Depois de Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, do grupo Prerrogativas e da bancada do PT, um poderoso personagem entrou na briga segundo a coluna de Malu Gaspar, no jornal O Globo, para influenciar a escolha de Lula para a chefia da Procuradoria-Geral da República (PGR): o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Lira e Lula tiveram uma conversa a sós em Nova York, em que o presidente da Câmara deixou bem claro que não apoia a indicação do subprocurador Antônio Carlos Bigonha, defendida por uma ala do PT que o vê como progressista e ligado às causas da esquerda.
Lira está entre os que temem que Bigonha seja um “Janot piorado” ou “lavajatista”, como costuma dizer o ministro do Supremo Gilmar Mendes, inimigo do ex-procurador-geral Rodrigo Janot, que defende o vice-procurador geral eleitoral Paulo Gonet. Outro ministro do STF que defende Gonet é Alexandre de Moraes.
Mas, de acordo com interlocutores do presidente da Câmara, ele considera que o PGR ideal seria mesmo Augusto Aras, que ocupou o cargo durante toda a gestão Bolsonaro e ainda trabalha para ser reconduzido.
Lira defende Aras por conta de seu esforço anti-Lava Lato e a blindagem que ele montou na PGR contra o que costuma chamar de “criminalização da política”.
E fala com conhecimento de causa, já que, na gestão Aras, a PGR resolveu “desdenunciá-lo” no âmbito da Lava-Jato, recuando de uma acusação formal de corrupção passiva por recebimento de propina de R$ 1,6 milhão da Queiroz Galvão, em troca do apoio do PP à permanência de Paulo Roberto Costa na diretoria de abastecimento da Petrobras.
Em abril passado, a PGR pediu ao Supremo o arquivamento de outra denúncia contra Lira, desta vez por esquemas de desvio de recursos na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). E, em agosto, pediu ao STF a anulação de uma investigação sobre o envolvimento de aliados do presidente da Câmara em desvios na aquisição de kits de robótica para escolas no interior de Alagoas. O pedido foi prontamente atendido pelo ministro Gilmar Mendes.
O mandato de Aras termina no próximo dia 26, e Lula ainda não bateu o martelo sobre o seu sucessor.
Segundo relatos obtidos pela equipe da coluna, Lula apenas ouviu o apelo de Lira e não deu pistas sobre quem vai escolher. Nos bastidores, porém, já começou a procurar nomes alternativos a Bigonha e Gonet, conforme revelou a colunista Bela Megale.
O presidente da República também já indicou que não quer deixar a PGR por muito tempo sob o comando de uma interina – no caso, a subprocuradora Elizeta Ramos.
Segundo a equipe da coluna apurou, Aras conta com outros apoios dentro do Parlamento, como o do presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que será responsável por marcar a data da sabatina de quem for escolhido para a PGR.
Alcolumbre, aliás, já fez chegar a Lula, por meio de intermediários, o seu endosso à recondução do atual chefe da PGR.
Mas, para aliados de Lula ouvidos reservadamente pela equipe da coluna, a inércia do procurador-geral da República na contenção dos excessos de Jair Bolsonaro e na responsabilização do ex-presidente pela desastrosa resposta à pandemia do coronavírus eliminam suas chances de recondução.
No PT, na Polícia Federal e até no STF há quem aposte que após a troca na PGR comecem a ser apresentadas denúncias contra Bolsonaro.
No entorno do ex-presidente, o temor é o de que a PGR, sob o comando do escolhido por Lula, atue alinhada ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes e mude de posição em casos como o das joias sauditas, em que Lindôra defendeu o envio da investigação para a primeira instância.