Advogados e juristas do Prerrogativas, grupo de influentes nomes do Direito que apoiou abertamente a campanha de Lula em 2022, fizeram um “pacto de silêncio” sobre a postura definida como “conservadora” do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF) em suas primeiras votações na Corte. Relatos feitos a Jan Niklas , do jornal O Globo, por advogados próximos ao presidente da República mostram que os votos de Zanin caíram como uma bomba na turma — que se define como de esquerda politicamente.
O grupo, que costuma se posicionar sobre as questões mais prementes da política nacional, preferiu “não bater em Zanin para não piorar o clima”, segundo contou um advogado. Diante da repercussão negativa entre membros da base do governo e apoiadores que criticaram abertamente o primeiro nome escolhido por Lula para o Supremo neste mandato, integrantes do Prerrogativas preferiram atuar nos bastidores para diminuir a temperatura das reações.
Somente nesta semana, o novo ministro do STF votou contra a descriminalização da maconha e a equiparação das ofensas contra LGBTQIA+ à injúria racial. Um jurista próximo a Lula afirmou ao O Globo que o clima no grupo é de “constrangimento” e que não há como “defender essas posturas”.
Apesar do incômodo, as decisões do magistrado não chegaram a surpreender os juristas. Segundo um integrante do Prerrogativas, o perfil “de direita” de Zanin era conhecido desde os tempos em que ele cursava Direito na PUC-SP, universidade onde o magistrado se formou.
Apesar de alertas feitos a Lula sobre a falta de conhecimento de posicionamentos que Zanin adotaria uma vez no STF em relação a questões caras à esquerda, membros do grupo sempre defenderam a livre escolha do presidente para a cadeira do Supremo. O jurista ganhou a confiança do petista ao atuar em seus processos na Lava-Jato e pelo seu perfil garantista.
Há três semanas como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Zanin também gerou incômodo no campo da esquerda ao ser favorável à condenação de dois homens que furtaram objetos com valor inferior a R$ 100. Além disso, votou para derrubar a regra que impedia juízes de julgar casos em que as partes sejam clientes de escritórios nos quais atuem advogados que sejam seus parentes.