Sob a sombra da polarização e a um ano das eleições municipais, a caminhada rumo a 2024 sinaliza dificuldades para os partidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Jair Bolsonaro (PL) na tentativa de encabeçar chapas em grandes centros, conforme matéria publicada pelo Bernardo Mello, do jornal O Globo, tanto o PT quanto o PL lançaram pré-candidaturas em 15 capitais e, por ora, aparecem isolados na maioria delas. A situação contrasta com a de prefeitos de outras legendas, que contam como a máquina pública para alavancá-los a um novo mandato. Hoje, 12 dos 18 postulantes à reeleição já encaminharam acordos com siglas que têm bancadas no Congresso e, portanto, acesso a mais verba pública e tempo de rádio e TV para a campanha do pleito que correrá no dia 6 de outubro do ano que vem.
Dirigentes de PT e PL minimizam o isolamento atual e apostam que a entrada de Lula e de Bolsonaro na campanha municipal ajudará a atrair coligados. No caso do PT, que não governa nenhuma capital, petistas devem encabeçar alianças em quatro cidades – Porto Alegre, Natal, Teresina e Goiânia –, em geral com partidos de esquerda. Na capital gaúcha, a tendência é que o PT lance a deputada federal Maria do Rosário, mas ainda há tratativas com PSOL e PCdoB para definir um nome.
Segundo o senador Humberto Costa (PT-PE), que coordena o planejamento eleitoral do partido, há mais espaço hoje para compor com partidos de esquerda e de centro na base do governo Lula. A estratégia difere da adotada em 2020, quando o PT, buscando retomar terreno após a Lava-Jato, lançou nomes em 21 capitais. Em algumas delas, como Rio e Recife, o partido deve apoiar a reeleição de prefeitos com os quais rivalizou há três anos.
O senador reconhece, porém, a chance de embate entre aliados do cenário nacional. Em Aracaju, caciques locais do PT apostam na candidatura do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, que pode enfrentar um nome apoiado pelo atual prefeito, Edvaldo Nogueira (PDT). e pelo governador, Fábio Mitidieri (PSD) – duas siglas que comandam ministérios.
– Vamos lançar candidatos onde for viável, e discutir composições com partidos aliados. Algumas realidades locais não vão bater com a aliança a nível federal, mas a governabilidade do presidente Lula não está em discussão, já que o governo dispõe de outros meios para formar sua base – frisou Costa.
Já o PL só conseguiu encaminhar uma aliança ampla até aqui em Maceió, cujo prefeito, João Henrique Caldas, se filiou ao partido no ano passado. Ele tentará a reeleição com apoio do PP, do presidente da Câmara e seu aliado, Arthur Lira, do União Brasil e do Podemos.
A legenda de Bolsonaro também espera capitanear, no Rio, a oposição ao prefeito Eduardo Paes (PSD), que costura uma coligação com PT, Republicanos e União Brasil. Já o PL mira PP e MDB.
Para o general Walter Braga Netto, secretário de Relações Institucionais do PL, cujo nome tem sido especulado como candidato no Rio, embora não se posicione como tal, o fato de Bolsonaro ter saído vitorioso em 15 capitais no pleito de 2022 pode virar um ímã para aliados, sobretudo no Sudeste e no Norte. A expectativa de ter o ex-presidente como cabo eleitoral levou o partido, que concorreu em apenas sete capitais em 2020, a dobrar a meta para 2024 e abrir espaço a nomes do “bolsonarismo raiz”, caso do deputado Gustavo Gayer, em Goiânia.
Já em capitais como São Paulo e Porto Alegre, o PL apoiará a reeleição de Ricardo Nunes e Sebastião Melo, respectivamente, ambos do MDB.
– Não acredito que o PL terá problemas para formar alianças com partidos que compartilham nossas pautas – afirmou o general.
Há possibilidade de confrontos diretos entre os partidos de Lula e Bolsonaro em 11 capitais, não necessariamente como protagonistas. Em Curitiba, onde o PT ensaia a candidatura da deputada federal Carol Dartora e o PL avalia o ex-deputado Paulo Martins, quem largou na frente para formar alianças foi o vice-prefeito, Eduardo Pimentel (PSD). Com apoio do prefeito, Rafael Greca, e do governador Ratinho Jr. (PSD), Pimentel tende a atrair PP, MDB e Solidariedade, e mira o União Brasil. Reservadamente, lideranças de PT e PL avaliam que há possibilidade de retirar as candidaturas, caso não engrenem.
Em outras capitais, rachas de PT e PL acabam ajudando a articulação de candidatos da situação. Em João Pessoa, o ex-prefeito Luciano Cartaxo (PT) enfrenta resistências no partido, ao passo que o governador João Azevêdo (PSB), aliado de petistas na esfera estadual, costura apoio à reeleição de Cícero Lucena (PP), apoiado por Republicanos e PSD. Já o PL, por pressão de Bolsonaro, lançou o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, o que gerou uma debandada de parlamentares bolsonaristas que desejavam concorrer.