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terça-feira 12 de setembro de 2023 às 16:28h

Programa de conectividade vai integrar carros com infraestrutura de celular e de rodovias

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Os veículos que trafegam diariamente no país, mais de 46 milhões, são uma fonte enorme de dados conforme reportagem de Ivone Santana e Marli Olmos, do jornal Valor, que poderiam ser usados para melhorar o trânsito, aumentar a segurança para pedestres e ciclistas e controlar a poluição. Mas para isso o carro precisa estar conectado à internet e falar a mesma língua de serviços públicos e privados. Este cenário tem aproximado a área acadêmica da indústria.

O Rota 2030, programa de incentivos fiscais federais para investimento em pesquisa no setor automotivo, pode acelerar esse processo. “Nosso problema é utilizar essa grande massa de dados, para tomada de decisões que são praticamente instantâneas”, diz Keren Bigão Rodrigues Valadares, porta-voz da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) e responsável pelo Rota 2030 na instituição. Desde 2019, os aportes feitos no programa somam R$ 542 milhões.

“Como usar a tecnologia 5G e outras para conectar os veículos? Podemos usar esses dados para fidelização de clientes, geração de novos serviços?”, questiona. São muitas perguntas para uma demanda grande que, segundo ela, está incipiente no país.

A Fundep abriu nova etapa de investimentos, de R$ 18 milhões, para projetos de conectividade veicular. Empresas e institutos de ciência e tecnologia têm prazo até o dia 17 de setembro, para apresentar pré-propostas. A chamada pública faz parte do Rota 2030.

O Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun, sem fins lucrativos, que presta serviços a empresas e outras instituições, já aderiu ao Rota 2030. Seu projeto propõe integrar plataformas de comunicação entre todos os elos que envolvem o veículo, da fábrica que o produziu à concessionária de rodovias por onde circulará.

Nosso problema é usar essa grande massa de dados, para decisões instantâneas”
— Keren Valadares

Os pesquisadores desconhecem o potencial de adesão da frota brasileira a um sistema de conectividade integrado. Isso depende de estudos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Apenas os testes de integração das plataformas exigem investimentos entre R$ 10 milhões e R$ 12 milhões, calcula o presidente-executivo do von Braun, Dario Sassi Thober.

O executivo destaca que o total de 25 mil kms de rodovias no país deverá dobrar em cinco anos. Além disso, cita o adensamento populacional projetado pela Organização das Nações Unidas (ONU), de 70% das pessoas vivendo nos grandes centros em 2050, comparado aos atuais 50%.

Para que o sistema funcione, plataformas automotiva, de celular e de infraestrutura devem ter o mesmo padrão de comunicação.

“Uma das demandas [do mercado] é migrar a função que está no smartphone para o carro, que é um ‘grande celular’”, diz Thober. A transição pouparia investimentos adicionais nas rodovias, como câmeras, pois os próprios veículos já teriam sistema de telecomunicações, como antenas e sensores.

O professor e pesquisador Marcelo Costa, que trabalha em projeto de conectividade veicular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), chama a atenção para os ganhos sociais. Cita, por exemplo, o uso do aprendizado do sistema veicular para mais segurança a pedestres, ciclistas e demais motoristas.

Na Europa, destaca Costa, os caminhões estão sendo equipados para fazer sensoriamento ambiental, como gás carbônico na atmosfera e temperatura do ambiente. “Tem uma questão construtiva da cidade inteligente, usando o carro como um sensor ambiental”, diz.

O pesquisador Martin Gomez Ravetti, que trabalha no mesmo projeto na UFMG, garante que não haveria violação de privacidade no compartilhamento proposto. “Eu só compartilho os aprendizados”. Esse conhecimento, diz, poderia ser difundido. “Vamos criando faíscas para as empresas aproveitarem esse dinheiro [do financiamento] e vir aos editais da Fundep.”

