Após campanha tensa, equatorianos votam no segundo turno das eleições presidenciais, disputado por Luisa González e Daniel Noboa. País poderá ter a primeira presidente mulher ou mandatário mais jovem de sua história.Os equatorianos voltam às urnas neste domingo (15/10) para o segundo turno das eleições presidenciais, podendo eleger a primeira presidente mulher do país ou o mandatário mais jovem, numa campanha marcada por turbulências e o medo que reina pela violência do narcotráfico.
Em apenas 150 dias, o Equador enfrentou uma tentativa de impeachment, a dissolução do Parlamento, a convocação de eleições antecipadas e o assassinato de um candidato à Presidência.
Neste segundo turno, disputam a esquerdista Luisa González, de 45 anos, apoiada pelo ex-presidente socialista Rafael Correa, e o empresário de centro-direita Daniel Noboa, de 35, filho de um dos homens mais ricos do país sul-americano. Ambos são ex-deputados considerados moderados.
O vencedor governará o Equador durante quase 17 meses, até terminar o mandato presidencial do direitista Guillermo Lasso, que desistiu de concorrer à reeleição.
Em maio, Lasso decretou a dissolução do Congresso do país por meio de um mecanismo institucional chamado “morte cruzada”, um dia depois de apresentar sua defesa em um processo de impeachment contra ele no Legislativo, controlado pela oposição. Com a medida, Lasso também anunciou eleições gerais antecipadas.
Aproximadamente 100.000 militares e policiais estão destacados em todo o país para garantir a segurança eleitoral. Cerca de 13,4 milhões de equatorianos foram chamados às urnas.
Luisa González
Durante a campanha, a advogada e ex-deputada Luisa González prometeu restaurar os programas sociais implementados pelo seu padrinho político Rafael Correa, que governou o Equador entre 2007 e 2017. Ela diz que um eventual governo seu vai “recuperar a pátria”.
Em sua campanha, González prometeu liberar 2,5 bilhões de dólares das reservas internacionais para fortalecer a economia do Equador e trazer de volta iniciativas sociais implementadas por Correa.
Por outro lado, ela diz que não pretende conceder um perdão judicial para Correa, condenado por corrupção e atualmente em exílio na Bélgica.
Daniel Noboa
Do outro lado está o ex-deputado Daniel Noboa. Formado em universidades dos Estados Unidos, ele surpreendeu ao conseguir se projetar como principal nome do eleitorado crítico a Rafael Correa. Ele concentrou as promessas de sua campanha na criação de empregos, incentivos fiscais para novos negócios e combate à corrupção.
Noboa é filho de Álvaro Noboa, um dos empresários mais ricos do país, que controla mais de cem empresas e é membro de uma dinastia do setor bananeiro. Álvaro Noboa disputou cinco vezes sem sucesso a Presidência do Equador entre 1998 e 2013. Em 2006, ele perdeu no segundo turno para Rafael Correa. Agora, mais de 15 anos depois, é seu filho quem disputa o segundo turno com uma herdeira do “correísmo”.
Campanha marcada pela violência
A campanha presidencial foi marcada por uma onda de violência sem precedentes, que incluiu no espaço de três semanas o assassinato de três líderes políticos do país, incluindo um candidato à Presidência.
O assassinato do presidenciável Fernando Villavicencio em 9 de agosto, após um comício na capital, Quito, chocou o país sul-americano de 18 milhões de habitantes, que enfrenta uma tripla crise: política, econômica e de segurança pública.
Pouco menos de duas semanas antes, o prefeito da cidade de Manta, Agustín Intriago, já havia sido assassinado. Finalmente, em 14 agosto, foi a vez de Pedro Briones, um dirigente do partido do ex-presidente Correa, ser vítima de assassinato. É sob esse clima de tensão que o eleitorado equatoriano decide quem vai liderar o país.
O Equador encerrou 2022 com a maior taxa de mortes violentas de sua história, registrando 25,32 por 100 mil habitantes, a grande maioria associada, segundo o governo, ao crime organizado e ao narcotráfico, que ganhou força no litoral e transformou os portos em grandes polos de distribuição de cocaína para Europa e América do Norte.
O Equador também vem enfrentando problemas desde a pandemia de covid-19, que mergulhou o país em uma profunda crise econômica. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Inec), atualmente o nível de pobreza ainda está acima do nível pré-pandêmico, com um em cada quatro equatorianos vivendo nessa situação.
Tudo isso também alimenta a violência, que também tem sido amplamente impulsionada pelo tráfico de drogas. Nos últimos anos, os homicídios quintuplicaram, as prisões se tornaram palco de guerras de gangues e, segundo a ONU, este ano o Equador ultrapassou a Colômbia como principal exportador de cocaína, apesar de a Colômbia continuar sendo o principal produtor.