O deputado federal e ex-vice-governador do estado, João Leão (PP), avaliou em entrevista ao jornal Tribuna da Bahia, que faltou “vontade” do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), para tocar o projeto da Ponte Salvador-Itaparica. “É meu amigo, fui vice dele. Faltou vontade. Porque se eu fosse o governador, já estava tocando essa obra. Não tem sentido uma obra de tamanha grandeza na Bahia [não ser construída]. Não tem dinheiro? ‘Ah, são 13 bilhões’. Coisa nenhuma. Fiz meu levantamento todo, peguei técnicos, baseado nas tabelas de reajustamento para obras de construção civil e essa obra R$ 8,8 bilhões”, declarou, em entrevista à Tribuna.
Tribuna – Quais seus projetos hoje na região do médio São Francisco?
João Leão – Estou cuidando do médio São Francisco. Entrei com um projeto para se colocar um batalhão hidroviário do Rio São Francisco, para cuidar da navegabilidade, dragar os pontos críticos e cuidar das margens. Vai fazer melhorias habitacionais em todas as casas da margem do Rio. Esses recursos serão alocados para o Exército Brasileiro, para que eles possam fazer esse tipo de trabalho.
Tribuna – Como estão os projetos referentes às usinas de cana no interior?
João Leão – Temos os projetos agrícolas. Uma delas é a usina de álcool, que já está pronta. Essa usina vai ter uma capacidade de moagem de dois milhões de toneladas de cana, para fazer álcool e açúcar. É um megaprojeto. Temos uma usina semelhante em Juazeiro, com seis mil funcionários. É a maior empregadora do estado da Bahia. Nós acabamos de construir uma ainda em fase de implantação em sua área agrícola. Ela já tem dois mil hectares de área de cana plantada. Ela vai ter algo em torno de 10 mil a 15 mil hectares, para poder chegar até quatro milhões de toneladas de cana. A usina está pronta, já tem equipamentos para moer as quatro milhões de toneladas de cana. Aí você tem o pessoal da área dos vinhos. Estamos implantando 34 vinícolas de uma vez só. Criamos uma cooperativa, trouxemos esse povo todo lá de Santa Catarina, onde você vai produzir vinhos. Eles já começaram a obra e já estão plantando uvas de vinhos.
Tribuna – O senhor chegou a mencionar o cacau…
João Leão – Tem o pessoal do cacau. Agora mesmo estou sentado com um produtor de cacau. É um dos produtores lá da região. Tem um grupo israelense que está plantando cacau e que quer ocupar grandes áreas. É um negócio muito grande. É uma nova fronteira agrícola da Bahia e do Brasil. Uma grande empresa quer implantar seis mil hectares naquela região. Estamos fazendo um novo tipo de plantio: é o cacau a pleno sol. No sul da Bahia, você planta cacau sombreado, embaixo das árvores. No leste da Bahia, já estamos plantando cacau sombreado com bananeira. Agora, em Barra, estamos plantando a pleno sol. É um grupo de especialistas, em parceria com a Embrapa, e a coisa está indo muito bem.
Tribuna – De que forma todos esses investimentos vão beneficiar essas regiões, principalmente do ponto de vista das carências da população? Há uma perspectiva de ampla geração de emprego?
João Leão – Ainda ontem sentei com doutor Marcelo [Moreira], presidente da Codevasf, para nós fazermos um projeto de irrigação em Igarité. Você tem uma área que é de um proprietário, que está disposto a cedê-la para uma cooperativa fazer esses implementos. Temos também um projeto de reforma agrária lá em Igarité. Estamos também criando uma parceria com um grupo árabe, que já esteve lá e viu a possibilidade de construir um frigorífico para abater 1 milhão de caprinos por ano. Já tem um grupo português que já está criando bovinos e que querem construir um frigorífico de suínos.
Tribuna – O senhor acha que essa crise de violência pode afetar o desenvolvimento da Bahia?
