O Complexo Eólico Tucano, instalado no município baiano de mesmo nome, que fica a cerca de 250 quilômetros de Salvador, possui um diferencial em relação a outros instalados no país: a operação é totalmente feita por mulheres.
O setor é o segundo maior responsável pela produção energética brasileira, ficando atrás apenas das hidrelétricas. São mais de 900 usinas que geram energia através do vento, 85% delas na região Nordeste.
O estado tem se destacado nesse cenário e ocupa a segunda posição no ranking nacional, com 5,6 GW de capacidade instalada em operação. São 227 complexos eólicos no território, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb).
Apesar do crescimento neste campo, a grande maioria das empresas do ramo contrata, majoritariamente, homens, sobretudo na área operacional. Essa realidade tem mudado um pouco através da empresa AES Brasil, que administra o parque e é uma das principais empresas de geração de energia renovável em atuação no país.
A iniciativa de empregar somente mulheres tem como objetivo garantir a igualdade de oportunidades em todos os níveis de atuação na empresa, conforme Juliana Oliveira, coordenadora de Usina Eólica na AES Brasil.
“Eu sempre fui uma das únicas das mulheres a complementar a operação. No início da minha carreira, não imaginava ter chefes mulheres, porque sempre foram homens”, contou.
Capacitação para funcionárias
Com o projeto de ter um complexo 100% operado por mulheres, a companhia precisou investir em capacitação, já que havia poucas profissionais no mercado. Por isso, foi implantado o Programa de Diversidade, Equidade e Inclusão, para capacitar as futuras funcionárias.
Em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), foi criada a Especialização Técnica em Manutenção e Operação de Parques Eólicos, que tem 460 horas e foi realizado de modo virtual.
O curso, gratuito e exclusivo para o público-alvo, foi realizado entre março e agosto de 2022 e formou 28 profissionais. Muitas delas foram contratadas para trabalhar no parque eólico, inaugurado no mesmo período.
A especialização contou com a participação de mulheres com formação inicial em eletrotécnica, mecânica e segurança do trabalho. Conforme Juliana, o processo seletivo recebeu centenas de currículos com candidatas de alto nível, oriundas de diversos municípios da Bahia.
“Em termos de habilidade e capacidade, as alunas sobravam, mas muitas não tinham a oportunidade de fazer um curso de capacitação em eólica para ingressar no mercado”, apontou Juliana.
Mesmo com o curso oferecido gratuitamente, mulheres que moram em Tucano e cidades vizinhas não apresentaram o perfil procurado pela empresa, na hora da contratação. A maioria das funcionárias é de Salvador, Feira de Santana, Camaçari e Serrinha.
“Tucano é uma cidade muito pequena, não tinha mulheres com a qualificação. A gente acredita que a presença de um complexo eólico em um local desses estimula as mulheres a estudarem, a se qualificarem”, contou Juliana.
“Hoje em dias tem cursos EAD e a gente já soube que muitas meninas da região estão fazendo cursos em eletrotécnica e mecânica. Creio que em pouco tempo essa demanda seja absorvida”.
‘Confiança em nós mesmas’
A primeira operadora de turbinas eólicas do Complexo Eólico de Tucano foi a jovem Lysara Pinheiro, de 24 anos. Nascida em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, ela sempre quis trabalhar no setor industrial, porém, nunca pensou em fazer parte de uma empresa do setor, tampouco com um quadro funcional totalmente feminino.
“Sempre tive a perspectiva de trabalhar na indústria, mas não em complexo eólico, porque não era um tema muito comentado. O ‘boom’ das renováveis me fez pensar na possibilidade, mas nunca pensei em um complexo eólico 100% feminino”, disse.
Lysara lembrou que, do setor eólico, “só sabia que era um meio de geração de energia através do vento”. Com a oportunidade do curso, ela viu surgir novas perspectivas profissionais e experiências – como, por exemplo, subir em uma máquina de 115 metros de altura.
Segundo Lysandra, trabalhar em uma empresa com operações 100% femininas faz com que ela tenha mais segurança em expor opiniões e tratar assuntos que talvez não abordasse, se estivesse em minoria em um grupo.
“Nunca tinha trabalhado em um ambiente 100% feminino. Esse fator faz com que a gente possa ter mais confiança em nós mesmas para expor temas que talvez, se a gente estivesse em um ambiente masculino, nem falaria. Sinto que a gente tem mais abertura para tratar dos assuntos que a gente precisa”, afirmou.
Ainda em implantação, o Complexo Eólico Cajuína, localizado em Lajes, no Rio Grande do Norte, terá o mesmo modelo operacional, devido ao sucesso dos trabalhos na Bahia. Neste momento, a AES tem aplicado o programa de capacitação exclusivo para mulheres no estado potiguar, que lidera a geração de energia eólica no Brasil.
Em Tucano, o complexo já está em funcionamento há mais de um ano, mas deve operar na totalidade até o fim de 2023. Oequipamento, que terá capacidade para gerar 322 megawatts (MW) de energia limpa.
- O projeto, praticamente concluído, conta com 35 aerogeradores de um total de 52 aerogeradores, ou seja 67% em operação comercial;
- A estimativa é que o Complexo esteja 100% operacional ainda neste terceiro trimestre de 2023. Nos primeiros seis meses deste ano, Tucano gerou 216 GWh;
- Atualmente o Complexo Eólico Tucano conta com 11 colaboradoras em seu quadro de funcionários, sendo 100% em áreas operacionais.
Na Bahia, além do Complexo Eólico Tucano, a AES Brasil também é responsável pelo Complexo Eólico Alto Sertão II, localizado na região sudoeste do estado, nas cidades de Caetité, Guanambi, Igaporã e Pindaí, que tem parques com 230 torres eólicas e capacidade instalada para gerar 386,1 MW de energia.
Além de ser uma opção renovável economicamente competitiva, a energia eólica é aliada para a agenda de sustentabilidade, cada vez mais presente nas organizações, como forma de mitigar a emissão de carbono e evitar a poluição ambiental.
O Brasil registrou, no primeiro trimestre de 2023, a maior produção de energia limpa dos últimos 12 anos, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), e a expectativa do Ministério de Minas e Energia é de que o setor continue em expansão.
Na Bahia, até 2025, mais de R$ 50 bilhões devem ser investidos com a implantação de 63 usinas eólicas, segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE).