O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), tem aproveitado seus fins de semana ao longo deste ano para uma série de visitas a cidades do interior de São Paulo, em uma movimentação vista por aliados como antecipação da disputa eleitoral de 2026.
Entre janeiro e setembro, Padilha visitou a capital paulista e outras 24 cidades do interior. A maior parte dessas viagens foi feita em aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira). Ele tem direito ao uso desses aviões por ser ministro.
Os demais estados não receberam a mesma atenção de Padilha. Segundo sua agenda pública, o responsável pela articulação política do governo viajou no mesmo período para apenas cinco cidades fora de São Paulo: Rio de Janeiro (RJ), Maricá (RJ), Caxias do Sul (RS), Belo Horizonte (MG) e Salvador (BA).
Houve outras viagens em que ele participou de comitivas de ministros. Nesses casos, os deslocamentos não eram agendas exclusivas dele.
Procurada, a SRI disse ser natural que Padilha vá a São Paulo mais do que a outros estados, uma vez que ele é paulistano e tem sua base na região. O ministério também criticou qualquer relação das agendas com uma eventual candidatura.
Nos bastidores, aliados dizem que Padilha busca consolidar seu nome e fechar articulações políticas para se viabilizar na reeleição de 2026. Sua meta, dizem, é atingir uma votação expressiva para a reeleição como deputado federal capaz de pavimentar uma candidatura à presidência da Câmara dos Deputados.
Mas aliados não descartam que Padilha tente se colocar para o governo do estado ou para o Senado.
O atual ministro chegou a se candidatar ao governo paulista em 2014, mas amargou o terceiro lugar com 18,22% dos votos.
O futuro de Padilha, apontam petistas, depende da decisão de Lula sobre se candidatar ou não à reeleição na Presidência da República.
Se Lula sair novamente ao Planalto, a disputa para ser o postulante do PT ao governo de São Paulo ficaria entre os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Luiz Marinho (Trabalho) e o próprio Padilha. Os nomes dos ministros Márcio França (PSB) e Simone Tebet (MDB) também são lembrados para a corrida estadual.
Um outro aliado tem uma visão diferente. Ele acredita que Padilha busca ser o herdeiro político do ex-presidente do PT Rui Falcão, agora com 79 anos. Falcão foi o deputado federal do PT mais votado em São Paulo, com quase 200 mil eleitores.
A possibilidade de que Padilha esteja mirando nas bases políticas de outros nomes do PT, usando para isso a estrutura da Presidência da República, tem gerado críticas entre alguns aliados.
Deputados petistas e de partidos da base se queixam ainda que Padilha não os convida para os compromissos em São Paulo, o que costuma ser praxe. Segundo eles, o ministro com isso centraliza e não divide os ganhos políticos com essas agendas.
Reclamam também que Padilha usa o posto e a proximidade com Lula —com quem despacha quase que diariamente— para ser o nome do governo em São Paulo.
Em nota, a SRI informou que as agendas do ministro são montadas com base nos convites recebidos e acrescentou ser “natural” que a maior parte dos compromissos seja em São Paulo, considerando que Padilha cumpriu a maior parte de sua trajetória profissional e política no estado —além ter sido eleito deputado federal pelos eleitores paulistas.
A pasta também argumentou que todos os convites aceitos são estendidos para parlamentares das respectivas regiões.
“É importante destacar que é absurda a insinuação de qualquer relação entre as atividades presenciais do ministro em 2023, realizadas em nove estados do país, com qualquer candidatura a cargo majoritário”, afirmou o ministério.
“É um erro falar sobre as eleições de 2026 quando ainda existem tantos desafios a serem enfrentados pelo país neste e nos próximos anos. A prioridade do governo é colocar em prática os programas sociais, somado ao esforço de entrega de obras, que contará com a presença de representantes da SRI”, completou.
Como titular da Secretaria de Relações Institucionais, Padilha também é o responsável pelo diálogo com os demais entes da federação: municípios e estados. Mas sua principal atuação nesses primeiros meses de governo foi na articulação política, buscando construir uma base governista para Lula no Congresso Nacional.
As agendas de Padilha no estado de São Paulo variam de participação em festas populares, encontros com comunidades, eventos religiosos, inauguração de obras, visitas a universidades e uma série de reuniões com prefeitos.
No dia 25 de fevereiro, Padilha usou um avião da FAB para voar de Brasília a Campinas e na sequência foi a Jundiaí, cidade vizinha. Lá se encontrou com o bispo local Dom Arnaldo Carvalheiro Neto e participou do lançamento da Campanha da Fraternidade e Fome.
Em outra viagem, dessa vez para a capital, o ministro visitou a comunidade de Heliópolis, a maior favela de São Paulo, onde se encontrou com lideranças e discursou para moradores.
O ministro também usou um avião da FAB para viajar em agosto para Barretos, onde se reuniu com a prefeita bolsonarista Paula Lemos e visitou a Festa do Peão.
Outras cidades paulistas visitadas foram Ribeirão Preto, Araçatuba, Araraquara, municípios da Baixada Santista, Americana, Piracicaba, entre outras.
O ministro também esteve recentemente em Marília, Ourinhos e Assis. Em algumas dessas viagens, Padilha ainda participou de reuniões com dezenas de outros representantes de municípios menores.