O presidente Lula da Silva (PT), sempre que pode, brada aos quatro cantos do mundo que reconquistará o espaço do Brasil no cenário internacional, em retórica exagerada. No campo da realidade, o maior feito nacional até agora nessa área foi conquistado à base de um trabalho bem mais discreto. Sem fazer qualquer alarde, o Ministério das Relações Exteriores, comandado por Mauro Vieira, realizou a impressionante missão de resgate de brasileiros da área de conflito, tendo como braço direito nesse feito o apoio imprescindível da Força Aérea Brasileira. Apenas três dias depois do início da guerra, o primeiro avião da FAB enviado pelo governo federal pousou em Tel Aviv para tirar de lá as primeiras 200 pessoas. Desde então, mais de 1 100 cidadãos voltaram para casa em seis voos.
Para dar conta de tamanha operação num prazo exíguo de tempo e em condições diplomáticas tensas, o ministro Vieira equilibrou-se segundo reportagem de Victoria Bechara, da revista Veja, na neutralidade, de forma a manter todos os canais de diálogo possíveis. Além disso, criou um gabinete de crise responsável por organizar uma lista de passageiros, providenciar transporte e enviar ajuda humanitária e financeira para os que estão em Gaza. “Tudo que a gente precisava fazer foi feito, tanto na questão humanitária e logística quanto na presidência do Conselho de Segurança da ONU”, elogia Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington.
A comparação inevitável é com o Itamaraty dos tempos de Jair Bolsonaro (PL). Chefe da pasta à época, Ernesto Araújo provocou crises diplomáticas com a China, um dos nossos principais parceiros comerciais. Não por acaso, o resgate de brasileiros que estavam em Wuhan durante a pandemia de Covid-19 foi feito aos trancos e barrancos. Bolsonaro chegou a dizer que o voo custava muito caro. Depois, enviou quatro aviões para buscar apenas 34 pessoas, sob o slogan ufanista de “Regresso à Pátria Amada Brasil”. Felizmente, como ficou claro na recente operação de resgate de centenas de brasileiros no Oriente Médio, o Itamaraty voltou para as mãos de quem entende do riscado, diz Victoria Bechara, na reportagem da Veja.