João Leão – Disse até outro dia que, esse grupo que está chegando agora, o Comando Vermelho, porque estão vendo que na Bahia não tem segurança. Eles entraram em Goiás e o governador colocou todo mundo para fora. Então, vieram para a Bahia. A polícia da Bahia é excepcional. Agora, ela precisa de segurança jurídica. Hoje, o soldado fica com medo de enfrentar os bandidos. Porque não existe uma segurança por parte do Governo, por parte da Justiça, da promotoria pública… O governador precisa sentar com a Justiça, com os desembargadores, com os promotores de Justiça… E nós precisamos agir. O governador precisa ser governador. Precisa ter autoridade suficiente para dizer ‘na Bahia, não’. Gosto muito do governador. Como pessoa humana, acho sensacional. Agora, ele não estava preparado para exercer o cargo que ele está exercendo.
Tribuna – Como o senhor avalia o governo Lula até agora?
João Leão – Os governos federal e estadual estão sendo governos de apagar incêndio. Agora mesmo estão apagando incêndio na Câmara Federal, oferecendo Ministério do Esporte, a Caixa Econômica… Apagar esses incêndios dos parlamentares. Aí tem outro problema na área de segurança pública… Os governos federal e estadual têm que se mexer. O Brasil está virando a Meca do banditismo. Nós precisamos realmente ter um governo que diga ‘não, aqui no Brasil e da Bahia não vai ter isso’.
Tribuna – E, concretamente, o que o senhor acha que precisa ser feito?
João Leão – Pedir para a Força Nacional vir para cá e mandar esse povo para fora. Pedir a Força Nacional para isso. Não é intervenção no estado, não. A Força Nacional é colaboradora. Não podemos entregar a Bahia aos bandidos. Fizeram esses dias no Calabar e o cara cadastrando família por família. Virou IBGE o banditismo. É o bandido informatizado.
Tribuna – Sobre a Ponte Salvador-Itaparica, o senhor acha que vai sair do papel?
João Leão – Continuo acreditando no meu sonho. Há 15 dias tivemos uma reunião de bancada e eu coloquei isso para a bancada inteira: esta ponte é de uma importância imensa para a Bahia. Como? Ela vai trazer o desenvolvimento econômico para a Bahia. Não é só a ponte. Ela é uma BR-420. O Governo Federal pode colocar recursos nessa ponte. E, no entanto, não vi essa obra entrar no PAC. Modéstia à parte, fui eu que criei o PAC. PAC é o PPI. PAC é o nome fantasia. Mas a fantasia passou por cima da Bahia e não entrou absolutamente nada da Bahia. O que precisamos é alocar essa ponte no PAC e fazer a coisa acontecer. As duas empresas que ganharam a concorrência são as duas maiores empresas. Daqui a pouco elas vão embora. Tem sete anos que essa obra começou. E até hoje nada. Projeto pronto, tudo pronto. Só falta o governo se mexer. Acho que faltou vontade do ex-governador da Bahia [Rui Costa]. É meu amigo, fui vice dele. Faltou vontade. Porque se eu fosse o governador, já estava tocando essa obra. Não tem sentido uma obra de tamanha grandeza na Bahia [não ser construída]. Não tem dinheiro? ‘Ah, são 13 bilhões’. Coisa nenhuma. Fiz meu levantamento todo, peguei técnicos, baseado nas tabelas de reajustamento para obras de construção civil e essa obra R$ 8,8 bilhões. Você já tem depositado R$ 600 milhões da Desenbahia. E até agora nada. Precisa colocar uma pessoa para tomar conta no governo, porque o cara que cuidava disso era Marcus Cavalcante. Rui pegou Marcus Cavalcante e acabou. Os secretários, se quiserem conversar comigo, explico tudo bonitinho.
Tribuna – Qual vai ser a postura do PP na Bahia e em Salvador daqui para a frente?
João Leão – Continua como está para ver como é que fica.