A reunião deste domingo (8) do Conselho de Segurança das Nações Unidas – convocada de emergência pelo Brasil, que presidente temporariamente o colegiado – terminou sem uma declaração conjunta e com o temor de que o conflito entre Israel e o Hamas se alastre pela região. Muitas diplomatas demonstraram preocupação com o fato de a comunidade internacional ser incapaz de responder a essa crise no Oriente Médio com uma voz única.
No encontro, os especialistas da ONU entregaram aos governos um levantamento de como estava a situação em Israel e em Gaza. A apresentação coube ao norueguês Tor Wennesland, coordenador da ONU para o processo de Paz no Oriente Médio.
O governo dos Estados Unidos, no entanto, hesitou e acabou alertando que tinha resistências em determinados pontos da declaração. Os Emirados Árabes Unidos, que também estavam no encontro, cederam às preocupações americanas, retirando seu apoio por um texto conjunto.
Sergio Danese, embaixador brasileiro que presidia o encontro, explicou que governos fizeram perguntas ao especialista da ONU e que a reunião serviu para que cada delegação tivesse uma visão mais clara sobre a situação. Também foi a ocasião, segundo ele, de que governos declarassem seu apoio para que um processo negociador pudesse ser retomado.
Mas, com posições ainda distantes, abandonou-se a possibilidade de uma declaração conjunta. Danese não descarta que novas reuniões sejam convocadas para os próximos dias.
No caso da posição brasileira, ele destacou que o tom já foi dado por uma nota do Itamaraty. Nela, o governo manifestou “enorme preocupação e tristeza pelo que está ocorrendo, e procurar para olhar as causas do processo de violência e olhar para a possibilidade de que haja um futuro de negociações”.
Ao final do encontro, Robert Wood, embaixador dos EUA, admitiu que houve uma preocupação de que o conflito se espalhe. Outros governos que fizeram parte do encontro também apontaram nessa direção
Wood, porém, lamentou que nem todos os países no Conselho de Segurança condenaram o Hamas, sem dar os nomes dos que não seguiram essa linha.
“A situação é ainda fluida e perigosa. E tentamos impedir que esse conflito se espalhe”, disse Wood. “Esse conflito pode crescer e não queremos ver isso. Vamos esperar que não fique pior”, insistiu.
Pressionado a responder como os palestinos fariam para se defender, Wood preferiu focar no Hamas. “Neste momento, é importante que mundo condene esses ataques”, disse. “Condenamos os ataques contra civis em todas as partes. Mas o que é importante agora é o apoio à Israel”.
Antes da reunião começar, as delegações de Israel e da Autoridade Palestina trocaram acusações, cada qual responsabilizando a outra pela crise.
O governo de Israel denunciou o terrorismo cometido pelo Hamas nos últimos dias e alertou que os acontecimentos representam o equivalente aos atentados de 11 de setembro para o país. “Nada será como antes”, declarou Gilad Erdan, embaixador de Israel na ONU. “Esse é nosso 11 de setembro”, afirmou, numa referência aos ataques contra os EUA em 2001
Antes da reunião, Erdan acusou o Hamas de “selvagens”, de agir de “da mesma forma que atuaram os nazistas” e equiparou o grupo ao Estado Islâmico e Al Qaeda. Mostrando fotos dos crimes, o diplomata chamou o Hamas de “animais” que “pisavam nos palestinos como insetos”, num tom pouco comum dentro da ONU.
“O que vimos são crimes de guerra e faremos de tudo para trazer nossos cidadãos sequestrados de volta”, garantiu.
A fala do embaixador de que “nada será como antes” foi recebida por diplomatas como um sinal claro de que a estratégia militar israelense deve mudar. Especula-se que o Exército de Israel invada a Faixa de Gaza por terra, com consequências imprevisíveis.
Para o diplomata, a comunidade internacional não pode continuar a dar recursos para Gaza. “Esse dinheiro não vai para escolas. Todo o território de Gaza faz parte da máquina de terror do Hamas”, indicou, numa sugestão de que todos os locais podem ser alvos de respostas e que uma ação generalizada sobre o território onde existem 2 milhões de habitantes seria justificada.
As frases do diplomata israelense foram seguidas por uma coletiva por parte do embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, que alertou que Israel não pode conduzir uma guerra, esperando que haverá paz. “Precisamos lidar com as raízes da crise. Liberdade, não ocupação”, disse.
Numa declaração pedindo paz, o embaixador insistiu que a história não começou com o recente ataque do Hamas. “Ano após ano, estamos dizendo que a situação é intolerável”, afirmou, numa referência aos ataques israelenses. “Nós escolhemos o caminho da paz, que é o que a comunidade internacional aposta. Não nos prove agora que estávamos errados”, alertou.
Para ele, é tempo de colocar “fim à violência e iniciar um diálogo político”. Mas, também fugindo do tom usado tradicionalmente na ONU, fez acusações contra Israel. “Não somos sub-humanos”, disse. O diplomata insistiu que não se pode defender a paz, e ao mesmo tempo defender a ocupação
Mansour ainda lançou um alerta ao Conselho: “onde está a proteção aos palestinos quando há uma ocupação?”. Em seu discurso, ele pediu que o órgão defenda o direito internacional, e não que se abandone isso. Para ele, essa é a hora de justiça, não vingança.
Para a relatora da ONU para os Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese, “não há como ser seletivo na indignação” e lembrou que o próprio bloqueio de Gaza, iniciado há 16 anos, é um crime de guerra cometido por Israel.