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