Os partidos que comandam ministérios contam com instrumentos poderosos — como programas oficiais, verbas públicas e cargos — para melhorarem seu desempenho nas urnas. Quanto mais recursos e capilaridade tem uma pasta, maior o seu potencial eleitoral. Esse foi um dos motivos segundo Daniel Pereira, da Veja, que levaram Lula (PT) a resistir à pressão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do partido dele, o PP, para que André Fufuca assumisse o Ministério do Desenvolvimento Social, que é responsável pelo Bolsa Família e pelo pagamento de benefícios de assistência social.
Houve consenso no entorno presidencial de que o Bolsa Família sempre será creditado a Lula nacionalmente, mas que, se o PP assumisse a pasta, poderia aumentar sua chance de eleger prefeitos e vereadores em 2024, colhendo frutos em tese reservados ao PT. Seria um enorme contrassenso tirar um ministério estratégico e seus dividendos eleitorais de mãos petistas para entregá-los a um grupo que até o ano passado apoiava Jair Bolsonaro (PL).
O Ministério do Desenvolvimento Social foi o segundo pedido do Centrão. O sonho de consumo inicial do grupo era assumir o Ministério da Saúde, que conta com um orçamento de quase 190 bilhões de reais, centenas de cargos e, pelas regras atuais, tem de receber uma cota mínima das indicações de gastos feitas por deputados e senadores. Só neste ano foram empenhados mais de 11 bilhões de reais em emendas pela pasta.
O Centrão já tinha até um substituto para a ministra Nísia Trindade — o deputado licenciado Doutor Luizinho, conhecido braço-direito de Lira e secretário de Saúde do Rio de Janeiro. O grupo alegava que a ministra atrapalhava a relação dos deputados com o governo ao dificultar a liberação de recursos herdados do antigo orçamento secreto. A pressão não surtiu efeito, diz a revista.
Sabedor do que estava em jogo, Lula não abriu mão da joia da coroa, da mesma forma que segurou firme o petista Wellington Dias no Ministério do Desenvolvimento Social. O orçamento bilionário da Saúde continuará a ser executado com o carimbo do PT, que espera recuperar terreno nas eleições municipais de 2024.