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Tubos do gasoduto de Nord Stream 1, em Lubmin, Alemanha
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terça-feira 26 de setembro de 2023 às 10:20h

Explosão do Nord Stream: muita especulação, poucos fatos

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Um ano após episódio que agravou a crise entre Ocidente e Rússia, em meio à guerra na Ucrânia, investigações apontam também na direção de Kiev, mas faltam conclusões concretas.Eram duas horas da manhã de 26 de setembro de 2022 quando estações sísmicas da Dinamarca, Suécia e Alemanha registraram um pequeno tremor de terra. Ao mesmo tempo, os funcionários da operadora do gasoduto Nord Stream perceberam uma brusca queda de pressão na tubulação de 1.200 quilômetros de comprimento que vai da Rússia à Alemanha. Logo ficaria claro que três dos quatro dutos do gasoduto Nord Stream haviam explodido. Ou seja: um elemento central da infraestrutura energética alemã e europeia havia sido danificado.

Fortes reações iniciais

Nesse ponto acabam as provas concretas de que se dispõe. Em vez disso, abriu-se um vasto campo de suposições, especulações e suspeitas. Imediatamente após a explosão, muitos apontaram o dedo para Moscou. O conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, escreveu no Twitter (atual X): “O ‘vazamento de gás’ em ampla escala do Nord Stream 1 nada mais é do que um ataque terrorista planejado pela Rússia e um ato de agressão contra a União Europeia”.

Houve declarações oficiais incisivas: “Qualquer interrupção deliberada da infraestrutura energética ativa da Europa é inaceitável e terá as mais fortes reações possíveis”, escreveu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Um ano após as explosões submarinas, ainda não se esclareceu quem está por trás dos ataques. Há investigações em andamento na Alemanha, Suécia e Dinamarca, mas muito poucas conclusões chegam a público. Isso torna ainda mais valiosas as informações já publicadas por jornalistas investigativos.

Rastros na Ucrânia

Em março de 2023, causou celeuma a conclusão de uma equipe de investigação alemã segundo a qual os indícios apontam em direção à Ucrânia, com o iate a vela Andromeda, de 15 metros de comprimento, desempenhando um papel central. De acordo com a cooperação investigativa composta pela rede pública alemã ARD e o jornal Die Zeit, cinco homens e uma mulher zarparam do porto de Warnemünde, no Mar Báltico, norte da Alemanha, em 6 de setembro de 2022, três semanas antes dos ataques. Agentes do Departamento Federal de Investigações Criminal teriam encontrado a bordo vestígios dos mesmos explosivos que foram detectados no fundo do oceano.

No início de junho, uma reportagem no jornal Washington Post corroborava essa versão: serviços de inteligência europeus e americanos foram avisados, já em junho de 2022, sobre os planos de um comando ucraniano de atacar tubulações do Nord Stream. As informações de inteligência são detalhadas, mencionando especificamente seis indivíduos, mergulhadores e um iate. A operação estaria sob comando direto do principal líder militar ucraniano, o general Valerii Zaluzhnyi, mas o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, não teria sido informado.

Após extensa pesquisa, no fim de agosto uma equipe de investigação de mais de 20 membros da revista alemã Der Spiegel e da rede pública de televisão ZDF apresentou conclusão semelhante: “Os rastros levam numa direção: à Ucrânia”.

Um dos integrantes da equipe, o jornalista Wolf Wiedmann-Schmidt, reforça: “Os investigadores não encontraram nada que provasse que a Rússia esteve por trás pelo ataque, muito menos que os Estados Unidos pudessem ser responsáveis. Não há nenhuma prova disso.”

Em fevereiro, o lendário repórter americano Seymour Hersh levantou suspeitas, numa reportagem amplamente divulgada, de que os EUA fossem responsáveis pela explosão do gasoduto. O que depõe contra Hersh é que o repórter baseou sua matéria em apenas uma fonte, anônima.

Razões para Moscou e Washington

Por outro lado, Hersh chamou a atenção para declarações à imprensa do presidente dos EUA, Joe Biden, durante a primeira visita do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, a Washington no início de fevereiro de 2022, portanto antes da invasão russa: “Se a Rússia invadir [a Ucrânia], o Nord Stream 2 não existirá mais. Vamos acabar com isso.” Outros líderes americanos fizeram declarações semelhantes.

A parceria energética entre Alemanha e Rússia era uma questão espinhosa para os EUA muito antes da guerra, assim como para a Ucrânia e outros países europeus. Por um longo período, Washington tentou impedir a construção do Nord Stream 2 e atrasou a obra consideravelmente por meio de sanções.

A Rússia, no entanto, também podia ter motivos para destruir o gasoduto: a estatal russa Gazprom já havia interrompido o transporte de gás por meio do Nord Stream 1 em meados de 2022, violando suas obrigações contratuais. Isso teria aberto a porta para exigências de indenização por parte de parceiros ocidentais. Ao destruir o gasoduto, no entanto, a Gazprom poderia invocar “motivo de força maior”, esvaziando essas reivindicações.

Crime de guerra, segundo o direito internacional

Nos termos do direito internacional de guerra, o atentado contra o gasoduto seria um ato ilegal, mesmo no contexto de um conflito militar, explica Stefan Talmon, especialista no tema : “Os dutos do Nord Stream são um projeto de infraestrutura civil. De acordo com o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, a destruição de infraestrutura civil não constitui só uma violação do direito internacional, mas até um crime de guerra.”

Fica em aberto se o caso resultará num processo. Scholz é a favor de um julgamento na Alemanha. A ministra do Interior Nancy Faeser espera que o procurador-geral encontre provas suficientes para indiciar os autores. Mas, diante dos indícios de autoria ucraniana, Wiedmann-Schmidt tem a impressão que os representantes do governo preferem evitar o assunto.

“Quer dizer, eles não podem simplesmente ignorar um crime tão grave. Mas também não podem suspender o apoio à Ucrânia numa guerra contra a Rússia. Está fora de cogitação. Portanto, aqui em Berlim, todo mundo evita como pode entrar na questão das consequências.” Enquanto isso, o Ministério Público da Suécia anunciou que deve concluir as investigações sobre o caso até o fim de 2023.

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