segunda-feira 23 de dezembro de 2024
Foto: Divulgação
Home / DESTAQUE / 10 anos: Jirau se torna fundamental ao sistema elétrico, mas ainda desperta críticas
sexta-feira 8 de setembro de 2023 às 16:39h

10 anos: Jirau se torna fundamental ao sistema elétrico, mas ainda desperta críticas

DESTAQUE, NOTÍCIAS


Ao completar dez anos de operação comercial, a hidrelétrica de Jirau se tornou, segundo especialistas do setor, fundamental para a segurança energética do Brasil e para a modicidade tarifária dos consumidores. Mas ainda desperta críticas dos ambientalistas. Com 50 unidades geradoras, a usina tem capacidade instalada de 3.750 megawatts (MW) e faz parte do complexo do Rio Madeira, há cerca de 120 quilômetros de Porto Velho, em Rondônia, além de ser responsável por suprir 2,6% do consumo de eletricidade do país com energia renovável.

Neste período, segundo Robson Rodrigues, do jornal Valor, a quarta maior hidrelétrica 100% brasileira, produziu mais de 128 milhões de megawatt-hora (MWh) de energia, o que em equivalências energéticas seria suficiente para abastecer toda a região Norte por mais de dois anos, além de contribuir com mais de R$ 700 milhões em compensações financeiras pelo uso dos recursos hídricos. Esses recursos foram destinados ao governo federal, ao Estado de Rondônia e ao município de Porto Velho.

A usina utiliza a tecnologia fio d’água, ou seja, sem a necessidade de formação de extensos reservatórios, pois utiliza turbinas do tipo bulbo, que são unidades geradoras instaladas na posição horizontal, e foi uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Contudo, em épocas com baixa vazão do Rio Madeira, a geração energia é reduzida. Mesmo sem a necessidade de reservatórios grandes, os ambientalistas alegam que há efeitos negativos sobre o meio ambiente.

O ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Edvaldo Santana, lembra que usinas construídas na região amazônica sempre serão questionadas pela sensibilidade socioambiental, sejam elas com ou sem reservatório. Santana foi o relator do processo de leilão e quando a usina foi adjudicada ele estava como diretor-geral interino da Aneel. O especialista avalia que Jirau é fundamental para a segurança energética e não ter reservatório ajudou a mitigar os impactos ambientais.

“É uma usina de baixo custo. Junto com Belo Monte e Santo Antônio, são as usinas que hoje têm os preços no mercado regulado com os menores custos, além de ser importante para a segurança energética”, diz Santana.

No auge de sua construção, Jirau chegou a ter 25 mil trabalhadores e passou por motins no canteiro de obras. Entretanto, o debate ambiental é o mais sensível, já que uma hidrelétrica de grande porte na região amazônica levanta a questão sobre os impactos ambientais deixados. O presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, Carlos Bocuhy, entende que o empreendimento foi realizado em uma região sensível e a área alagada de floresta foi maior do que o previsto em estudo de impacto ambiental.

“A alternativa locacional escolhida foi equivocada, porque os serviços ecossistêmicos existentes têm cada vez mais valia diante do cenário global das mudanças climáticas e perda de biodiversidade (…) A decisão de como gerar energia pode ser obtida de outras formas e em locais menos impactantes”, afirma.

À frente da usina desde 2019, o diretor-presidente Edson Silva pondera que Jirau tem hoje um portfólio de preservação e restauração ambiental no entorno de sua área de influência. O executivo lembra que a usina é certificada pela ONU como o maior projeto de energia renovável do mundo, como também tem certificações de boas práticas ambientais emitidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e certificados pela ISO 45001 em segurança e saúde.

“Jirau tem uma importância estratégica muito importante para o Sistema Interligado Nacional (SIN). O exemplo que gosto de citar é a crise hídrica de 2021: como a produção de Jirau é regularizada, ela produziu naquele ano cerca de 1850 MW médios e isso ajudou muito o Brasil. Se não fosse esta energia, talvez teríamos uma situação de suprimento de energia, talvez até um racionamento”, diz Silva.

A energia gerada é distribuída por meio do linhão de corrente contínua, que liga a subestação coletora de Porto Velho à cidade de Araraquara (SP). A usina tem como acionistas a Eletrobras/Eletrosul com 20%; a Eletrobras/Chesf com 20%; a Mitsui com 20%; e a Engie Brasil Participações com 40%.

O CEO da Engie no Brasil, Maurício Bähr, lembra da mobilização feita para tornar possível a concessão da usina com a vitória do leilão da Aneel. Segundo o executivo, Jirau fornece energia para mais de 40 milhões de pessoas e representa uma contribuição de quase 10% no portfólio global de renováveis.

“Uma cidade foi criada para atender sua implantação, foi o maior projeto trazendo a tecnologia de turbinas Bulbo, que funcionam como um submarino. As melhores memórias que eu tenho sobre sua viabilidade, trazendo energia limpa e sustentável para o Sudeste do Brasil”, frisa Bähr.

Por parte dos consumidores, o presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia e ex-diretor do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata, lembra que cerca de 70% da energia produzida pela usina é comercializada no mercado regulado, ou seja, aquele atendido pelas distribuidoras, e contribui para o barateamento da conta de luz.

Segundo Barata, o Brasil tem uma das energias mais caras do mundo por conta dos encargos e tributos. Entretanto, Jirau contribui para que o custo final aos consumidores seja mais barato. “Isso se deve pela forma como a usina foi construída e a forma que é administrada, além de ser uma energia limpa, em um contexto em que se discute a importância das energias renováveis no Brasil e no mundo”, frisa.

Veja também

Flávio Dino determina suspensão de pagamento de emendas e investigação da PF

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta segunda-feira (23) a suspensão …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!