Se aumentar a presença de negros no ensino superior já tem sido um longo processo por meio das cotas, a diversidade racial em carreiras científicas e tecnológicas é um desafio ainda maior.
A ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos (PCdoB), quer replicar um exemplo bem-sucedido em Pernambuco, onde foi vice-governadora, para ampliar o número de pretos e pardos nessas áreas. Ao Estadão, ela conta que planeja, em escala nacional, uma versão do Embarque Digital. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O programa dá bolsas de graduação na área de tecnologia da informação (TI) a ex-alunos da rede pública, uma parceria da prefeitura do Recife e do Porto Digital, polo de inovação na capital pernambucana. “Há um déficit gigante no Brasil (de profissionais nesse setor). Calcula-se que 100 mil vagas”, afirmou. Leia os principais trechos da entrevista.
O que o ministério fará, do ponto de vista de editais e de bolsas, para ter ações afirmativas pensando na população negra?
Quando fui vice-governadora, estimulei que a nossa fundação (de amparo à pesquisa) fizesse editais específicos. E vou estimular nas FAPs (fundações estaduais, como a Fapesp) fazer estudo da educação da população negra, para maior conhecimento da história e de como se formatou todo esse processo de resistência do quilombola, para um autoconhecimento do que nós somos, o tamanho que a população negra tem e indicadores para ajudar na tomada de posição e de planejamento. Outra experiência que queremos dar escala nacional é na área de capacitação no desenvolvimento de software. Por quê? Há um déficit gigante no Brasil: calcula-se que existam 100 mil vagas e não tem gente. Queremos uma réplica de uma experiência desenvolvida no Recife a partir do Porto Digital, que se chama Embarque Digital. Metade das vagas é para pardos ou pretos. O critério (no Embarque Digital) são as notas do Enem e o corte racial. São os alunos que terminaram o ensino médio. Vão ser bolsas para desenvolvimento de software, programadores. Ou seja, a política afirmativa perpassa vários dos nossos programas e iniciativas, para ajudar no enfrentamento dessa desigualdade. E estamos lançando edital de R$ 100 milhões para estimular mulheres nas áreas de ciência da computação, Ciências Exatas e engenharias.
Há previsão de modelo de ação afirmativa para todos os editais?
Não especificamente. Há uma articulação nacional dos pesquisadores negros, com quem a gente estabelece diálogo permanente.
Como as pautas de pesquisa dos editais e dos programas incentivados via CNPq e outras áreas do ministério podem ajudar a combater essa desigualdade racial?
Na área ambiental e na de política pública das moradias, isso se apresenta com muita ênfase, por exemplo. É onde mora a população negra do País. A Região Amazônica tem mais quilombolas do que indígenas.
Em relação à diversidade, houve a saída de ministras, com possível perda de representação…
Não, é o contrário. O governo tomou essa decisão: a maior quantidade de mulheres da história. Toda construção política e de governabilidade reúne muitas variáveis, não é simples.