“Os modelos de negócios desse setor [automotivo] estão mudando”, diz Ravetti, citando como exemplo a expansão dos serviços de aluguel de carros na comparação com a compra do veículo.

Hoje, o motorista consegue se conectar com o sistema multimídia do veículo via Bluetooth ou Wi-Fi, pela rede de seu celular, para acessar aplicativos e serviços. Por meio de uma etiqueta de identificação por radiofrequência (RFID), ou Tag, no carro, o usuário faz pagamento automático em pedágios ou estacionamentos. Esses serviços ainda têm baixa adesão. São 9 milhões de Tags para pagar pedágio no Brasil, onde a frota soma 46,8 milhões de veículos.

A Tag possui um chip que emite sinal de radiofrequência. Quando o veículo passa por pontos de leitura, o sistema reconhece as informações nas bases de dados oficiais. Em caminhões, por exemplo, lê documentos fiscais. Tudo isso alimenta a grande base de dados nacional.

Lançado em 2018, o Rota 2030 é conhecido pelas montadoras e grandes fabricantes de autopeças, mas ainda falta informação, sobretudo nas empresas menores que abastecem essa cadeia, segundo os pesquisadores. O desenvolvimento de certos projetos acaba envolvendo muito mais a autopeças em vez da própria montadora.

Embora o Rota 2030 já tenha investido quase meio bilhão de reais, poucas empresas buscam esse tipo de financiamento. Por isso, os pesquisadores têm visitado empresas e institutos para divulgar o programa.

A Fundep coordena três programas e projetos do Rota 2030, respondendo por mais de 50% dos projetos, explica Valadares. Do total de investimentos que já liberou, R$ 227 milhões foram para a área de ferramentaria e R$ 269 milhões para biocombustíveis e segurança veicular. A linha de conectividade, mais recente, recebeu, até agora, R$ 46 milhões. A Fundep é obrigada a captar no mínimo R$ 40 milhões por cada ciclo de programa, que dura cinco anos, ou seja, R$ 200 milhões por linha.

Para a chamada atual, as propostas finais devem ser entregues até 10 de novembro. O prazo máximo para assinatura dos projetos selecionados é 15 de abril de 2024.

A Fundep, que nasceu para apoiar a UFMG na captação de recursos para aumentar competitividade, com o tempo abarcou mais 28 institutos no país.

Atualmente, o von Braun trabalha com cinco empresas que já implantaram sistemas de conectividade e integração à infraestrutura de rodovias, com cerca de R$ 15 milhões investidos, segundo Thober. São a Prima Sole Components, Beontag, Sonda, Tecsidel e HID.

Segundo Thober, a mesma tecnologia de chip de rastreamento usada no RFID, no caso das Tags de pedágio, pode ser usada tanto no processo de produção do veículo quanto para acompanhá-lo ao longo do seu ciclo de vida.

Em algumas fábricas de carros, como a da Ford, na Argentina, a produção é mapeada por softwares, que ajudam a parar a linha se algo de errado acontecer, por exemplo. Nas ruas, a movimentação dos carros da BMW vendidos desde 2015, inclusive no Brasil, pode ser acompanhada pelo fabricante. Os dados ajudam a empresa a identificar hábitos de tempo de uso e de consumo, por exemplo.

O carro conectado, que dispensa o uso do celular, para se comunicar com as redes, já existe. Mas está disponível só em modelos de alto luxo. O BMW i7, lançado recentemente no país, já vem com pacote de 20 gigabytes de dados por mês com um ano de duração.

A evolução da conectividade do automóvel dispensa cada vez mais a intervenção do motorista. Vários modelos superluxo vendidos no Brasil são equipados com sensores conectados a sistemas que fazem com que o carro volte para a linha de rolamento de uma rodovia caso o condutor pegue no sono ao volante.

A conectividade fascina e seduz. Mas nem tudo vai funcionar se a infraestrutura viária não acompanhar a inovação.

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